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ENCONTRO COM A CONSCIÊNCIA

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LANÇAMENTO NO SESC



Ilustrações: Arievaldo Vianna

No próximo dia 31 de outubro (terça-feira), Arievaldo Vianna estará lançando mais um livro no SESC da Duque de Caxias (Centro de Fortaleza). Trata-se da obra “Encontro com a consciência”, texto em cordel com ilustrações do próprio autor.

ENCONTRO COM A CONSCIÊNCIA

Escrito em sextilhas e setissílabos, Encontro com a consciência está na justa medida do cordel-romance, a exemplo dos que nos deram os melhores autores do gênero em todos os tempos. As rimas bem aplicadas, a narrativa fluente, a presença do falar regional, a abordagem de detalhes emotivos, a honestidade e honra imaculadas do sertanejo surgem como o tempero que dão sabor à leitura nesse trabalho de Arievaldo Vianna.



Autor: Arievaldo Vianna
Ilustração: Arievaldo Vianna
Indicação: Para crianças de 8 a 80 anos
Temas relacionados: Honra, honestidade
Valor: 34,00
Formato: 20,0 x 27,0 cm
Número de páginas: 28
ISBN: 978-85-7974-182-1



HISTÓRIAS DE CAMINHONEIRO
(Texto de apresentação da obra)

Encontro com a consciência é o trabalho basicamente inaugural de Arievaldo Viana como romancista da Literatura de Cordel. Esta sua narrativa em versos surgiu com o alvorecer do século presente, dois anos depois de o já consagrado poeta lançar a primeira edição do seu livro O baú da gaiatice, que demarcou o ressurgimento do Cordel por aqui e mais além. Com seu faro aguçado para a temática do romanceiro popular, Arievaldo enxergou um belo roteiro nessa história escrita em 1977 por Ramiro Monteiro Chaves, antigo caminhoneiro da região jaquaribana, que por sua vez reuniu em livro suas aventuras pelas estradas do Brasil. Reeditado em 2001, Com o pé na estrada  memórias de um caminhoneiro traz “Encontro com a consciência” em sua versão original e na adaptação para o Cordel.

Agora, o mesmo trabalho ganha publicação individual, em edição primorosa e ricamente ilustrada com desenhos em cores assinados pelo próprio Arievaldo e inspirados nos mestres do traço Percy Lau (1903-1972), Lanzellotti (1926-1992) e Raimundo Cela (1890-1954), que de tal forma são também homenageados. As aquarelas do poeta-desenhista emprestam um novo brilho à sua obra e atestam mais uma vez a evolução constante do Cordel no mercado editorial.

Escrito em sextilhas e setissílabos, Encontro com a consciência está na justa medida do cordel-romance, a exemplo dos que nos deram os melhores autores do gênero em todos os tempos. Conquanto o enredo encontre paralelo numa obra de Simões Lopes Neto (1865-1916), intitulada Trezentas onças, a coincidência pára por aí, pois o desfecho do primeiro é sensivelmente mais vibrante; e ainda se há de supor que Ramiro Monteiro Chaves, incansável em sua luta de caminhoneiro, não tenha sequer conhecido a obra do escritor e regionalista gaúcho.
As rimas bem aplicadas, a narrativa fluente, a presença do falar regional, a abordagem de detalhes emotivos, a honestidade e honra imaculadas do sertanejo surgem como o tempero que dão sabor à leitura nesse trabalho de Arievaldo Viana. O arremate, como sugere o título, tem o seu cunho de grandeza moral e de lição de vida. O relançamento de “Encontro com a consciência”, por outro lado, acontece no momento em que a adaptação da prosa para o cordel, inclusive de obras clássicas, tornou-se um dos filões mais explorados pelos poetas populares e também um dos mais aceitos pelo público. É ainda, não há dúvida, uma alternativa de se preservar e recontar com novo jeito tantas velhas e boas histórias. Assim seja.


Pedro Paulo Paulino (Poeta Popular)



XILOGRAVURAS À VENDA

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Depois de uma pausa de quase três anos resolvi retomar a minha atividade como XILOGRAVADOR. Imprimi antigas matrizes e também gravei novos tacos, dentre os quais uma série sobre astros da música popular brasileira, que inclui Luiz Gonzaga, Raul Seixas, Roberto Carlos, Belchior, dentre outros. As cópias, em geral, medem 32 x 22 cm. Cada cópia custa R$ 25,00 (em papel vergê) e R$ 30,00 (em papel canson importado).

