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SERTÃO DAS MEMÓRIAS

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NO TEMPO DA LAMPARINA
II VOLUME DE MEMÓRIAS
DE UM MENINOSERTANEJO


Pré-lançamento do novo livro de Arievaldo Vianna, neste sábado, 26/05, em sessão da Academia Canindeense de Letras.

Data: 26 de maio de 2018
Local: Auditório da CDL de Canindé
Horário: a partir das 9h
Entrada aberta ao público.
Informações: arievaldoviana@gmail.com.br




O sertão das nossas memórias

“No tempo da lamparina – Memórias de um Menino Sertanejo” é o título do novo livro de Arievaldo Vianna, espécie de continuação do livro “Sertão em Desencanto” lançado em maio de 2016. Como nas antigas estórias de Trancoso, em que fabulosos tesouros são desenterrados, Arievaldo Vianna abre, nesta obra, os baús da própria memória, e tira de lá um mundo de vivências que retratam não apenas suas experiências individuais, mas todo o quadro de um sertão desconhecido das novas gerações.
Já para os que, como ele, nasceram naquela parte do mundo nos anos 1960 – e que, portanto, viveram no mesmo cenário e em circunstâncias semelhantes – este livro tem o condão de os transportar instantaneamente para aquela realidade de cores fortes e sons marcantes...
Foi assim que ao ler avidamente cada página pisei novamente na areia fria do riacho à sombra dos pés de oiticica, ouvi os bandos de capotes no terreiro, senti o cheiro do ferro a brasa, da folha verde de marmeleiro e da cinza de fogão a lenha que se misturava aos objetos do precioso monturo... ouvi o tilintar dos chocalhos pesados das vacas, e dos mais delicados, das ovelhas, sendo tangidas nas capoeiras, pelo familiar aboio dos vaqueiros...
Percorri o corredor da casa de fazenda, abri o caixão da farinha e vi, na despensa, a prateleira dos queijos e os baús de redes lavadas e cheirando a sol, prontas para receber hospitaleiramente qualquer viajante que chegasse, a qualquer hora do dia ou da noite.
O valor de obras como esta ultrapassa em muito o papel de reavivar memórias familiares. Este livro é o retrato histórico de uma época, o que enriquece o conhecimento que se tem a respeito da humanidade, cuja jornada é a somatória de cada vivência, cada saber particular e de grupos ou comunidades.
Assim, nas memórias bem-humoradas de um menino atento ao mundo à sua volta, vêm à tona tradições e práticas que se perderam completamente ou estão em vias de desaparecer, como o trabalho artesanal do curtidor de couro.
São muitas histórias, boas de contar, de ler e de ouvir, pelos que as viveram e pelos que nunca imaginaram que tal mundo possa ter existido.

Ana Rita Araújo (jornalista)




Soneto de Jorge de Lima

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Após ler os primeiros capítulos do meu novo livro "No tempo da lamparina", o amigo e conterrâneo (de Madalena-CE), Dr. Antônio Mesquita do Bomfim, advogado e diretor do Sindicato dos Fazendários - SINTAF, enviou-me este belo soneto do poeta alagoano Jorge de Lima:

Lamparina
Jorge de Lima


Põe azeite na tua lamparina
Para que a treva eterna se retarde.
A tarde há de ensombrar a tua sina
E a Morte é indefectível como a tarde.

Observa: a sua luz não tem o alarde,
Que as combustões de súbito confina.
O fogaréu indômito ilumina,
Mas, quase sempre, em dois instantes arde.

A lamparina, entanto, muito calma,
— Luz pequenina, que parece uma alma,
Que à Grande Luz celestial se eleva –,

Espera nesse cândido transporte,
Que, extinto sendo o azeite, chegue a Morte,
Que a luz pequena para a Grande leva.


Publicado originalmente no Jornal do Comércio, Maceió, 26 set. 1917
Em: Poesias Completas, Jorge de Lima, vol. I, Rio de Janeiro, Cia. José Aguilar Editora: 1974.p. 52




RECADO PRO TONICO

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Patrícia, Tonico, Pedro Uchoa e Arievaldo Vianna

UM BREVE RECADO PARA O MEU AMIGO TONICO MARREIRO

Foi com um misto de surpresa, apreensão e pesar que recebi a infausta notícia sobre o estado de saúde do amigo Tonico Marreiro, radialista, poeta, escritor e folclorista dos Sertões de Canindé. Após submeter-se a uma delicada cirurgia, Tonico entrou em estado de coma e sobrevive por meio de aparelhos. As informações mais recentes, colhidas junto a alguns familiares, dizem que, segundo a avaliação médica, essa situação é praticamente irreversível. Conhecendo a garra e a vitalidade desse menino de quase 75 anos de idade, eu não me surpreenderia caso o nosso Tonico desafiasse os diagnósticos da Ciência e reaparecesse com o bom humor de sempre, contando que durante esse estado de letargia havia conversado com o Bunaco, o Homerinho, o Pierre Mesquita, e ainda por cima mangando do seu compadre Toinho Walberto, dizendo que pretende passar mais uns quinze ou vinte anos aqui na terra, para somente fazer a viagem derradeira na sua companhia.
Conheço Tonico há mais de trinta anos, desde quando dei os meus primeiros passos no meio radiofônico. Para ser mais exato, antes mesmo de ingressar na antiga Rádio Uirapuru de Canindé. É que o Tonico me levou, ainda meninote imberbe, para uma apresentação no programa Ceará Caboclo, de Carneiro Portela. E nessa caravana foi também o Coral do Frei João Pinto, o pessoal da Banda de Música do saudoso maestro Jota Ratinho, os poetas Gonzaga Vieira e Natan Marreiro, além do compositor Jota Batista, dentre outros. Era uma pequena amostra da arte e da cultura do seu amado Canindé que aparecia diante das câmeras da antiga TVE (TV Educativa) hoje TVC (TV Ceará). Passou-se algum tempo. Depois fomos colegas de prefixo nas rádios Jornal de Canindé AM, Rádio São Francisco de Canindé AM e Rádio Cidade AM de Fortaleza-CE.



Ao longo dos tempos, apesar de pequenas e eventuais divergências, sempre mantivemos um espírito de amizade, camaradagem e de colaboração mútua, interessados que somos pela boa música, pela cultura sertaneja e pelas tradições de Canindé e demais municípios da Região Central do Ceará. O anedotário local era o principal tópico de nossas conversas e sempre que nos encontrávamos ele desfiava um excelente repertório de figuras inesquecíveis como Miguel Carpina, Barros dos Santos, Silazinha, Monte Pintor, Antonio da Gunda etc. – figuras que nem cheguei a conhecer, e também os “tirados de loro” de seu saudoso pai Raimundo Marreiro (que vi apenas duas ou três vezes) e do nosso saudoso Bunaco, figura com a qual andei trocando “figurinhas” em mesas de boemia do Mercado Velho e Praça Azul.


Minha esposa Juliana e meu filho Yuri, a quem o Tonico chama carinhosamente
de "meu genro", numa manhã de junho em Caridade-CE.


O MAL SÚBITO E A CRENÇA NO PODER DIVINO

Sabendo que Tonico é um homem espiritualizado, sintonizado com as energias que emanam do Plano Superior, peço apenas que se cumpram os desígnios de Deus e que tudo aconteça de acordo com a vontade do nosso Criador. O que todos nós desejamos – irmãos, esposa, filhos, sobrinhos, amigos e admiradores é que ele retorne à lida, tocando a nossa Academia de Letras, apresentando o seu programa de rádio e contando as suas divertidas lorotas nas esquinas e calçadas de Canindé e Caridade.
Pelo muito que representa para a Cultura de Canindé, Tonico é digno de todas as homenagens. Seu último bastião de resistência foi a criação da ACLAME – Academia Canindeense de Letras, Artes e Memória de Canindé, da qual sou membro, ocupando a cadeira de número 3, cujo patrono é o historiador Francisco Magalhães Karam.

Aguardemos, portanto, que os desígnios de Deus sejam cumpridos e que haja um pronunciamento oficial da família a respeito desse assunto tão delicado... Afinal, diz a sabedoria popular: “ENQUANTO HÁ VIDA, HÁ ESPERANÇA”. Por enquanto, torço pela sua volta e solidarizo-me com toda a família Marreiro e com todos os amigos e admiradores do poeta, que construiu com caráter e denodo uma bela página na história da cultura canindeense. Porém, como já foi dito, de acordo com os ditames celestes.


Tonico e Bunaco


UM POUCO DA BIOGRAFIA DO POETA

PARA QUEM NÃO SABE, informamos que seu nome de batismo é Antônio Gonzaga Marreiro, filho do poeta e folclorista Raimundo Rodrigues Marreiro e de dona Laura Gonzaga Marreiro. Nasceu em Canindé no dia 17 de junho de 1943. O apelido Tonico foi dado pelos familiares e o acompanha desde os primeiros dias de nascido.

A última vez que nos falamos, por telefone, TONICO pediu-me para lançar nesta data, 17 de junho, o meu novo livro “NO TEMPO DA LAMPARINA – MEMÓRIAS DE UM MENINO SERTANEJO” e trabalhava nesse sentido, a fim de conseguir um espaço adequado que pudesse congregar todos os membros da ACLAME e o público em geral. Diante das circunstâncias, só nos resta aguardar o que está por vir.

(ARIEVALDO VIANNA)

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O POETA E EDITOR POTIGUAR GUSTAVO LUZ AVALIA O LIVRO 

NO TEMPO DA LAMPARINA

Quem nasceu, ou por alguns momentos de sua infância, passou férias no sertão, encontrará no mais novo livro do poeta e escritor Arievaldo Vianna, as chaves para muitas dúvidas de seus costumes e gostos que por algum momento você não sabe de onde veio.
Em No tempo da lamparina, Ari, para os mais próximos, esmiúça sua infância de menino da roça, para chegar a uma conclusão cabível pelo seu amor à cultura e a literatura popular. As estórias de trancoso que escutava da velha Bastiana e sua neta Rita Maria, fez com que os impressos em folhetos parecessem verdadeiros ou, pelo menos, plausíveis, como escreveu no inicio de conversa.
Escutar estórias de almas penadas, botijas, encantamentos em pleno sertão sem eletricidade, alumiado nas noites pelas lamparinas, com sua luz bruxuleante, criando imagens imaginarias de bichos nas paredes de taipa, e acompanhado das leituras dos folhetos de sua avó Alzira, guardados na mala em cima do caixão de farinha, fez com que o poeta, caminhando em cima dos lajedos, em baixo das velhas oiticicas, já criasse seu mundo de estórias e imaginações. De onde, num futuro próximo, extraiu bagagem suficiente para escrever seus romances e seus versos rimados cheios de fantasias e humor.
Arievaldo nasceu poeta e contador de histórias, sempre bem humorado, foi na casa de sua infância onde encontrou a munição que precisava para o enriquecimento de sua memória. A prova disso está no seu O TEMPO DA LAMPARINA, livro, para a nova geração ficar informada que nem sempre o sertão foi um local de pessoas alienadas e sem matrizes culturais.
Permeado com as músicas que lhe acompanhou durante sua vida, Arievaldo consegue fazer um pequeno relado do papel que teve a música nordestina, na formação do individuo que procura a sabedoria, como um remédio para momentos difíceis de nossa existência.
No sertão do tempo da lamparina, sabia-se a hora de plantar, de colher e de armazenar. Sabia-se o que era educativo, e mesmo sem estudos, os mais velhos tinham visão de vida e de futuro. E foi assim com Arievaldo Vianna, onde seus pais, logo procuraram escola para os filhos, porque sabiam que a educação andava de mãos dadas com o bem-estar. E foi na cidade onde ele tornou-se escritor e poeta.
Essa parte não contarei, lendo as 270 paginas do volume, você saberá como o poeta conseguiu ser um dos melhores cordelistas do Brasil. Boa leitura!
Gustavo Luz - Poeta e Editor