A seguir, fotos de algumas etapas do trabalho.







TRAÇOS DO GOLPE

LANÇAMENTO NO SESC

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No próximo dia 31 de outubro (terça-feira), às 19 horas, Arievaldo Vianna estará lançando mais um livro no SESC da Duque de Caxias (Centro de Fortaleza), dentro do projeto Bazar das Letras. Trata-se da obra “Encontro com a consciência”, texto em cordel com ilustrações do próprio autor.
Nascido em 1967, o escritor cearense Arievaldo Vianna chega aos 50 anos com a invejável marca de 31 livros publicados, por diversas editoras, e cerca de 150 folhetos de cordel já impressos em sucessivas reedições. Premiado em concursos literários, quatro vezes selecionado pelo MEC, através do extinto PNBE (Programa Nacional da Biblioteca na Escola), esse autor já percorreu o Brasil de norte a sul realizando palestras, recitais, oficinas de cordel e xilogravura, dentro do projeto Acorda Cordel na Sala de Aula, por ele criado em 2001.
Arievaldo atuou também como consultor e redator de uma série de programas da TV Brasil (Salto para o futuro), sobre o uso do Cordel no ambiente escolar. Teve vários livros selecionados para o catálogo da Feira Internacional do Livro Infanto-Juvenil de Bologna (Itália), e algumas de suas obras conquistaram o selo “Altamente Recomendável” da FNLIJ. 



Caricatura: Jô Oliveira

OUTRAS ATIVIDADES MARCAM
CINQUENTENÁRIO DO POETA

63ª Feira do Livro de Porto Alegre-RS

No período de 13 a 15 de novembro, Arievaldo Vianna e o ilustrador pernambucano Jô Oliveira participarão de várias atividades da programação da 63ª Feira do Livro de Porto Alegre, que ocorrerá no período de 1º a 19 de novembro, como autores enviados pela Editora IMEPH. Além das atividades programadas no próprio espaço da Feira, que incluem visita à Escola Portugal (palestra para turmas do EJA) e no projeto Autor no Palco, no Teatro Carlos Urbim, a dupla foi convidada pela Associação Centro de Tradições Nordestinas e a Secretaria Municipal de Educação da cidade de Cachoeirinha (que fica a 17 quilômetros de Porto Alegre) para fazer uma palestra sobre cordel no bairro Granja Esperança (onde está radicada a maior parte da colônia nordestina). 



Com o parceiro Jô Oliveira - Bienal do Rio de Janeiro (2012)


IMPLANTAÇÃO DE CORDELTECA EM MADALENA-CE 
E LANÇAMENTO DE UM NOVO LIVRO 
“NO TEMPO DA LAMPARINA”



Também em novembro próximo, em data a ser definida, a Prefeitura Municipal de Madalena irá inaugurar uma Biblioteca de Cordel com acervo selecionado por Arievaldo Vianna. A Cordelteca Alzira Vianna de Sousa Lima é uma homenagem à avó do escritor. Foi com ela que Arievaldo aprendeu as primeiras letras e deu seus primeiros passos como poeta, pois dona Alzira utilizava os folhetos de cordel como ferramenta auxiliar na educação do neto.

Ainda este ano, Arievaldo Vianna pretende lançar seu 32º livro, oitavo em prosa, intitulado “No Tempo da Lamparina – II Volume de Memórias”. A obra reúne crônicas que retratam a sua infância e adolescência nos municípios de Quixeramobim, Madalena e Canindé. O texto alterna lembranças pessoais com fatos importantes ocorridos no período e trata também das transformações que afetaram o Sertão Central cearense ao longo dos últimos 50 anos, sob a ótica de quem viveu e testemunhou de perto.
Assim, o autor desfila suas reminiscências falando de artes e tradições esquecidas, como o reisado, a cantoria, o forró de latada, corridas de cavalo, farinhadas, sonhos com botijas e assombrações, novenas e procissões invocando chuva. A fazenda Ouro Preto, onde nasceu e se criou, não tinha luz elétrica. O entretenimento que o poeta conheceu na infância foram somente o rádio, as cantorias e os folhetos de cordel, guardados com carinho pela avó numa maleta encantada. Por falar nisso, Arievaldo também descreve as histórias de encantamento repassadas aos meninos de sua geração pela velha Bastiana. Uma delas falava de três castelos encantados, localizados na comunidade vizinha de Três Irmãos, onde está situada a Fonte das Coronhas, um lugar mágico, tido por alguns como a morada da Iara ou Mãe D’água sertaneja.

EIS UM TRECHO DO LIVRO:


Xilogravura da capa: Maércio Siqueira

“Na infância eu considerava as histórias de encantamento dos folhetos de cordel como verdadeiras ou, pelo menos, plausíveis. Por estarem impressas no papel me pareciam mais dignas de crédito que as histórias de Trancoso contadas oralmente pela velha Bastiana e sua neta Rita Maria. A própria Bíblia, tida como o mais sagrado e verdadeiro dos livros, não encerrava a história da jumenta de Balaão, que adquirira voz humana e falara fluentemente? Moisés não abrira o Mar Vermelho para que os israelitas o atravessassem a pé enxuto, com a mesma facilidade com que se corta uma talhada de melancia? O profeta Elias não fizera cair fogo do céu? Não havia dividido as águas do Rio Jordão com o simples toque de sua capa? O profeta Eliseu, seu sucessor, não multiplicara milagrosamente o azeite da viúva em cuja casa se hospedara?       O combate do pequeno Davi contra o gigante Filisteu não poderia ser a própria Batalha de Oliveiros com Ferrabrás, de que nos fala o livro de Carlos Magno e dos Doze Pares de França? Se São Jorge, um santo reconhecido pela Igreja Católica, combatera um dragão, por quê Juvenal, personagem do folheto do poeta Leandro Gomes de Barros, não poderia ter realizado um feito similar?
Para completar esse universo místico e encantado, eu ouvia constantemente, no alpendre da casa de meus avós, histórias de botijas, de alma penada, de lobisomens e até de discos voadores como coisa absolutamente real, palpável e natural. Nascidos e criados no “tempo da lamparina”, os meninos de minha geração não dispunham de outras diversões que não fossem as cantigas de roda, a audição de velhos contos de fadas adaptados à linguagem sertaneja, os folhetos de cordel e o rádio de pilha. Some-se a isso, cantorias, vaquejadas, forrobodós, leilões, reisados e novenas.
Eu gostava mesmo era de escutar a prosa dos adultos, à sombra dos alpendres, em noites de lua cheia ou sob a luz do candeeiro. Tudo isso era projetado pelo caleidoscópio de uma imaginação fértil e prodigiosa, da qual sempre fui dotado. De modo que, quando me via sozinho no meio do mato, imaginava encontrar um desses entes fabulosos descritos pelos adultos e registrados nas páginas dos cordéis. Dentre todos, o que eu mais       ansiava encontrar era o gênio da lâmpada, das histórias de Alladim, a fim de realizar os três pedidos. O primeiro deles, sem dúvidas, seria um passeio no tapete voador, elevando-se do pátio da fazenda de meu avô com destino a serra dos Três Irmãos, Serra do Peitão, Serrinha do Teixeira e Serra da Cacimba Nova. Desde a mais tenra idade eu nutria verdadeiro encanto pelas serras, lugar de onde me parecia vir a chuva. E, como toda criança, eu queria voar. Nessa fase da vida quantas vezes não sonhei voando?
Complementando tudo isso, havia as histórias mirabolantes do Chico Pavio, filho da velha Bastiana, que também possuía uma imaginação prodigiosa. Às vezes ele fazia parte do adjunto de trabalhadores que auxiliavam meu pai na sua lavoura. No próprio eito ele desfiava alguns causos interessantes, que eram intercalados pela voz do Chico Cazuza, o Cazuzinha, fã de cantorias, que sabia de memória muitas glosas atribuídas aos famosos Bentevi Neto e Cego Aderaldo. Papai dava larga preferência ao segundo, eu gostava, também, das lorotas do primeiro. Eis um causo contado pelo Chico Pavio: segundo ele, os serrotes dos Três Irmãos eram três reinos encantados, erguidos em remotas eras, por uma raça nobre e desconhecida, exuberante e rica. Mas os três castelos foram encantados pelo poder de gênios do espaço e transformados em três gigantescos blocos de pedra. Quando eu ia buscar água na companhia de meu pai, na Fonte das Coronhas, que fica no sopé do primeiro serrote, ansiava encontrar alguma princesa encantada, avistar a lendária Mãe D’água e até mesmo o dragão que guardava a porta de entrada do Reino Encantado. Dei asas à imaginação e descrevi tudo isso em um poema chamado “O Marco Cibernético do Reino dos Três Monólitos”, que se encontra reproduzido integralmente neste livro.
(...)
Há quase 300 anos os troncos familiares que deram origem à minha raça habitam este pedaço de chão. A história desses clãs é minunciosamente descrita no primeiro livro desta série, cujo título é “Sertão em Desencanto – I Volume de Memórias”, obra de menor teor poético, porém fortemente embasada em documentos, daí o seu valor como relato histórico.
Por quê “Sertão em Desencanto”? Dentre muitos outros motivos e explicações eu diria que aquele encantamento pelo maravilhoso, pelo heroico e pelo fantástico que acalentei na infância foi quebrado pelo rude martelo da realidade. Foi minado pelos espinhos e dissabores que inevitavelmente nos agridem ao longo de nossa caminhada. Mas também pela descaracterização de nossa cultura, pelo desaparecimento de velhas tradições, pelo aniquilamento de nossos costumes mais simples e fraternos. O sertão de hoje em dia está muito modificado!