MEMÓRIAS DA LAMPARINA

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Arievaldo Vianna

O SERTÃO DA NOSSA INFÂNCIA

Texto de Sérgio Araújo sobre o livro 'No tempo da lamparina'




Através do olhar encantado do então menino Arievaldo Viana, o sertão do tempo da lamparina ressurge com toda a sua magia - cheiros, cores, sons e imagens parecem ressoar no silêncio de nossas almas, com um encanto único. Arievaldo, como hábil escritor, soube captar nuances de um tempo em que nossa cultura era pura como água de chuva, daquelas do fim de tarde, no sertão, em que os grossos pingos batem no telhado com tanta força que parece que vão quebrar as telhas. E o cheiro que se seguia? Apesar dos carões dos mais velhos, fazíamos toda a questão do mundo de sorver aquele aroma com toda nossa alma.
Esse é o No Tempo da Lamparina, uma viagem feita no lombo do jumento, calçado com chinela de couro ou de pneu. Pros que viveram esse tempo, é um gostoso reencontro com “aquele cheiro meu”, como na música do Luiz Gonzaga, em que ele retorna pra casa e, numa madrugada dessas do sertão, reencontra seu pai no abrir da tramela de uma janela.
O dragão chamado progresso, com seus asfaltos, sua televisão e seu aculturamento encarregou-se de levar tudo isso pra longe, mas especialmente para quem teve o prazer de saborear algo desse velho tempo, não há nada mais gostoso do que reviver tudo aquilo, ainda que seja por meio da auto-hipnose a que deliciosamente nos submetemos ao ler essa obra ímpar.
Obrigado, Arievaldo, obrigado, por ter abraçado sua arte com tanto amor. Os frutos desse amor estão cativando muitos corações por aí afora. E o meu certamente é um deles.



Sérgio Luiz Araújo Silva

Sertão Lamparina

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O ELEMENTO FICCIONAL NO LIVRO 
“NO TEMPO DA LAMPARINA”, 
DE ARIEVALDO VIANNA

                 Maércio Siqueira

Quando nós, simpatizantes da análise textual e da crítica literária, nos pomos a ler um livro, procuramos nele algo como originalidade, unidade, universalidade, estilo, e principalmente a criatividade, ou invenção, que devem estar presentes principalmente nas obras com clara finalidade literária. Não é a  forma mais espontânea de se ler, é bem verdade, mas trata-se de uma leitura que expõe os valores estéticos de uma produção ou a ausência de tais valores, quando deveriam existir. Ao primeiro lance de vista, não poderíamos abordar por esse prisma o livro de Arievaldo Vianna, “No tempo da Lamparina”, recentemente lançado, uma vez que, embora sejam crônicas, estas visam à narração de eventos reais, acontecidos. Porém um olhar mais atento dessa obra vai trazendo à luz o elemento ficcional, senão exatamente como invenção de eventos, pelo menos no estilo, bastante rico, vibrátil e inteligente.

Arievaldo não se limita à narração dos fatos. São crônicas e não reportagens. Seleciona cenas, episódios, estabelece uma ordem, por importância de afeto, no quadro vivo da reminiscência. Mesmo quando esteve mais preso a datas e sequências cronológicas, como no livro anterior “O Sertão em Desencanto”, essa mesma ternura da linguagem se fez presente. O fato é que o nosso autor sabe temperar as frases, torná-las saborosas, como no seguinte exemplo: “A missiva envelopada tinha caráter de coisa séria e eu entrei em pânico. A carta do cabra velho dizia mais ou menos o seguinte(...)” (página 47). Daqui se deduz o cuidado com a língua, a busca de expressividade, a não vulgarização do idioma. Também aí se apimenta o episódio, cria uma expectativa no leitor, e isso não diz respeito ao fato em si narrado, mas já é uma característica do narrador, arrumando o caso, tornando-o mais interessante, “enfeitando”, como ele próprio diz, arte que aprendeu com parentes próximos.  No capítulo II, intitulado “Quando me entendi por gente”, essa preferência pela invenção, pelo “enfeite”, é confessada através de alguns episódios. Para ilustrar nossa abordagem, vale a seguinte passagem, referindo-se à descoberta, pelo mais velhos de sua família, de sua forma exagerada de contar as coisas, quando criança:

“Lá se ia eu remendar a história e contar como realmente acontecera: insossa, desenxabida, medíocre e sem graça. Por que não me deixaram exercitar as artes de ‘literato’, como faziam livremente o Raimundo Viana e o Gabriel? Até o João da Graça, empregado do meu avô, podia contar suas meias verdades impunemente, a céu aberto” (p. 58)

Temos razão em acreditar que essa consciência literária não era apenas uma mania ou traço de sua personalidade infantil. O adulto e escritor, podemos ver isso a todo instante em seus textos, está sempre procurando desviar-se da sensaboria da expressão comum. Os fatos, reais, ocorridos, são contados com arte, com delicadeza, revestidos dos comentários mais interessantes. Sua prosa está cheia de referências literárias e culturais, regionais, pessoais e universais. Como as coisas podem ser vistas de maneira crua, sem sabor, se o sujeito que olha tem um universo na cabeça, de lembranças, de leituras as mais variadas e eruditas? E, além disso, um bem educado senso de humor?

Não se trata, portanto de um livro de puro registro. Não notamos no autor aquela ansiedade de falar de si mesmo. Deseja nos mostrar um mundo, do qual ele fez parte e do qual agora é um porta-voz. Mas esse mundo não existe mais; para que tenhamos ideia dele, precisa ser contado, ou recontado, não em um realismo fotográfico, mas pela afetividade da palavra. E assim como a lamparina emprestava o efeito alucinatório de suas chamas às cenas que realmente aconteciam, o nosso autor empresta essa chama tremulante e vívida, para darmos uma olhada naqueles tempos idos.

Por isso, considero “No tempo da Lamparina”, bem como “O Sertão em Desencanto”, trabalho de arte literária, e que devem ser vistos como tais.

Deve ser lembrado que esse livro faz parte de um interessante projeto, sendo o segundo livro de uma desejada trilogia. O autor vem sendo bem-sucedido nas duas obras já realizadas. Quando estiver completa, então entenderemos a totalidade do que Arievaldo tem em mente. Veremos o que ele terá criado. Deus conceda a Arievaldo todas as condições para que escritor valoroso venha a concluir um plano tão importante no palco das letras cearenses.




Casa de taipa - xilogravura de Maércio Siqueira


AGRADECIMENTO A MAÉRCIO SIQUEIRA
E uma ligeira divagação sobre a sua arte como xilógrafo e escritor

Mais uma vez fico deveras comovido com a sua generosidade, não apenas com relação a acolhida ao meu trabalho (de escritor provinciano e longe dos holofotes midiáticos) mas, sobretudo, pelo fato de comentá-lo com muita propriedade e acerto. Alguns episódios desse livro "No tempo da lamparina - II volume de memórias de um menino sertanejo" são esboços de um romance embrionário que venho engendrando há alguns anos, sem coragem (e tempo) de arregaçar as mangas para trazê-lo à lume... Algo nascido no tempo do velho candeeiro sertanejo talvez fique ofuscado diante dos modernos holofotes cosmopolitas. Entretanto, a frase de Tolstoi continua me encorajando, aquela que afirma que a melhor maneira de sermos universais é falarmos de nossa aldeia. A persistência de Luiz Gonzaga em cantar os ritmos e costumes do povo nordestino sofreu os piores preconceitos, as maiores afrontas e entraves nas suas primeiras tentativas. Mas o tempo, a quem se atribui o título de Senhor da Razão, se encarregou de provar que o menino de Exu - filho adotivo do Crato (o Cratinho de açúcar, coração do Cariri), como ele, carinhosamente, se referia, estava certo!

Quem se abeira das veredas de seu chão nativo, e se abebera das fontes sertanejas, pisa na folha seca e não chia. Bebe nas cacimbas sagradas da cultura popular e rejuvenesce a cada nesga de lembrança que consegue resgatar das entranhas do cérebro ou das conversas com pessoas que estão sintonizadas com esse universo. É exatamente isso que você consegue com a sua poesia, com a sua prosa e, sobretudo, com as suas xilogravuras, tão ricas de detalhes e simbologia, tão comprometidas com esse chão sagrado em que nascemos e onde temos a graça de habitar. Até mesmo quando você reproduz uma cena bíblica, como a fuga da Sagrada Família para o Egito, eu consigo vislumbrar claramente as expressões nordestinas de um José Sertanejo, cambiteiro dos antigos engenhos de cana do Cariri cearense; de uma Maria dona-de-casa, acostumada a lavar roupa na Pedra da Batateira e outras nascentes da região e de um Menino Jesus amamentado com leite de cabra e mingau de araruta, com seus cueiros cheirando a sabão de oiticica e alfazema.

É a perfeita simbiose de Gustave Doré com Mestre Noza! O estilo impecável dos grandes gravadores europeus misturando-se com o traço inconfundível de Stênio Diniz, Damásio Paulo, Antônio Relojoeiro e Walderedo Gonçalves. Naturalmente que você tem o seu próprio estilo e não seria exagero afirmar que você já se projetou como um dos mestres da gravura do Cariri em matéria de estilo e rebuscamento, tornando-se um mestre no ofício que abraçou.

Do Maércio poeta e prosador eu não me aventuro a traçar um perfil, embora já tenha saboreado alguns de seus escritos. É que não tenho a pretensão de ser crítico literário, porém, como leitor, asseguro que gostei, aprovei e recomendo. É uma escrita que tem o mesmo sabor de uma rapadura batida ou de um arroz temperado com piqui.