Por isso tomei a iniciativa de escrever estes livros de memórias, permeados de causos, de sonhos e encantamentos, para que as gerações futuras não percam o fio da meada e saibam que o nosso sertão nem sempre foi assim, displicente, desleixado, alienado e ignorante de suas matrizes culturais. Subam comigo, a bordo desse tapete voador, e retornemos ao sertão dos tempos da lamparina, fazendo de conta que o velho candeeiro é a lâmpada de Alladim.”

P.S. - Essa é a postagem de número 700. O blog está no ar desde maio de 2011 e já ultrapassou a marca de 1 milhão de visualizações.

AINDA O MESTRE LEANDRO

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Na Escola dos Saberes de Barbalha, encontrei-me com o escritor Batista de Lima, da Academia Cearense de Letras, que como eu, participava de um evento promovido pelo incansável agitador cultural Rosemberg Cariri. Na ocasião, Batista de Lima tomou conhecimento da biografia de Leandro Gomes de Barros, que lancei em 2015, no sesquicentenário de nascimento do ilustre poeta paraibano. No último dia 17/10, o livro foi assunto da sua coluna semanal no Caderno 3, do jornal Diário do Nordeste:

Leandro Gomes de Barros
XILOGRAVURA de Arievaldo Vianna
(Todos os direitos reservados)


Batista de Lima: Leandro, 

o Cordel e Arievaldo
  

BATISTA DE LIMA
caderno3@diariodonordeste.com.br •

Arievaldo Viana publicou em 2014 o livro "Leandro Gomes de Barros - Vida e obra". Ainda hoje distribui esse livro em feiras, congressos e encontros literários. Até parece que na atualidade não importa a qualidade do livro, o difícil é encontrar leitor. Nesse caso, Arievaldo apresenta uma biografia crítica do mestre da Literatura de Cordel, para muitos o pioneiro desse gênero literário no Nordeste.

Em 170 páginas das Edições Fundação Sintaf, de Fortaleza, e da Queima-Bucha, de Mossoró, a vida e a obra de Leandro Gomes de Barros são apresentadas ao leitor com o zelo de pesquisador que não dispensa o mergulho em fontes primárias para trazer à tona tudo que diz respeito ao biografado. Para Pedro Nunes Filho, que escreve as orelhas do livro, Leandro Gomes de Barros é "o mais famoso cordelista do Brasil". Já na apresentação do livro, Marco Haurélio o classifica como "patriarca da literatura de cordel e autor de, pelo menos, vinte clássicos incontestáveis do gênero". Isso comprova o respeito com que intelectuais de nomeada ainda hoje reverenciam Leandro como um clássico do cordel.

É tanto que ele transforma tragédias gregas em folhetos populares. Confronta o sagrado com o profano sem apelos para sectarismos. Por isso que Gilmar de Carvalho lembra, no Prefácio, que esse poeta, pioneiro do nosso cordel, transita da tradição oral para os livros de cavalaria e para as tragédias gregas com a mesma desenvoltura.

Isso prova que Leandro Gomes de Barros era um homem de instrução. Acontece que muita coisa sobre ele e dele não nos chegou até hoje por escrito.

A tradição oral às vezes acrescenta, às vezes se omite a propósito desse famoso poeta. Foi por isso que Arievaldo Viana teve que viajar pelo Nordeste, entrevistar familiares do poeta e consultar arquivos credenciados do cordel como o da Casa Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Foi a cartórios e a velhos cantadores que estiveram próximos a Leandro durante seus últimos anos de vida.

Desse trabalho incansável e demorado surge essa obra de resgate de uma personalidade em vias de cair no ostracismo.

De acordo com a pesquisa de Arievaldo Vianna, Leandro Gomes de Barros nasceu na fazenda Melancia, em Pombal (PB), no dia 19 de novembro de 1865, e faleceu em Recife (PE), em 04 de março de 1918. Seus principais cordéis são "A Vida de Cancão de Fogo e seu Testamento", "Donzela Teodora", "Alonso e Marina", "Sofrimentos de Alzira", "Soldado Jogador" e "Meia-noite no Cabaré". Este foi inspirado em "Noite na Taverna", de Álvares de Azevedo. Há entretanto muitos outros cordéis de sua autoria, além de muitos de onde seu nome foi retirado e colocada outra autoria.

Essa questão da autoria dos cordéis é um problema para pesquisadores sobre o tema. Geralmente quando o espólio de um poeta era vendido, seu comprador comprava também os direitos sobre a obra e mudava a autoria do folheto. Talvez tenha sido Leandro Gomes de Barros uma das maiores vítimas desse comércio. Afinal, sabe-se que após sua morte, sua esposa, D. Venustiniana, vendeu todo seu patrimônio poético a João Martins de Athayde. Daí por diante o novo proprietário, também poeta popular, começou a colocar seu nome em algumas obras que foram de Leandro.

Da mesma forma sabe-se que com o falecimento de João Martins de Athayde, anos depois, todo esse material foi vendido por seus familiares a José Bernardo da Silva, de Juazeiro do Norte, proprietário da Gráfica São Francisco e da Lira Nordestina. Só mais recentemente a Casa Rui Barbosa vem tentando, através de seus pesquisadores, organizar e catalogar essas obras dispersas e de autorias nem sempre verdadeiras.



Acredita-se, pois, que essa pesquisa de Arievaldo seja também uma contribuição para esse trabalho da Fundação.

Nesse processo de venda do patrimônio poético de famosos cordelistas pelos seus descendentes, há razões inquestionáveis que norteiam esses comportamentos. No caso de Leandro Gomes de Barros, constata-se que ao morrer com 53 anos, o poeta deixa a mulher e os filhos numa situação financeira em que não possuíam nem casa própria. Por toda a vida, o cordelista morou de aluguel. Vivia da renda dos seus folhetos.

Além disso Leandro era boêmio e passava tempos fora de casa em viagens de venda do seu material poético. Dona Vênus, e era assim que ele a chamava, quando se viu viúva tendo que sobreviver com os filhos, o único bem que possuía era o espólio poético deixado pelo marido. Assim, ao final da leitura desse livro de Arievaldo Vianna, o leitor se sente confortável para concluir ter mantido contato com um valoroso apanhado crítico e biográfico do pioneiro do cordel nordestino.

É uma obra de cunho também didático porque possibilita conhecer o mais popular de nossos gêneros literários. O cordel, no auge de sua evolução, chegou a ser a crônica principal das populações sertanejas. Isso aconteceu por se configurar uma literatura de fácil absorção pelos seus leitores e ouvintes e também por trazer às camadas populares uma legião de mitos e as lendas que os cercavam. Assim, verifica-se que Arievaldo, com essa publicação, presta uma enorme contribuição para os estudos e para a preservação da cultura popular entre nós.


PUBLICADO no Diário do Nordeste, Caderno 3, edição de 17.10.2017


A quem possa interessar: 
o livro LEANDRO GOMES DE BARROS, VIDA E OBRA 
custa R$ 30,00 e pode ser adquirido através deste e-mail: acordacordel@hotmail.com

LANÇAMENTO NO SESC

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Algumas fotos do nosso lançamento no projeto BAZAR DAS LETRAS, do SESC da Avenida Duque de Caxias (Teatro Emiliano de Queiróz), noite inspirada, com a ótima participação do público e o auxílio luxuoso dos amigos escritores Raymundo Neto, Rouxinol do Rinaré, Silas Falcão e Gláucia Lima.