Arievaldo Vianna

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No Tempo da Lamparina

(Arievaldo Viana em busca do tempo vivido)

Recebi com o atraso costumeiro dos correios algumas semanas atrás o livro No Tempo da Lamparina, do grande amigo Arievaldo Viana, o segundo de uma trilogia sobre suas memórias de infância, que se iniciou com o Sertão em Desencanto. E melhor forma não poderia ter escolhido o poeta para marcar a passagem do seu cinqüentenário que a produção dessa trilogia, que a julgar pelos dois primeiros volumes, já nos põe a esperar ansiosos pelo terceiro tomo.
Escacaviando os caminhos das lembranças em busca do tempo vivido, tendo a luz da Lamparina como guia, nas brenhas mais remotas da memória, o novo livro de Arievaldo Viana nos apresenta o reino encantado do sertão de sua infância. Sertão saudoso, quase em extinção das ‘mulher séria e dos homem trabalhador’ do cantar inconfundível de Luiz Gonzaga; além disso o memorialista relata seu processo de formação como leitor de cordéis, os causos de sua família, a sua difícil e dolorida migração para Fortaleza quando ainda adolescente viria a encontrar o vasto mundo. E por fim, elenca os perfis de poetas populares que construíram seu imaginário como: Lucas Evangelista, Gonzaga Vieira, Alberto Porfírio e outros. Fazendo com isso do livro No Tempo da Lamparina um retrato profundo do gosto de vida no sertão do Nordeste brasileiro nas décadas de 70, 80 e 90 no final do século XX.
Na prosa do escritor assim como nos seus cordéis aprecio a clareza da linguagem e a fluidez dos textos, e é claro, aprecio o senso de humor, à moda dos cearenses, sempre associado à inteligência e refinado. Com esse trabalho Arievaldo Viana firma-se de modo definitivo como um grande memorialista do panteão sagrado de nossas letras alencarinas, ao lado de Gustavo Barroso, de quem, diga-se de passagem, é leitor contumaz.

Bruno Paulino - Escritor

LUTO

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Morre jornalista e escritor Orlando Tejo
Paraibano, natural de Campina Grande, Tejo é autor do livro "Zé Limeira: o poeta do absurdo"


O jornalista, advogado, ensaísta e poeta, Orlando Tejo, autor do famoso livro “Zé Limeira: o poeta do Absurdo” faleceu neste domingo (01/07). Aos 83 anos, natural de Campina Grande, na Paraíba, ele é autor do livro Zé Limeira, Poeta do Absurdo, editado no início dos anos 80, que conta a história do cordelista, cantador bom de viola, mais mitológico do Brasil.

Tejo testemunhou ainda jovem muitos dos desafios do qual Limeira participou. Chegou a registrar algumas gravações de voz, que não existem mais. O que conseguiu memorizar colocou no papel e editou o livro. Na obra, ele relata como conheceu Zé Limeira, em 1940, e conta alguns causos, entre eles a história de que o governador de Pernambuco, Agamenon Magalhães, promovera no palácio um encontro de repentistas com a participação de Zé Limeira. Muitos acham que Zé Limeira não existiu, que era uma lenda criada por Orlando Tejo.

O governador Paulo Câmara, por meio de sua assessoria de Comunicação, lamentou a morte do jornalista e escritor Orlando Tejo. "Quero apresentar meus sinceros sentimentos de pesar pela morte do jornalista, ensaísta e poeta Orlando Tejo. Sua longa produção intelectual expressa a importância para a cultura de Pernambuco e do Nordeste, especialmente por sua obra seminal "Zé Limeira – Poeta do Absurdo". Minha solidariedade ao seus familiares, amigos e admiradores".

Fonte: DIÁRIO DE PERNAMBUCO http://www.diariodepernambuco.com.br

A partir de um mote sugerido pelo poeta Kydelmir Dantas, fizemos essas duas estrofes:

Segundo a filosomia
Do livro de Alan Kardec
Orlando Tejo foi beque
Na seleção da Turquia
E me disse um certo dia
Que cantou com Xeleléu
Andando de déu em déu
Leu a manchete primeira:
“ORLANDO TEJO E LIMEIRA
DOIS ABSURDOS NO CÉU”

Orlando Tejo brigou
Com uma cobra na mata
Depois mordeu a batata
Foi assim que escapou
Zé Limeira ainda atirou
No meio desse escarcéu
Depois que baixou o véu
Foi que viu a bagaceira
ORLANDO TEJO E LIMEIRA
DOIS ABSURDOS NO CÉU.

(Arievaldo Vianna)



XILOGRAVURA x "INFOGRAVURA"

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Ciclos Temáticos na Literatura de Cordel

Li hoje uma notícia sobre o livro Ciclos Temáticos na Literatura de Cordel, lançado pela Graciliano Ramos Editora (Imprensa Oficial de Alagoas) e escrito por Manuel Diegues Junior. Nesta obra, o autor faz uma análise dos temas mais comuns na literatura de cordel nordestina e de como esses temas são abordados por cada poeta.
A capa foi elaborada pelo artista gráfico Daniel Holgrefe, que informa o seguinte em sua página: “Fui convidado para ilustrar a capa e não dava pra fugir do tema cordel, então me baseei nas capas feitas em xilogravura de mestres como J. Borges e criei alguns personagens e ambientes. Queria mesmo era fazer uma xilogravura, na madeira e tal, mas o prazo às vezes não deixa né…” O design ficou por conta do Michel Rios.
Realmente esse desenho imitando a xilogravura, que eu costumo chamar de “infogravura”, tem ganhado muito espaço em várias publicações e outras mídias visuais, inclusive comerciais e abertura de programas de TV, mas nada como a gravura impressa a partir de uma boa matriz de madeira, já que o resultado é bem mais original. (A.V.)

PARA SABER MAIS:
Link: https://danielhogrefe.wordpress.com/2012/12/09/ciclos-tematicos-na-literatura-de-cordel/




FEIRA DO CORDEL BRASILEIRO

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ATENÇÃO! DIA 18 DE AGOSTO, SÁBADO
Na III FEIRA DO CORDEL BRASILEIRO



Novo livro de ARIEVALDO VIANNA - "No tempo da lamparina - Memórias de um menino sertanejo"

Café Luiz Gonzaga


17h – Lançamento do livro “No Tempo da Lamparina” de Arievaldo Viana (Caucaia/CE) com participação especial do multiartista Gereba Barreto (Salvador/BA)


Palco Leandro Gomes de Barros

18h – Show e lançamento do CD “Marcus Lucenna, na Corte do Rei Luiz” com Marcus Lucenna (Rio de Janeiro/RJ) – Participação especial de Tarcísio Sardinha (Fortaleza/CE) e Adelson Viana (Fortaleza/CE)





FEIRA DO CORDEL BRASILEIRO CHEGA À TERCEIRA EDIÇÃO NA CAIXA CULTURAL FORTALEZA DE 16 A 19 DE AGOSTO


 Sob a curadoria do cordelista e editorKlévisson Viana, o evento reúne a nata da Literatura do Cordel e expoentes da autêntica Cultura Popular Brasileira


De 16 a 19 de agosto de 2018 a CAIXA Cultural Fortaleza abre espaço para a III Feira do Cordel Brasileiro, na qual cordelistas, pesquisadores, xilogravadores, músicos, repentistas violeiros, emboladores, declamadores, escritores e folheteiros de várias partes do País terão um encontro marcado com todos os públicos interessados pela autêntica cultura brasileira. Com programação 100% gratuita, a feira reúne vários dos principais agentes criativos do gênero.

Serão quatro dias dedicados ao gênero literário do cordel e às artes que com ele têm afinidades. Este ano o evento homenageia dois grandes vultos da cultura nordestina: Luiz Gonzaga - Rei do Baião e o pioneiro do cordel e inspirador de “O Auto da Compadecida”, Leandro Gomes de Barros. Idealizado pelo cordelista, escritor, ilustrador e editor cearense Klévisson Viana, com realização pela AESTROFE – Associação de Escritores, Trovadores e Folheteiros do Estado do Ceará, a Feira do Cordel Brasileiro tem a cada edição encantado um número maior de pessoas.

A III Feira do Cordel Brasileiro traz o mais expressivo dessas linguagens e oferta vasta programação de qualidade e livre a todos os públicos. Vale conferir, trazer familiares, parceiros e amigos para se deixarem encantar pelas artes populares e fazer um passeio imaginário nas asas do pavão misterioso - do clássico em cordel de José Camelo de Melo Rezende ou no tapete mágico em formato de cordel do nosso cartaz, que retrata, numa mistura do Nordeste com as Mil e Uma Noites, um Aladim sertanejo na xilogravura elaborada pelo artista Eduardo Macedo, uma das revelações do cordel e da gravura popular nos últimos anos.




AMPLA PROGRAMAÇÃO EM QUATRO DIAS
Entre as atrações, o músico-cordelista Beto Brito (parceiro de Zé Ramalho e de Robertinho do Recife); o cantor, compositor, arranjador, letrista e violonista do antigo Grupo Bendegó, Gereba Barreto, e o cordelista e forrozeiro Marcus Lucena, o 'Cantador dos 4 Cantos' que acompanhado por Tarcísio Sardinha e Adelson Viana apresenta o seu mais recente trabalho. Mais uma vez, a presença do icônico cordelista, repentista e sambador Mestre Bule-Bule, que vem lançar o seu novo livro “Orixás em cordel”, em parceria com Klévisson Viana.
Ainda nos destaques das muitas atrações, os excelentes repentistas Zé Viola, Geraldo Amâncio Pereira e Guilherme Nobre, além do grupo folclórico Coco do Iguape; os cordelistas Chico Pedrosa, Vinícius Gregório, Thyelle Dias, Tiago Monteiro, Paola Torres, Olegário Alfredo, Julie Ane Oliveira, Evaristo Geraldo, Lucarocas, Valdecy Alves, Paulo de Tarso, Raul Poeta, Paiva Neves, Stélio Torquato, Rafael Brito, Arievaldo Vianna e Eduardo Macedo, cordelista e xilogravurista criador da imagem que ilustra essa edição da Feira do Cordel Brasileiro. Dentre os pesquisadores, a Feira recebe os brasileiros Rosilene Melo, Marco Haurélio, Bráulio Tavares e o português António de Abreu Freire.
Uma grande novidade será a palestra “Imagens da Ficção Científica no Cordel” com Bráulio Tavares. Conhecido pesquisador dessas duas formas literárias, Bráulio usará folhetos clássicos e contemporâneos para mostrar como cordelistas brasileiros versam sobre o tema, exibindo folhetos que abordam a viagem interplanetária, robôs-transformers, alienígenas, seres mutantes, entre outros elementos que explicitam a identificação entre as duas “literaturas da imaginação”.
Além dos shows, recitais e palestras, a Feira promove lançamentos literários, como também a exposição de obras raras e a venda de folhetos de cordel, livros, camisetas e CDs referenciais.

Oficina:
Também estarão abertas aos interessados a participação nas oficinas de xilogravura e de cordel, cujas inscrições vão de 07 a 15 de agosto de 2018, por meio dos emails encenaproducoes@gmail.com e aestrofe@gmail.com ou pelo telefone (85) 3023-3064. Cada oficina terá limite de 20 vagas.

* Mais informações também na página do evento no Facebook: https://www.facebook.com/IIIFeiradoCordelBrasileiro 



MANIFESTAÇÃO LITERÁRIA
O Ceará se perpetua como o maior pólo produtor de Literatura de Cordel desde os longínquos tempos da Tipografia São Francisco, em Juazeiro do Norte, posteriormente rebatizada de Lira Nordestina. A partir da década de 1990, essa produção se acentuou na capital do Estado, sobretudo após surgirem associações de poetas, trovadores e folheteiros, tais como o Centro Cultural dos Cordelistas do Nordeste (CECORDEL), a Associação de Escritores, Trovadores e Folheteiros do Estado do Ceará (AESTROFE), entre outras, além da consolidada casa editorial Tupynanquim Editora e da Cordelaria Flor da Serra.