Fotos: Nice Arruda



Escritor Raymundo Netto


Recebendo homenagem do INSTi, das mãos da escritora Gláucia Lima


Com Nice Arruda






REFORMA TRABALHISTA ENTRA EM VIGOR

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Saiba mais: http://www.vermelho.org.br/noticia/304203-1


SÃO JOÃO E CORDEL NO RS

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São João de Cachoeirinha 

Um Encontro entre o Sul e o Nordeste


No último dia 14/11, estive no município de Cachoeirinha-RS, na companhia do ilustrador Jô Oliveira, participando do lançamento da programação prévia do São João de Cachoeirinha - Um Encontro entre o Sul e o Nordeste, que acontecerá em junho de 2018. Nossa visita atendeu convite da jornalista Sônia Zanchetta, coordenadora da Feira do Livro de Porto Alegre.
O evento ocorreu na Escola Portugal, com a participação de alunos e professores que haviam lido obras dos autores previamente; da secretária de Educação, Rosinha Lippert; do secretário de Assistência Social, Cidadania e Habitação, Francisco Belarmino Dias; e de representantes do Centro de Tradições Nordestinas de Cachoeirinha.

A equipe de produção do evento esteve representada por João Batista Fraga.


Clique na imagem para AMPLIAR


XILOGRAVURAS

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Novas xilogravuras de ARIEVALDO VIANNA (Direitos Reservados)








INTERESSADOS em adquirir cópias podem entrar em contato através do e-mail acordacordel@hotmail.com

O BAÚ DA GAIATICE

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Por: PAULO BRABO, 01 DE DEZEMBRO DE 2005

A GAIATICE DE DOM ARIEVALDO


Passei ontem na Winner’s da Praça Osório para comer uma empada e um suco de cupuaçu e lembrei-me invariavelmente da minha viagem ao nordeste.

Não saiu ainda da minha cabeça a idéia de escrever as memórias da Expedição Cordel, mas as proporções épicas e mitológicas do que tenho a dizer simplesmente me esmagam.

 Como, por exemplo, falar do Arievaldo, engenhoso fidalgo, nosso irmão e supremo contato em Fortaleza, cuja casa virou nosso quartel-general? Nada, absolutamente nada, que eu disser sobre o Arievaldo pode dar uma idéia de como ele é na vida real. João Grilo? Robin Williams? Agoniado, energizado, maluco, bem-humorado, malandro, figuraça, gaiatíssimo?

Assisti recentemente ao filme Madagascar, animação da Dreamworks, e decidi que a única imagem que pode sugerir uma sombra do que é experimentar o Arievaldo em primeira mão é a do rei dos lêmures, Julien, dançando e cantando “Eu me remexo muito”. O rei Julien é uma versão serena, pacatíssima e domesticada do Arievaldo.

Cordelista, radialista, poeta, cartunista, leiauteiro, dançarino, xilogravurista, publicitário, comediante, dramaturgo, declamador, pesquisador, piadista, escritor, palestrante e figurinha difícil, Dom Arievaldo Viana é atualmente o menino-prodígio da literatura de cordel, seu talento e sua cruzada louvados de Bezerros no agreste pernambucano a Santa Teresa no Rio de Janeiro.

Assim que chegamos a Fortaleza o Ari deu-me de presente um exemplar da segunda edição do seu livro mais recente, O Baú da Gaiatice – um apanhado de “causos”, versos, memórias e crônicas de humor nordestino. Confesso aqui, como já confessei pessoalmente a Dom Arievaldo, que não esperava nem de longe que o livro fosse tão bom. Inquiro apenas dois parágrafos, o primeiro e oitavo da crônica PRODUTO EXTERNO BRUTO É COM NÓS:

Bastou a revista Newsweek publicar o caput da mais recente descoberta do professor Nikin Kando – baba de calango em jejum como o mais poderoso sucedâneo da gasolina aditivada -, para o vereador oposicionista Procópio Straus (vereador por Apuiarés, mas nascido no distrito de Cipó dos Anjos) requerer junto ao IBAMA, com o consentimento do Green Peace e da Associação de Macumba Senhor do Engenho, licença para criar em cativeiro as “n” espécies do retromencionado lacertílio – família dos teídos, os tais do “monossílabo” torto.

Fincado em área de 22 quilômetros quadrados e população que beira os 200 habitantes, Cipó dos Anjos possui quatro bancos, sendo um de sangue e três de cimento localizados na praça Alferes Claudemiro Quaresma (ilustre antepassado do intrépido Procópio), herói da Guerra do Juazeiro, condecorado com a Medalha da Ferradura por haver salvo a vida de um jumento canindé do Dr. Floro Bartolomeu.

E por aí, senhoras e senhores, vai.




Fonte: http://www.baciadasalmas.com/a-gaiatice-de-dom-arievaldo/

DESENTUPIDOR DE PINTO?

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Charge de JBosco, 'O Liberal' - Pará.

FREI MANÉ MAGO NA PRAÇA JOSÉ DE ALENCAR



Depois de orar fervorosamente na velha Igreja do Rosário, joia barroca que ornamenta a não menos vetusta Praça dos Leões, Frei Mané Mago de Jurema deu uma passadinha na Academia Cearense de Letras, onde solicitou uma cadeira para Frei Cancão de Fogo do Amor Divino, seu fiel secretário e escrevinhador de suas memórias. Disseram-lhe que assim que houver uma vaga, informarão com a maior presteza, basta que morra um acadêmico. Pena que o Presidente “à força” da República não seja Acadêmico da ACL, porque existem milhões de pessoas rezando para que esse cabra morra.
Inteirado da corrente de orações que cerca a diabólica figura daquele que tomou de assalto a Presidência da República, Frei Mané Mago contou as últimas moedas de sua algibeira e subiu as escadarias do velho L’Escalle, onde comeu 200 gramas de bacalhau, regado por uma boa dose de vinho do Porto. Em seguida, degustou uma xícara de café expresso e umas bolachinhas com doce de goiaba pregado no cocuruto. Frei Cancão de Fogo absteve-se do nobre repasto porque havia comido CINCO coxinhas...


Igreja do Rosário - Centro de Fortaleza-CE

Seguiu pela Guilherme Rocha procurando uma loja da TOK-DISCOS, porém foi logo informado por um transeunte que a referida casa, que fora deleite de sua juventude musical, há muito fora extinta. Procurou as escadas rolantes das lojas Americanas, que também não existem mais e entrou por uma galeria esquisita, batizada de Shopping “não sei das quantas”, onde deparou com 352 coreanos e mais uns 800 japoneses vendendo componentes eletrônicos e produtos de “marca”, todos de procedência e durabilidade duvidosa. A amarelidão dessa gente o fez lembrar, com escrúpulos, dos patos amarelos da Praça Portugal.
Mais adiante cruzou com dois policiais do Ceará Pacífico, de que nos fala o governador Camilo Santana, e perguntou como estavam as coisas no Triângulo das Bermudas e a movimentação naval nas imediações da Coréia do Norte, regiões banhadas pelo dito Oceano. Não obtendo qualquer resposta de futuro, dobrou a esquina apressado.
Seguiu pela 24 de maio, rumo ao Sebo do Geraldo e adquiriu um livro raríssimo de Gustavo Barroso – Mulheres de Paris, onde leu com muito gosto uma crônica sobre a existência de um CAFÉ DU CEARÁ, em plena capital francesa, no distante ano “da graça” de 1931! Sim, meus diletos leitores. Segundo Gustavo Barroso, desde meados do Século XIX, existia em Paris, na rua La Gaité, uma casa de repasto chamada Au Café du Ceará, cujo proprietário, francês de nascimento, a pegara de terceira mão e não sabia a origem do nome. O bairrista Barroso deduziu que algum cearense dos velhos tempos do Ceará cafeicultor, da Serra do Baturité, instalara-se em Paris com esse negócio.
Frei Mané seguiu adiante, sempre acolitado por seu fiel discípulo Frei Cancão do Amor Divino e dirigiram-se ao Beco da Poeira, que não mais existe no seu antigo lugar de origem. Ali pretendiam comprar uma agulha de radiola e um carretel de fita para sua máquina de escrever Olivetti Línea 88. Tudo debalde. Ali encontraram tão somente uma banca de revistas, onde leram a seguinte manchete: “Presidente Temer é internado e faz cirurgia na uretra”, enquanto um camelô esgoelava-se a cinco metros de distância:
- BORRACHA PARA PANELA DE PRESSÃO! DESENTUPIDOR DE PINTO!!!
Pensando ter ouvido mal, Frei Mané Mago perguntou:
- Desentupidor de PIA?
- Não, da pequena ave que pia. Disse-lhe Frei Cancão.
Antigamente, ali se vendia desentupidor para fogão a gás.