Apesar do linguajar simples e informal, a literatura de cordel é, hoje, revista como importante manifestação literária, pois é compreendida como uma das nossas primeiras manifestações poéticas em língua portuguesa, tendo origem na produção oral trovadoresca. Neste sentido, a literatura de cordel é cada vez mais aceita e estudada pelas academias, e já possui a Academia Brasileira de Cordel, fundada em 07 de setembro de 1988 com sede no Rio de Janeiro.

A IIIFeira do Cordel Brasileiro, de 16 a 19 de agosto de 2018 na CAIXA Cultural Fortaleza, é uma iniciativa da AESTROFE (Associação de Escritores, Trovadores e Folheteiros do Estado do Ceará) com patrocínio da CAIXA Econômica Federal e do Governo Federal, junto ao apoio cultural da Tupynanquim Editora, Cariri Filmes, Editora Imeph, Programa A Hora do Rei do Baião e da Premius Editora..


Programação:
Teatro
14h – Solenidade de abertura com a presença dos mestres do cordel e da cantoria | Apresentação “A Saga de um vaqueiro” - Escola José Antão de Alencar Neto (Pio IX/PI)
15h – Mesa “Literatura Popular, na escola, tem lugar” com o pesquisador Arievaldo Viana (Caucaia/CE) e os professores Stélio Torquato (Fortaleza/CE) e Paiva Neves (Fortaleza/CE) – Mediação: Professor Carlos Dantas(Fortaleza/CE)

Café Luiz Gonzaga
17h – Lançamento do livro no “Tempo que os bichos estudavam” de Paulo de Tarso, o poeta de Tauá (Fortaleza/CE)

Palco Leandro Gomes de Barros
17h30 – Recital com Raul Poeta (Juazeiro do Norte/CE), Rafael Brito(Fortaleza/CE) e Pedro Paulo Paulino (Canindé/CE)
18h10 – Show interativo de voz e violão “Cante lá que eu toco cá” com o Mestre Gereba Barreto (Salvador/BA)           
19h10 – Cantoria com o Mestre Geraldo Amâncio Pereira (Fortaleza/CE) e Guilherme Nobre (Fortaleza/CE).
20h – Recital com o mestre Chico Pedrosa (Olinda/PE)
20h30 – Show com o rabequeiro e cordelista Beto Brito e Banda (João Pessoa /PB)

DIA 17 de Agosto (Sexta-feira)

Sala de Ensaio
14h – Oficina de xilogravura com os mestres João Pedro de Juazeiro (Fortaleza/CE) e Francorli (Juazeiro do Norte/CE)

Teatro
15h – Aula-espetáculo “Imagens da Ficção Científica no Cordel” com o escritor, compositor e estudioso Braulio Tavares (Rio de Janeiro/RJ)

Café Luiz Gonzaga
16h20 – Lançamento dos livros “Rapunzel em Cordel” e “A onça com o bode” de Sergio Magalhães e Kátia Castelo Branco (CE)

Palco Leandro Gomes de Barros
17h – Recital com os poetas Evaristo Geraldo da Silva (Alto Santo/CE), Julie Oliveira (Fortaleza/CE), Lucarocas (Fortaleza/CE), Antônio Marcos Bandeira (Fortaleza/CE) e Ivonete Morais (Fortaleza/CE)

Café Luiz Gonzaga
18h – Lançamento do livro em cordel “Andei por Aí - Narrativas de uma Médica em Busca da Medicina (2ª edição - revista e ampliada)”, de Paola Tôrres (Fortaleza/CE) 

Palco Leandro Gomes de Barros
18h20 – Apresentação musical de Paola Tôrres (Fortaleza/CE)   
19h – Recital com o mestre Chico Pedrosa (Olinda/PE) e Rafael Brito (Fortaleza/CE), com participação especial do cordelista Beto Brito (João Pessoa/PB)

Café Luiz Gonzaga
20h – Lançamento do livro “Orixás em Cordel”, do Mestre Bule-Bule (Camaçari/BA) e de Klévisson Viana (Fortaleza/CE)
20h20 – “Chulas, Sambas e Licutixos” com o mestre Bule-Bule (Camaçari/BA)

Dia 18 de agosto (Sábado)
Sala de Ensaio
14 – Oficina de cordel com Rouxinol do Rinaré (Fortaleza/CE)
Teatro
15 – Mesa “Cordel – Memória e Contemporaneidade” com a pesquisadora do IPHAN Rosilene Melo (São Paulo/SP), o cineasta Rosemberg Cariri (Fortaleza/CE) e o advogado, documentarista e cordelista Valdecy Alves (Senador Pompeu/CE) e o jornalista Alberto Perdigão. Mediação: Cordelista Eduardo Macedo (Fortaleza/CE)

Café Luiz Gonzaga
17h – Lançamento do livro “No Tempo da Lamparina” de Arievaldo Viana (Caucaia/CE) com participação especial do multiartista Gereba Barreto (Salvador/BA)



Palco Leandro Gomes de Barros
17h40 – Recital com o garotinho Moisés Marinho (Mossoró – RN)
18h – Show e lançamento do CD “Marcus Lucenna, na Corte do Rei Luiz” com Marcus Lucenna (Rio de Janeiro/RJ) – Participação especial de Tarcísio Sardinha (Fortaleza/CE) e Adelson Viana (Fortaleza/CE)

Café Luiz Gonzaga
19h – Lançamento do livro “Poesia em gotas diárias” de autoria de Padre Tula (Edições Karuá)

Palco Leandro Gomes de Barros
19h30 – Declamação com o mestre Chico Pedrosa (Olinda/PE)
20h – Cantoria com Zé Maria de Fortaleza e Tião Simpatia.
20h40 – Apresentação com os Mestres Bule-Bule e Gereba Barreto
DIA 19 (Domingo)
Teatro
14h – Mesa “Cordel Brasil-Portugal: o fio que nos conecta” com os pesquisadores Marco Haurélio (São Paulo/SP) e António de Abreu Freire (Portugal). Mediação: Professor Oswald Barroso (Fortaleza/CE)
Café Luiz Gonzaga
16h –  Lançamento dos cordéis “As histórias das plantas”, “Padagogia do oprimido” de Francisco Paiva Neves (Fortaleza/CE) e do “Amor no tempo de chumbo” por Nando Poeta (Natal/RN)
Palco Leandro Gomes de Barros
16h30 – Recital da despedida com Raul Poeta, Evaristo Geraldo da Silva, Leila Freitas, Arievaldo Viana, Bule-Bule, Lucarocas e Chico Pedrosa
17h30 – Canções de viola com o mestre Zé Viola (Teresina/ PI)
Pátio externo
18h30 – Coco do Iguape (Iguape/CE)

EXPOSITORES:

  1. ABLC (Rio de Janeiro/RJ)
  2. AESTROFE (Fortaleza/CE)
  3. Arievaldo Viana (Caucaia/CE)
  4. Beto Brito (João Pessoa/PB)
  5. CECORDEL (Fortaleza/CE)
  6. Chico Pedrosa (Olinda/PE)
  7. Cordelaria Flor da Serra (Fortaleza/CE)
  8. Edições Patabego (Tauá/CE)
  9. Editora Coqueiro (Olinda/PE)
  10. Eduardo Macedo (Fortaleza/CE)
  11. Evaristo Geraldo da Silva (Alto Santo/CE)
  12. Francisco Melchiades (Fortaleza/CE)
  13. Francorli (Juazeiro do Norte/CE)
  14. Geraldo Amâncio (Fortaleza/CE)
  15. Guilherme Nobre (Fortaleza/CE)
  16. Instituto Roda da Vida (Fortaleza/SP)
  17. João Pedro do Juazeiro (Fortaleza/CE)
  18. Jotabê (Fortaleza/CE)
  19. Leila Freitas (Acopiara/CE)
  20. Lucarocas (Fortaleza/CE)
  21. Nando Poeta (Natal/RN)
  22. Nonato Araújo/ Ivonete Morais (Fortaleza/CE)
  23. Olegário Alfredo (Belo Horizonte/MG)
  24. Rouxinol do Rinaré (Fortaleza/CE)
  25. Valentina Monteiro (Campina Grande/PB)
  26. Tupynanquim Editora (Fortaleza/CE)


Serviço:
III FEIRA DO CORDEL BRASILEIRO
Local: CAIXA Cultural Fortaleza
Endereço: Av. Pessoa Anta, 287, Praia de Iracema

Data: De 16 a 19 de agosto de 2018
Horários: Quinta a sábado: 14 às 21h | Domingo: 14 às 19h
Classificação indicativa: Livre

GRATUITO
Paraciclo disponível no pátio interno

Atendimento à imprensa:
Helena Félix – 
(085) 99993-4920 / pontualcomunicacao@gmail.com
Kiko Bloc-Boris – 
(085) 98892-1195 / kikobb@gmail.com
Isabelle Vieira - (85) 98871.4139 / vieira.aisabelle@gmail.com 

Assessoria de Imprensa da CAIXA Cultural Fortaleza (CE):
Camilla Lima – (85) 98642-3336| camilla.jornalismo@gmail.com
www.caixa.gov.br/imprensa | @imprensaCAIXA

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CORDEL NA BIENAL DE SÃO PAULO

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CONFIRA A PROGRAMAÇÃO DO ESPAÇO "CORDEL E REPENTE" NA 25ª BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DE SÃO PAULO NESTE LINK:

http://www.bienaldolivrosp.com.br/Programacao/Cordel-e-Repente/



ATIVIDADES QUE CONTARÃO COM A
PARTICIPAÇÃO DE ARIEVALDO VIANNA:

1 - HOMENAGEM A LEANDRO GOMES, CEGO ADERALDO, MESTRE AZULÃO E MANOEL MONTEIRO
03 agosto 2018, 14:00 - 15:30, Cordel e Repente - G100
Palestrantes: Paulo De Tarso, Klévisson Viana, Arievaldo Viana e Marco Haurélio

2 - BATE PAPO DO AUTOR COM O ILUSTRADOR SOBRE O LIVRO " O Pavão Misterioso"
04 agosto 2018, 11:00 - 12:00, Cordel e Repente - G100
Palestrantes: Jô Oliveira e Arievaldo Viana

3 - RODA DE CONVERSA: CINCO LIVROS DO POVO, A IMPORTÂNCIA DOS ESCRITOS DE CÂMARA CASCUDO PARA A HISTÓRIA DO LIVRO E DA LEITURA NAS CAMADAS DITAS POPULARES NO BRASIL.
06 agosto 2018, 14:00 - 15:30, Cordel e Repente - G100
Palestrantes: Arlene Holanda, Arievaldo Viana, Jô Oliveira e Marco Haurélio.



4 - LANÇAMENTO DO LIVRO "SANTANINHA - UM POETA POPULAR NA CAPITAL DO IMPÉRIO" E SESSÃO DE AUTÓGRAFOS

06 agosto 2018, 18:40 - 19:40, Cordel e Repente - G100

Presença dos autores: Arievaldo Vianna e Stélio Torquato Lima.


  
5 - DECLAMAÇÃO DE CORDEL E REPENTE
09 agosto 2018, 13:00 - 13:50, Cordel e Repente - G100
Declamador: Arievaldo Vianna

6 - RODA DE CONVERSA DE CORDELISTAS: A IMPORTÂNCIA DO CORDEL NA ESCOLA
12 agosto 2018, 13:00 - 14:00, Cordel e Repente - G100
Palestrantes: Marco Haurélio, Arievaldo Viana e Paiva Neves

LANÇAMENTO

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Novo livro de Arievaldo Vianna será lançado na III FEIRA DO CORDEL BRASILEIRO, na Caixa Cultural

"No tempo da lamparina - Memórias de um menino sertanejo"
Dia 18 de agosto de 2018
Programação: Café Luiz Gonzaga
17h – Lançamento do livro “No Tempo da Lamparina” de Arievaldo Vianna com participação especial do multiartista Gereba Barreto (Salvador/BA)

AGENDA

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SEGUNDA NOITE DE VIOLA
NO SERTÃO DE CANINDÉ
A noite da próxima sexta-feira, 24/08, não será apenas uma noite atraente de luar no sertão. Será também uma noite de animada cantoria de viola com os grandes poetas repentistas Geraldo Amancio e Antonio Jocélio. É o que promete o promotor do evento, Higino Luís Barros de Mesquita, proprietário da fazenda Riacho do Facão, interior de Canindé, Ceará.
É a segunda grande cantoria que Higino Luís patrocina e convida o público em geral para prestigiar a famosa dupla de violeiros. Antes da apresentação dos cantadores, será feito o lançamento do livro "No tempo da lamparina - Memórias de um menino sertanejo", de autoria do escritor e cordelista cearense Arievaldo Viana.
O anfitrião do evento avisa que a cantoria será no estilo “pé de parede”, como antigamente, com direito a bandeja para coleta dos cantadores, e também a sugestões de motes e pedidos de temas de viola pela plateia. Sintonizado continuamente com o sertão, seus costumes e tradições, Higino Luís mantém-se fiel às suas origens e é um dos maiores entusiastas da cultura popular regional.
O acesso à fazenda Riacho do Facão é feito pela BR-020, sentido Canindé-Boa Viagem. Na localidade de Santa Clara, tem início a estrada vicinal que leva até à fazenda.
Em versos, o poeta Pedro Paulo Paulino também reforça o convite:

Em 24 de agosto,
No Riacho do Facão,
Será grande a cantoria,
Muito improviso e canção,
Com dois grandes cantadores!
Convidamos os senhores
Para essa honrosa atração.

A dupla Antonio Jocélio,
Geraldo Amancio Pereira,
Dois poetas inspirados,
Repentistas de primeira,
A tradição recomenda,
Pois no pátio da fazenda
Vão cantar a noite inteira.

Higino Luiz Mesquita,
“Cabôco” bom do sertão,
É quem faz esse convite,
Com muita satisfação:
Um casal bem nordestino,
Dona Edileuza e Higino,
Será nosso anfitrião.

É este o segundo evento
Nessa fazenda afamada,
Onde a paz e a alegria
Fizeram sua morada.
Dizer isso, nem precisa,
No entanto, Higino avisa
Que lá não se paga nada.

Assim sendo, anote aí
Essa grande cantoria,
Uma noite de luar,
De viola e poesia.
Eu mesmo não vou perder,
Chego quando anoitecer
E só volto no outro dia.


PPP

* * *

CANTORIA PÉ-DE-PAREDE 
E LANÇAMENTO


Novo livro de Arievaldo Vianna será lançado sexta-feira (24/08) em Canindé

O novo livro de Arievaldo Vianna ("No tempo da lamparina - Memórias de um menino sertanejo")  será lançado na próxima sexta-feira, dia 24 de agosto, na Fazenda Riacho do Facão, em Canindé-CE. Na oportunidade, haverá uma grande cantoria “pé-de-parede” com a dupla Geraldo Amâncio e Antônio Jocélio. Essa cantoria, realizada anualmente pelo ex-prefeito Higino Luiz Barros de Mesquita, já é tradicional na região dos Sertões de Canindé. O acesso é pela BR-020 até a localidade de Santa Clara, quando o restante do percurso é feito em estrada vicinal até a fazenda.
O público geralmente ultrapassa uma média de 500 pessoas. Na tradicional cantoria PÉ DE PAREDE, com direito a bandeja, os temas e os motes são dados pela plateia.
O lançamento do livro NO TEMPO DA LAMPARINA - MEMÓRIAS DE UM MENINO SERTANEJO ocorre em ambiente muito apropriado e será logo na abertura da cantoria, por volta de 19h30min.  


RELEMBRANDO MESTRE ARIANO

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A Morte Do Touro Mão-de-Pau
(que preferiu a morte à desonra)
Poema de Ariano Suassuna
(gravação de Antônio Nóbrega)

Corre a Serra Joana Gomes
Galope desesperado:
Um touro se defendendo,
Homens querendo humilhá-lo,
Um touro com sua vida,
Os homens em seus cavalos.

Cortava o gume das pedras
Um bramido angustiado,
Se quebrava nas catingas
Um galope surdo e pardo
E os cascos pretos soavam
Nas pedras de fogo alado,
Enquanto o clarim da morte,
Ao vento seco e queimado,
Na poeira avermelhada
Envolvia os velhos cardos.

Rasgavam a serra bruta
Aboios mal arquejados
E, nas trilhas já cobertas
Pelo pó quente e dourado,
Um gemido de desgraça,
Um gemido angustiado:
- "adeus, lagoa dos velhos!
Adeus, vazante do gado!

Adeus, Serra Joana Gomes
E cacimba do salgado!
O touro só tem a vida:
Os homens têm seus cavalos"!

O galopar recrescia:
Brilhavam ferrões farpados
E algemas de baraúna
Para o touro preparados.
Seu sabino tinha dito:
- "Ele há de vir amarrado"!

Miguel e Antônio Rodrigues,
De guarda-peito e encourados,
Na frente do grupo vinham,
Montados em seus cavalos
De pernas finas, ligeiras,
Ambos de prata arreados.

E, logo à frente, corria
O grande touro marcado,
Manquejando sangue limpo
Nos caminhos mal rasgados,
Cortadas as bravas ancas
Por ferrões ensangüentados.

A serra se despenhava
Nas asas de seus penhascos
E a respiração fogosa
Dos dois fogosos cavalos
Já requeimava, de perto,
As ancas do manco macho.

Quando ele, vendo a desonra,
Tentando subjugá-lo,
Mancando da mão preada
Subiu num rochedo pardo:
Num grito, todos pararam,
Pelo horror paralisados,
Pois sempre, ao rebanho, espanta
Que um touro do nosso gado
Às teias da fama-negra
Prefira o gume do fado.

E mal seus perseguidores
Esbarravam seus cavalos,
Viram o manco selvagem
Saltar do rochedo pardo:
-"adeus, lagoa dos velhos!
Adeus, vazante do gado!

Adeus, Serra Joana Gomes
E cacimba do salgado!
Assim vai-se o touro manco,
Morto mas não desonrado"!

[aboio]

Silêncio. A serra calou-se
No poente ensangüentado.
Calou-se a voz dos aboios,
Cessou o troar dos cascos.
E agora, só, no silêncio
Deste sertão assombrado,
O touro sem sua vida,
Os homens em seus cavalos.


Baseado num poema do poeta potiguar Fabião das Queimadas



Link para youtube: https://www.youtube.com/watch?time_continue=134&v=uYgPzCPQXiU


MARCUS LUCENNA n'O GLOBO

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O jornal O Globo, no caderno Zona Norte, destaca a canção "Hino da Feira de São Cristovão (Vida retirêra)", composição do poeta MARCUS LUCENNA, gravada com a participação mais que especial de grandes nomes do forró nacional. São eles Neidinha RochaMarcelo Mimoso, Chambinho do Acordeon, Jadiel Guerra de Moura e Adelson Viana.

A foto que ilustra a matéria foi feita por mim, no Festival LULA LIVRE.

NOTÍCIA DO IPHAN

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Cordelista e folheteiro Jesus Sindeaux

Literatura de Cordel pode se tornar Patrimônio Cultural do Brasil

Entre versos, rimas e cantoria, a Literatura de Cordel é uma expressão cultural popular que abrange não apenas as letras, mas também a música e a ilustração. É um gênero literário, veículo de comunicação, ofício e meio de sobrevivência para inúmeros cidadãos brasileiros. Poetas, declamadores, editores, ilustradores (desenhistas, artistas plásticos, xilogravadores) e folheteiros (como são conhecidos os vendedores de livros) podem entrar na torcida, pois agora a Literatura de Cordel pode ser reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Apesar de ter começado no Norte e no Nordeste do país, o cordel hoje é disseminado por todo o Brasil, principalmente por causa do processo de migração de populações. Hoje, circula com maior intensidade na Paraíba, Pernambuco, Ceará, Maranhão, Pará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo. Em todos estes estados é possível encontrar esta expressão cultural, que revela o imaginário coletivo, a memória social e o ponto de vista dos poetas acerca dos acontecimentos vividos ou imaginados.


Poeta Lucas Evangelista, um dos mais antigos no ramo


A Literatura de Cordel no Brasil é o resultado de uma série de práticas culturais em que os cantos e os contos – e suas variantes – constituem as matrizes a partir das quais uma série de formas de expressão se forjou. Na formação da cultura brasileira, da qual a literatura de cordel faz parte, tanto indígenas quanto africanos e portugueses adicionaram práticas de transmissão oral de suas cosmologias, de seus contos, de suas canções. A questão da harmonia sonora é muito ressaltada pelos poetas. Além das razões estéticas, há uma explicação histórica para isso. No início do século XX, quando a literatura de cordel se consolidou como um sistema editorial próprio, os poetas desenvolveram um modo particular de comercializar seus livros nos mercados e feiras livres. Carregavam consigo os exemplares e montavam uma banca em que os folhetos eram exibidos (por esse motivo os poetas da literatura de cordel também são chamados de poetas de bancada). Para atrair curiosos e compradores, os poetas costumavam cantar em voz alta trechos dos poemas, contando dramas, tragédias, romances e sátiras. No momento mais importante da narrativa – quando o desfecho da história de aproximava – o canto era interrompido e o final da história só poderia ser conhecido por aqueles que comprassem o folheto. Assim, a métrica perfeita era a condição para que o poeta pudesse exercer sua performance com maestria diante do público.



Literatura de Cordel

Na região do Pajeú (sertão de Pernambuco), a declamação ainda hoje é praticada cotidianamente pela população. Atualmente, os declamadores gravam suas performances em discos e vídeos que são comercializados em festivais e feiras de literatura de cordel. Além da declamação, outro modo particular de jogo verbal se difundiu e se popularizou no Brasil: o desafio – ou peleja – se define como uma disputa oral, em geral entre duas pessoas, cujo objetivo é vencer o adversário por meio do virtuosismo poético diante do público. Além da viola – instrumento mais comum na cantoria –, a rabeca também era utilizada por alguns cantadores.

A literatura de cordel faz parte da vida social dos brasileiros. Ao longo do tempo, por meio das trocas e empréstimos culturais com a música, o cinema, o teatro, as novelas e as redes sociais, se atualizou e se transformou, sem perder a identidade, a originalidade e sua estética própria, particular.


Entrevista com o poeta Natan Marreiro, Canindé-CE


Origens

A literatura de cordel é um gênero poético que resultou da conexão entre as tradições orais e escritas presentes na formação social brasileira e carrega vínculos com as culturas africana, indígena e europeia e árabe. Trata-se de um fenômeno cultural vinculado às narrativas orais (contos e histórias de origem africana, indígena e europeia), à poesia (cantada e declamada) e à adaptação para a poesia dos romances em prosa trazidos pelos colonizadores portugueses. Os poetas brasileiros no século XIX conectaram todas essas influências e difundiram um modo particular de fazer poesia que se transformou numa das formas de expressão mais importantes do Brasil.



O cordel se inseriu na cultura brasileira em fins do século XIX, forjado como a variação escrita da poesia musicada por duplas de cantadores de viola, de improviso, conhecida como repente. A expressão literatura de cordel não se refere num sentido estrito a um gênero literário específico, mas ao modo como os livros eram expostos ao público. No entanto, cada vez mais essa expressão foi sendo associada a um conjunto de edições de baixo custo, adaptações de textos provenientes das mais diversas fontes (obras até então manuscritas, narrativas orais, peças de teatro cômico) destinadas a um número cada vez maior de leitores pouco familiarizados com a escrita e, por esse motivo, diversos procedimentos editoriais foram introduzidos a fim de tornar a leitura mais fácil: diminuição do tamanho da obra ao enxugar o livro por meio do emprego de textos curtos, uso de papel de baixa qualidade e redução dos preços.

Os poetas costumam definir a literatura de cordel como um gênero literário que obrigatoriamente possui três elementos: métrica, rima e oração. Esses três elementos da poética do cordel constituem os fundamentos que precisam ser apropriados por quem deseja produzir um cordel. Ao compor um cordel com métrica, rima e oração, o poeta aciona os resultados de um longo aprendizado, de uma formação que não se obtém na escola, mas a partir do convívio com outros poetas, ou seja, a partir uma tradição coletiva que se transmitiu ao longo de gerações.

FONTE: http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/4819

RIO DE JANEIRO

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Literatura de cordel vira patrimônio cultural e vive momento de efervescência

Reconhecimento do Iphan chega no momento em que a internet promove desafios entre cordelistas do Brasil e do exterior, difundindo mais ainda a cultura.


Ministro Sérgio Sá

RIO - Trazida pelos portugueses na segunda metade do século 19, a literatura de cordel narrativa poética popular com métricas e rimas perfeitas ou quase perfeitas , receberá quarta-feira o registro de Patrimônio Cultural do Brasil. O título, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), atende a pedido de 85 poetas, feito em 2010, através da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), no Rio.
"É um momento histórico. É a coroação de 30 anos da academia, que incentiva, divulga, produz e revela novos talentos", diz, emocionado, o presidente da ABLC, Gonçalo Ferreira da Silva, de 80 anos, autor de 300 cordéis e 30 livros.O reconhecimento vem numa hora de 'efervescência cordelista' graças à internet, que agora propaga desafios virtuais (pelejas). A poetisa Dalinda Catunda é pioneira. "Comecei brincando com a escritora Rosário Pinto. Hoje, as pelejas ocupam um espaço importante nas redes sociais", orgulha-se.


Poetas Rosário Pinto, Marcus Lucenna e Arievaldo Vianna


No Rio, estima-se que vivam cerca de 50 cordelistas cariocas, nordestinos, paulistas e mineiros. Na Fundação Casa de Rui Barbosa, o acervo digital de mais de 2,3 mil folhetos (há outros 9 mil na fila) é mais acessado que as obras do próprio patrono 120 mil em dois anos.Já o Escritório da Biblioteca do Congresso e a Divisão Hispânica da Biblioteca do Congresso em Washington estão formando, por meio da American Folklife Center (AFC), a maior coleção de cordéis do mundo, com mais de 12 mil peças, a partir de 1930.Outro termômetro do sucesso: só a Copiadora Father, no Centro, imprime ao menos mil livretos de escritores populares por mês. "Nos tornamos especialistas", diz o gráfico Fábio Albino.


Gonçalo Ferreira, Marco Haurélio, Marcus Lucenna, Klévisson Viana e Gustavo Dourado


Na Feira Nordestina de São Cristóvão, cordelistas de outras cidades têm destaque, como Isael de Carvalho, de Petrópolis, e o mineiro Manoel Santa Maria. "Versos em oito páginas custam R$ 3", propagandeia Isael. Por R$ 300, são feitos cordéis personalizados para aniversários, casamentos e homenagens.Para Rosilene Alves de Melo, pesquisadora que coordenou os trabalhos do processo, o momento se traduz em dois significados: "Primeiro, o reconhecimento, ainda que tardio, pelo Estado brasileiro, da importância de uma prática cultural que por muito tempo foi considerada poesia menor, à margem das elites. O poeta Raimundo Santa Helena, para lembrar, foi rechaçado por duas vezes em 1980, por acadêmicos, ao tentar ingressar na Academia Brasileira de Letras (ABL), mesmo tendo escrito 500 folhetos.
Na Praça XV e no Campo de São Cristóvão, folhetos eram apreendidos e os poetas presos (no século passado). O segundo aspecto é a dimensão política. O acesso a literatura de cordel passa a ser um direito de todos. Os poetas e toda a cadeia produtiva poderá reivindicar políticas públicas para a sua salvaguarda e difusão", ressalta.Maria Elisabeth Costa, chefe do setor de pesquisa do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, que supervisionou os estudos pelo Iphan, exalta a internet como ponte para outras expressões artísticas. "É a ligação com o cinema, com as novelas, com as revistas em quadrinhos... Surpreendem a força e a vitalidade do cordel que, ao contrário de diversos prognósticos quanto ao seu desaparecimento no século 20, chegou ao século 21 fortalecido e adaptado a novos formatos e linguagens", atesta.


Professora Rosilene Melo, com uma turma de poetas e pesquisadores de Cordel


Entrevista com Rosilene Alves de Melo, historiadora, professora da Universidade Federal de Campina Grande e pós-doutoranda pelo Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (USP), que coordenou a pesquisa para o processo de registro do cordel no Iphan.
O DIA - Desde 1990 pesquisando cordéis pelo Brasil, o que a surpreendeu nesse período?
Rosilene: O que surpreende é a força e a vitalidade da literatura de cordel que, ao contrário de diversos prognósticos quanto ao seu desaparecimento no século XX, chegou ao século XXI bastante fortalecida e se adaptando a novos formatos e linguagens.
Além do Nordeste, outros estados, como Rio e São Paulo, por exemplo, têm se destacado na produção de cordéis?
Rosilene: Podemos afirmar que a literatura de cordel está presente em todas as regiões do país, mesmo reconhecendo que em algumas localidades ela de difundiu mais profundamente. No Sudeste a literatura de cordel se consolidou sobretudo a partir do final da década de 1940, quando as comunidades de migrantes nordestinos se formaram no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mas temos também cordelistas atuando em Minas Gerais. Cabe destacar, também, a difusão do cordel no Distrito Federal quando os trabalhadores da construção civil levaram a cantoria e o cordel para os locais de trabalho e para a praça pública. É importante recordar, também, a difusão do cordel na região Norte em razão das comunidades de migrantes durante o chamado "ciclo da borracha" e que se fortaleceu com a criação da Editora Guajarina na cidade de Belém que funcionou entre 1914 e 1949.
A internet vem sendo realmente uma importante difusora e universalização desta modalidade de expressão e comunicação....
Rosilene: Certamente. O cordel por ser um gênero literário que possui relações com a oralidade, com o texto escrito e com a imagem (através das capas dos folhetos) transitou com bastante facilidade através do jornal impresso, do rádio, da televisão, do teatro, do cinema e, mais recentemente, através da internet. Neste sentido vale recordar as primeiras "pelejas virtuais" a partir da década de 1990 quando os poetas passaram a compor folhetos em parceria através de mensagens de texto e de e-mails e o cordel ingressou no ciberespaço, a exemplo do folheto intitulado "O marco cibernético construído em Timbaúba", de autoria do poeta José Honório da Silva e publicado em 1995. Atualmente os cordelistas produzem em parcerias através dos aplicativos de celular e mantém uma importante rede de trocas e sociabilidades através das redes sociais. Vale acrescentar que alguns poetas mantém sites e bloggs, a exemplo do blogg Acorda Cordel, mantido pelo poeta Arievaldo Viana desde 2011. É preciso enfatizar, também, que a internet vem possibilitando para a realização de pesquisas, através da digitalização de acervos localizados no Brasil e no exterior que disponibilizam informações e o acesso a originais raros impressos no início do século XX bem como a produção contemporânea.
Qual a importância do registro da Literatura de Cordel como Patrimônio Cultural do Brasil?
Rosilene: é possível afirmar que registro da literatura de cordel tem pelo menos dois significados: o primeiro é o reconhecimento simbólico, ainda que tardio, do Estado brasileiro da importância de uma prática cultural que por muito tempo foi considerada uma poesia menor, colocada à margem por setores das elites. O poeta Raimundo Santa Helena, por exemplo, tentou por duas vezes ingressar na Academia Brasileira de Letras e em que pese já ter escrito mais de 500 folhetos, foi duas vezes rechaçado pelos acadêmicos da ABL na década de 1980. No Rio de Janeiro, na Praça XV e no Campo de São Cristóvão, folhetos eram apreendidos e os poetas presos. na Bahia em 1938 os folhetos eram queimados em praça pública. Os poetas Rodolfo Coelho Cavalcante (1919-1986) e o poeta José Bernardo da Silva (1902-1972) foram presos por venderem literatura em praça pública, o que podemos afirmar que é uma vergonha, num país em que a população ainda tem pouco acesso a literatura. O segundo aspecto é a dimensão política do registro: o acesso a literatura de cordel passa a ser um direito de todos os cidadãos, já que se tornou um bem cultural. Portanto, a partir do registro os poetas e toda a cadeia produtiva do cordel poderá reivindicar maior acesso às políticas públicas para a sua salvaguarda e difusão para as próximas gerações.
Dá para imaginar o número aproximado de cordeliastas, repentistas, além de xilógrafos, pesquisadores e todas as pessoas envolvidas na sua pesquisa?
Rosilene: o número de pessoas envolvidas direta ou indiretamente na produção e difusão da literatura de cordel no Brasil é muito grande e não temos uma estimativa em números concretos. Somente através de um recenseamento teríamos condições de expressar quantitativamente a presença do cordel no país. O dossiê do registro produzido pelo IPHAN realizou 140 entrevistas. No entanto, não havia possibilidade de entrevistar todas as pessoas envolvidas. O que posso dizer é que este número não representa a totalidade desta comunidade, mas é importante informar que além das entrevistas realizamos diversas reuniões com os poetas, pesquisadores, proprietários de editoras especializadas, xilógrafos, declamadores e representantes de instituições de pesquisa em diversas cidades do país, para discussão acerca do significado deste registro e para a construção de recomendações de salvaguarda.
Como define os cordelistas brasileiros?
Rosilene: creio que este momento é muito importante para a literatura de cordel e para a nossa geração que teve a oportunidade de concretizar este registro. Costumo dizer que estamos prestando, também, uma homenagem e reconhecimento a todas as pessoas que no passado se dedicaram à difusão da literatura brasileira nas praças, feiras, mercados populares e não foram reconhecidas como escritores. A sociedade brasileira reproduz, no plano cultural, a exclusão social e econômica de grande parte da população que não tem acesso ao livro e a leitura como um direito de todos. Os poetas de cordel são pessoas obstinadas em levar a poesia aos lugares mais distantes e traduzem para a linguagem do verso rimado e metrificado a opinião pública, os valores sociais e até mesmo os preconceitos que precisamos combater. Sou muito grata pela oportunidade de ter feito parte de uma excelente equipe de trabalho, sob a coordenação do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional que reuniu muitas pessoas que se empenharam com extremo zelo para fazer o melhor. Me sinto muito honrada, como servidora pública, de ter dedicado muitos anos a este trabalho para deixar este legado às futuras gerações.




OPINIÃO DO POETA MARCO HAURÉLIO:

O CORDEL É PATRIMÔNIO CULTURAL DESTE PAÍS

O cordel sempre foi um patrimônio histórico, cultural, imaterial, material, afetivo, linguístico do povo brasileiro. Ontem, no Rio de Janeiro, veio o reconhecimento institucional 'quae sera tamen'.
São muitas vozes que, desde sempre, se empenharam para que tal chancela viesse. Participei de muitas reuniões, acompanhei o trabalho competente da professora Rosilene Melo e sua equipe, o pedido feito pela ABLC, com o aval dos poetas presentes a um encontro em Brasília em 2010, as discussões ora ásperas, ora amenas acerca de questões conceituais e outras menos importantes.
Falo de Rosilene e dos membros de sua equipe que viajaram o Brasil, colhendo depoimentos, registrando histórias, pesquisando acervos e dando voz aos protagonistas do gênero poético que é, a um só tempo, letra e voz.
E agora? O que virá? Sinceramente, não sei, mas espero que não cruzemos os braços, aceitando, passivamente, a tutela do estado, ou o afago de uma mão paternal. Lutemos por políticas públicas, transparências nos editais e a inclusão do cordel na educação, sem a caricatura e o falso pitoresco nos quais alguns desavisados o embalam para consumo.
Que ele seja sempre a "literatura do coração" preconizada pelo saudoso vate Manuel Caboclo, a poesia que, há várias gerações, embala os serões das noites sertanejas e ameniza a saudade dos que partem para o reino do Vai-Não-Torna, acalentando o sonho de muitos brasileiros.
Sigamos esperançosos, mas, também, vigilantes.

UMA VIAGEM AO CÉU

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Ilustração: JÔ OLIVEIRA

Há cem anos, Leandro Gomes de Barros empreendia uma viagem ao céu

Arievaldo Vianna



Perguntei-lhe: - Alma, quem és?
Disse ela: - Tua amiga,
Vim te dizer que te mude
Aqui não dá nem intriga
Quer ir para o Céu comigo?
Lá é que se bota barriga!

Eu lá subi com a alma
Num automóvel de vento
Então a alma mostrou-me
Todo aquele movimento,
As maravilhas mais lindas
Que existem no firmamento.
(Uma viagem ao Céu – Leandro Gomes de Barros)

1.Centenário de morte de Leandro

No dia 04 de março de 1918 falecia no Recife, na rua Passos da Pátria, aquele que é considerado o pai do Cordel Brasileiro, o paraibano Leandro Gomes de Barros, nascido na fazenda Melancia (então município de Pombal-PB) aos 19 de novembro de 1865. Responsável pela transição da poesia oral para o formato impresso, autor e editor de uma obra copiosa e de alto nível, Leandro era considerado, já à sua época, “o primeiro sem segundo” no reino da poética sertaneja. Outros poetas chegaram a publicar antes de Leandro, dentre os quais o também paraibano Silvino Pirauá de Lima e o potiguar João Sant’Anna de Maria, o Santaninha, que já é citado por Sílvio Romero, em 1880, como autor de folhetos de poesia popular. Porém nenhum desses teve a projeção do poeta de Pombal, o que mais contribuiu para fixar as regras desse gênero literário e a sua identidade visual.

2 .  Fundador de um gênero literário

A literatura de cordel brasileira surgiu de maneira tardia, porque antes da vinda da Corte Portuguesa, em 1808, era proibida a existência de prelos aqui no Brasil. A poesia popular oral ou manuscrita, que já existia desde os tempos de Agostinho Nunes da Costa, Hugolino do Sabugi, Inácio da Catingueira e Romano da Mãe D'água, só viria a se servir dos tipos móveis quando o poeta Leandro Gomes de Barros se mudou da Vila do Teixeira, na Paraíba, para Vitória de Santo Antão (PE), e passou a editar os primeiros folhetos nas tipografias de Recife. No Ceará, ainda no século XIX, tivemos o exemplo do já citado Santaninha e também do Padre Alexandre Cerbelon Verdeixa e do célebre Juvenal Galeno, que sob o pseudônimo de Silvanus chegou a publicar alguns folhetos de poesia popular. Entretanto não era uma atividade sistemática e sequenciada como a empreendida por Leandro, que criou família numerosa unicamente com a renda advinda de sua produção poética.
Por sua grande contribuição, é considerado o “fundador” da poesia popular no Brasil e o mais importante poeta de seu tempo, conforme o testemunho do seu contemporâneo Francisco das Chagas Batista. É também autor de dois folhetos, dos três que serviram de inspiração para Ariano Suassuna compor O Auto da Compadecida. São eles: O Dinheiro - O testamento do cachorro -, de 1909, e O Cavalo que Defecava Dinheiro.



Ilustração: Jô Oliveira


3. Retalhos da infância de Leandro

Leandro ficou órfão de pai aos sete anos, e mudou-se para a Vila do Teixeira (PB), na companhia de seu tio materno, padre Vicente Xavier de Farias, que ajudou a criá-lo. Deixou a companhia deste ainda na adolescência, por se considerar vítima de maus-tratos. A Vila do Teixeira era o berço dos grandes cantadores do passado - pioneiros do gênero - como Francisco Romano Caluête (o temido Romano da Mãe D'água ou Romano do Teixeira, que travou peleja com Inácio da Catingueira), e do famoso glosador Agostinho Nunes da Costa, pai de Ugolino e Nicandro Nunes da Costa, tidos como os melhores cantadores de seu tempo.
Informa-nos o escritor Pedro Nunes Filho, autor de Guerreiro Togado, que o Padre Vicente, além de vigário da Vila do Teixeira, era também professor de latim e humanidades, o que no passado chamava-se padre-mestre, tendo sido, provavelmente, o responsável pela educação daquele garoto, que cedo revelou os seus pendores para a literatura.
Após deixar o Teixeira, por volta de 1880, mudou-se para Pernambuco, fixando-se inicialmente em Vitória de Santo Antão (PE). Após uma curta permanência em Vitória, Leandro mudou-se para Jaboatão, onde casou-se com dona Venustiniana Eulália de Sousa (que se tornou "de Barros"), com quem teve quatro filhos, segundo informa a pesquisadora Ruth Brito Lemos Terra em sua obra Memórias de Lutas: Literatura de Folhetos do Nordeste - 1893 - 1930. Os filhos de Leandro eram Rachel Aleixo de Barros Lima (que se casou em 1917 com o escritor Pedro Batista, irmão do também poeta Francisco das Chagas Batista), Herodias (Didi), Julieta e Esaú Elóy. Este último seguiu a carreira militar, tendo participado da Revolução de 1924 e da Coluna Prestes.

4. A “indústria” do Cordel
Onde situam-se os pontos de confluência entre a velha literatura ibérica das folhas volantes, pliegos sueltos e folhetos de cordel com o Romanceiro Popular Brasileiro? Luís da Câmara Cascudo, em 'Cinco livros do povo', fornece boas pistas, mostrando antigas matrizes utilizadas pelos nossos poetas de bancada nordestinos nos primórdios da Literatura de Cordel. Alguns textos encontram-se em prosa, caso da História de João de Calais, outros em quadras atribuídas ao cego Balthazar Dias, da Ilha da Madeira, dentre os quais a História da Imperatriz Porcina. Um ciclo curioso na chamada literatura de cordel nordestina são as fábulas (Casamento e divórcio da lagartixa, A intriga do cachorro com o gato, A festa dos cachorros, A noiva do gato, dentre outros). Parece que suas matrizes mais distantes são os famosos 'testamentos de bichos' importados da Europa pela Livraria Garnier, em meados do século XIX.
Franklin Maxado Nordestino informa que o catálogo de 1811, dos livros importados por Silva Serva, de Salvador-BA, contém toda uma seção intitulada “Papéis pertencentes a notícias, proclamações, e tudo quanto pertence às Guerras, Tragédias e Novelas, tudo em brochura”, muitos dos quais eram folhetos, ou de histórias tradicionais como 'História de Roberto do Diabo' ou de assuntos mais atuais, como a 'Entrada de Napoleão no inferno'. E os folhetos portugueses, conhecidos como 'Literatura de Cego', depois que um decreto de 1779 reservou a sua venda à ambulantes cegos  continuavam a ser importados, segundo Maxado, pela Livraria Garnier, em meados do Século XIX. (Maxado, Franklin  O que é Cordel? Editora Queima-Bucha, 2ª. Edição)
Laurence Hallewell, autor de O livro no Brasil: sua história (pág. 639) informa que “A primeira impressão no Brasil, das velhas histórias, foi feita pela Impressão Régia, responsável em 1815 pela História da Donzela Teodora, em que se trata de sua grande formosura e sabedoria (30 páginas) e pela História verdadeira da Princesa Magalona, com um retrato da princesa em xilogravura na página de rosto. É perfeitamente razoável que outras gráficas brasileiras antigas tenham preenchido seu tempo ocioso com a impressão desse material tão popular e tão prontamente vendável.”
E de se supor que Leandro Gomes de Barros, Silvino Pirauá de Lima, Francisco das Chagas Batista e João Melchiades Ferreira, só para citar alguns dos pioneiros da publicação de histórias rimadas no Nordeste, tenham tido acesso desde a infância à tais publicações, que acabaram se tornando fonte permanente de inspiração para suas obras. Se tais histórias chegaram até aqui em prosa, quadra ou mesmo sextilhas, é um detalhe que, em absoluto elimina a influência ibérica no cordel brasileiro. Paralelo a isso, circulavam por todo o Nordeste obras como A história do Imperador Carlos Magno e os doze pares de França e O Martir do Gólgotha, do romancista espanhol Enrique Pérez Scrish, que tanto influenciaram os nossos 'cantadores de Ciência' e poetas de bancada do segundo quartel do Século XIX.
Além dos folhetos populares que circularam no Brasil desde o século XVIII, dentre os quais situam-se os já mencionados 'Cinco livros do povo', estudados por Câmara Cascudo, a saber: Donzela Teodora, Princesa Magalona, Imperatriz Porcina, João de Calais e Roberto do Diabo, uns em quadras, outros em prosa, sabe-se que a Livraria Garnier, no Rio de Janeiro e a Livraria do Povo (Pedro Quaresma & Cia.) já apostavam na publicação de algumas historietas rimadas, dentre as quais a Guerra de Canudos, escrita por João de Sousa Cunegundes e uma história da Guerra do Paraguai, em versos, elaborada pelo cearense João de Sant’Anna Maria, o Santaninha, conforme atesta um estudo publicado pelo historiador José Calasans, intitulado “Canudos na literatura de Cordel”.
Entretanto, nada se compara ao tino comercial, ao estro prolífico e a persistência de Leandro Gomes de Barros, que pode ser considerado o verdadeiro fundador da literatura popular em versos no Nordeste Brasileiro. Leandro, que optou por viver unicamente de escrever e vender a sua poesia, conforme atesta Câmara Cascudo, fez com que fossem criados pontos de venda em vários Estados brasileiros, fazendo com que sua produção se espalhasse por todo o país, sobretudo nos estados do Norte-Nordeste. No início do século XX, as distâncias quase intransponíveis deste país continental foram aos poucos se reduzindo com a implantação de uma boa malha ferroviária, além da navegação marítima e fluvial. Quando Leandro faleceu, em 1918, o avião já havia sido largamente utilizado na 1ª Guerra Mundial e o automóvel começava a se popularizar.
Quando Leandro faleceu, a poesia popular impressa já estava consolidada e consistia num negócio bem lucrativo. Além dele, já atuavam com desenvoltura os irmãos Chagas e Pedro Baptista (da Popular Editora) e o iniciante João Martins de Athayde, que viria a se tornar o maior editor do gênero, após adquirir os direitos da obra de Leandro e outros grandes poetas daquela época.


Fabiano Chaves (óleo sobre tela)


5. A morte do poeta

Do mesmo modo que a sua vida, a morte de Leandro também é envolta em lendas e controvérsias. Há pelo menos umas quatro versões para esse fato. O jornalista Permínio Ásfora, em artigo publicado no Diário da Noite do Recife, em 13 de dezembro de 1949, intitulado "Crise no romanceiro popular", diz o seguinte:
“Trechos de sua vida são lembrados ainda hoje. Contam que já morava aqui no Recife quando um senhor de engenho, indignado com um morador, resolveu aplicar neste uma sova de palmatória. (...) Um dia o senhor de engenho é surpreendido por violenta punhalada vibrada pela mesma mão que levara seus bolos. O poeta Leandro aproveita o caso policial, transformando-o em folheto que era um libelo contra o senhor de engenho. Descreve em "O punhal e a palmatória", com calor e simpatia, a inesperada vindita. O chefe de polícia, enfurecido com a literatura de Leandro, manda metê-lo na cadeia. Apesar de folgazão, Leandro era homem de muita vergonha e de muito sentimento. E como naquele já distante ano de 1918 a cadeia constituía uma humilhação, à humilhação da cadeia sucumbiu o grande trovador popular.”
Outros pesquisadores afirmam que Leandro morreu vítima da influenza espanhola, uma gripe mortífera que assolou o Brasil no início do século passado. Egídio de Oliveira Lima, por sua vez, diz que Leandro morreu "de uma enfermidade que o havia atacado uns dez anos antes" (Lima, 1978: 156), e no seu ATESTADO DE ÓBITO consta como causa mortis ANEURISMA.
Cristina da Nóbrega, seguindo pistas fornecidas pelo autor destas linhas, pesquisou nos cartórios do Bairro de São José, no Recife, e localizou o livro onde está assentada a CERTIDÃO DE ÓBITO do grande poeta. Algumas informações curiosas, prestadas por seu filho Esaú Eloy de Barros Lima (quem, por sinal, assina o documento), são bem reveladoras. Ele informa que seu pai tinha 58 anos de idade, e não 53, na data de seu falecimento, o que remete seu nascimento para 1860, ao invés de 1865, data divulgada oficialmente. Diz que Leandro era filho de José Gomes de Barros Lima e Adelaide Gomes de Barros (seu nome de solteira era Adelaide Xavier de Farias). Era comerciante, faleceu na rua Passos da Pátria, bairro de São José, às 9h30 da noite do dia 4 de março de 1918, tendo como causa mortisaneurisma. Nessa data, Rachel Aleixo de Barros Lima, a filha mais velha, tinha 24 anos, Esaú Eloy, o declarante, 17 anos, e as suas irmãs Julieta (na certidão está grafado erroneamente Juvanêta, noutros documentos aparece grafada também a forma Giovaneta) e Herodias eram também menores.
Após a morte de Leandro, seu genro Pedro Batista (irmão de Chagas Batista e esposo de Rachel Aleixo de Barros) continuou editando a obra do sogro em Guarabira (PB), fazendo algumas revisões de linguagem, entre 1918 e 1921. Finalmente em 1921, após desentender-se com o genro, a viúva do poeta, Dona Venustiniana Aleixo de Barros, vendeu seu espólio literário a João Martins de Athayde.

6. Autor de clássicos do gênero

O estilo de Leandro é inconfundível. Ele teve fôlego para transitar em todos os gêneros e modalidades correntes: peleja, romance, gracejo, crítica social, e o fez com maestria. Poucos conseguiram igualar-se. No geral, ninguém o superou até hoje. Dentre as suas obras mais expressivas destacam-se Juvenal e o dragão, Batalha de Oliveiros com Ferrabrás, A vida de Pedro Cem, A Donzela Teodora, Peleja de Manoel Riachão com o Diabo, O soldado jogador, O cachorro dos mortos, Interragatório de Antônio Silvino, A vida de Cancão de Fogo e seu Testamento, todos considerados verdadeiros clássicos do Cordel.

Arievaldo Vianna
Poeta popular, criador do projeto Acorda Cordel na Sala de Aula



Bibliografia
ALDÉ, Lorenzo. "Hora de Conhecer Leandro", in Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 3, n. 29, fevereiro de 2008.
BARROSO, Gustavo. Ao Som da Viola (Folclore), nova edição correta e aumentada. Rio de Janeiro, 1949.
BATISTA, Francisco das Chagas. Cantadores e poetas populares. 2. edição. João Pessoa, 1997.
BATISTA, Sebastião Nunes. Bibliografia Prévia de Leandro Gomes de Barros. Rio de Janeiro: Divisão de Publicações e Divulgação da Biblioteca Nacional, 1971.
CASCUDO, Luís da Câmara. Vaqueiros e cantadores. São Paulo: Ediouro, 2000.
__________. Cinco Livros do Povo. 2. edição. João Pessoa: Editora Universitária/UEPb, 1979.
CURRAN, Mark. História do Brasil em cordel. 2 ed. São Paulo: EDUSP, 2001.
FILHO, Pedro Nunes. Guerreiro Togado - Fatos Históricos de Alagoa do Monteiro. Recife: Editora Universitária - UEPE, 1997.
HALLEWELL, Laurence, O livro no Brasil: Sua história. Edusp, 1985.
LITERATURA POPULAR EM VERSO. Estudos. Tomo I. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1973 (Coleção de textos da Língua Portuguesa moderna).
__________. ANTOLOGIA, Tomo III. Leandro Gomes de Barros - 2. João Pessoa: UFPB, 1977.
LOPES, Ribamar. Literatura de Cordel - Antologia. 3. edição. Banco do Nordeste do Brasil S.A., 1984.
MAXADO, Franklin, O que é cordel na Literatura Popular, Edições Queima-Bucha, 2012.
PIMENTEL, Altimar. F. das Chagas Batista, Antologia. São Paulo: Hedra, 2007.
TERRA, Ruth Brito Lemos. Memória de Lutas: Literatura de Folhetos no Nordeste - 1893 - 1930. São Paulo: Global, 1983.
VIANA, Arievaldo – Leandro Gomes de Barros – Vida e Obra, Queima-Bucha Editora / Edições Fundação SINTAF, 2015.
__________. Santaninha – Um poeta popular na capital do Império, Editora IMEPH, 2017.


ENTREVISTA

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HISTÓRIA E POLÍTICA 
NOS FOLHETOS DE CORDEL




Numa entrevista de apenas meia hora, no programa CAFÉ COM DEMOCRACIA, na Web Rádio Atitude Popular, traçamos um panorama da Literatura de Cordel desde as primeiras décadas do Século XIX e o seu envolvimento com a sátira política e também como fonte documental da história. Confiram no Youtube, através deste link:




Folhetos recentes tratam do GOLPE e do (des)Governo de Michel Temer



OPINIÃO DE ROSEMBERG CARIRY

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Rosemberg e Ariano Suassuna (Foto: Bárbara Cariry)

O ódio, o voto e a pulsão da morte

Estranho tempo este em que nos encontramos diante do avanço das forças do conservadorismo e do fascismo, representadas por um candidato de extrema direita e pela devoção e fúria cega dos seus seguidores, que apresentam semelhança com a tensão obscura das milícias nazistas na década de 1930, na preparação dos holocaustos, das torturas e das guerras. Nas carreatas, os "milicianos-bolsonaristas" apontam armas e/ou fazem das próprias mãos armas, em gesto portador de ameaças claras dirigidas aos seus opositores. 

Mãos que poderiam afagar e construir transformam-se em símbolos da ameaça de morte e da intolerância. Gritam palavras de ódio contra mulheres, negros, índios e gays. 

Triste tempo, onde muitos médicos, advogados e outros profissionais liberais, não obstante seus cursos universitários, perfilam irracionalmente, ao apoiar a extrema-direita e seus slogans e "vivas"à tortura e à morte. Os homens da lei rasgam a Constituição e manipulam decisões, em conformidade com suas ideologias conservadoras e os interesses das classes dominantes e do mercado. Alguns empresários judeus, em traição à memória das vítimas do totalitarismo, apoiam a ideologia despótica e racista. O mercado tem tremores e os empresários fascistas gozam. A Globo e a grande imprensa manipulam corações e mentes. Muitos pastores, com suas contas bancárias cheias de dinheiro tirado dos fiéis apavorados, invocam Deus para as novas cruzadas do ódio, subvertendo as pregações de Cristo em prol do amor e da justa dignidade do homem. Está escancarado o fracasso de uma civilização feita de destroços, da reedição de ódios e de retrocessos. O grande reino do egoísmo e da exploração do homem pelo homem se fortalece. As engrenagens perversas do capitalismo devoram o que de humano resta no homem. 

Assim como os indivíduos, as nações também adoecem e são capazes de suicídios históricos. A opção autoritária e de extrema direita parece-me isso: um mergulho nas trevas do ódio e da irracionalidade. Um suicídio coletivo que parece ser indicativo do fracasso das nossas principais instituições. A maioria das nossas escolas não forma homens para a solidariedade e para a liberdade, mas apenas para a competição, o lucro, o preconceito, a pulsão da morte e a hegemonia das sombras. Acredito que quem transforma o seu voto em instrumento do ódio, não está apenas tentando destruir o outro, mas está destruindo a si mesmo, enquanto projeto de humanidade. Afinal, ser humano é uma construção, a mais difícil e demorada de todas as construções. 



Rosemberg Cariry (ar.moura@uol.com.br) 

Cineasta e escritor

Fonte: O POVO (Opinião)



Arievaldo Vianna, Rosemberg Cariry e Marcus Lucenna

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