Por Frei Cancão de Fogo do Amor Divino


PARÓDIAS DE JOTA BATISTA

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NA PREFEITURA TEM 
UM PAR DE ARMADORES

Reza o velho adágio popular que “uma andorinha só não faz verão”. Talvez tenha sido com esse intento que o cantador Manoel Andorinha, natural de Itatira, resolveu casar-se com dona Júlia e, dessa união, nasceram alguns rebentos, dentre os quais o poeta, compositor e humorista João Batista Azevedo dos Santos, o popular Jota Batista, figura conhecidíssima em Canindé e municípios vizinhos.
Jota Batista despontou em meados da década de 1980 como um inspirado compositor, vencendo diversos festivais de música promovidos em Canindé e outras cidades do interior cearense. Dessa primeira leva de canções, constam “Plangente cantador” e “Nordeste velho pra ter água”, ambas registradas no LP “Rabiscos”, trabalho coletivo, em parceria com Myrza e Di Assis, cuja capa e encarte foram produzidos por mim, ainda nos velhos tempos da prancheta, do nanquim e da “letraset”. Com a renovação da tecnologia e a substituição do disco de vinil pelo CD, Jota Batista gravou o seu segundo trabalho, desta feita sozinho, passeando por vários ritmos musicais, inclusive o brega rasgado de “Pãozinho de amor” e o pegajoso bolero “Dama leviana”, feito em parceria com o poeta Pedro Paulo Paulino. Antes disso, teve a sua composição “Miscigenação”, feita em louvor à romaria de Canindé, gravada em disco por Walter Guimarães, no LP “Praça do Romeiro”, produzido por José Anastácio Pereira, o Zequinha.
Jota Batista tem uma verve aguçada. É um humorista nato, daqueles que perdem um amigo, mas não perdem a piada. Seus trabalhos mais pitorescos estão justamente na forma de cordéis ou paródias, algumas feitas sob encomenda durante as campanhas eleitorais. Duas delas merecem registro. A primeira foi feita para o Chico Mendonça, candidato a vereador por Canindé e a outra para o saudoso Magalhães Neto, candidato a prefeito na mesma cidade. A de Chico Mendonça é uma paródia do samba “Chico Dum-Dum”, de Herivelto Martins e Marino Pinto, magistralmente gravada no acetato pelo eterno boêmio Nélson Gonçalves. Vejamos a versão do Jota Batista:


 CHICO MENDONÇA

Chico Mendonça, 
Candidato sem dinheiro
No pleito passado 
Se aliou com o ‘Doutor’
E no bairro do Mateus
Trabalhou com afinco
De rural e de moto
Quando foi contar seus votos...
Só tinha CINCO.

No outro dia,
O Chico Mendonça
Arengou com o ‘Doutor’
E de madrugada, depois de apuradas
As urnas do Mateus... Os votos seus,
Nos “bê-us” não estavam*
Nas urnas não constavam
E o Chico, adeus!

(* B.U. Boletim de Urna)

Já o Magalhães Neto foi candidato a prefeito em Canindé em três ou quatro ocasiões, depois de ter sido nomeado interventor no vizinho município de Aratuba. O Magá, como era conhecido pelos conterrâneos, era um cara alegre, bonachão e requisitava sempre a colaboração do Jota para fazer os seus jingles de campanha. O problema é que esquecia de acertar os valores previamente combinados, mas no pleito seguinte fazia-se de esquecido e procurava o Jota novamente. Certa feita, alta madrugada, parou o seu ‘bugre’ em frente à casa do autor de “Pãozinho de amor” e deu umas quatro ou cinco buzinadas. Quando o Batista saiu, com aquela cara de sono interrompido, o Magá abriu os braços, deu-lhe um amplexo efusivo e foi logo dizendo:
— Sou candidato novamente! E dessa vez é para ganhar! Vim encomendar minhas músicas.
Ressabiado e ressacado, o Jota balançou a cabeça a moda lagartixa e assentiu, dizendo-lhe que passasse novamente dois ou três dias depois, para apanhar a encomenda. Por essa época, Elba Ramalho havia estourado um xote intitulado “Pra ninar meu coração”, da autoria de Maciel Melo. Jota Batista aproveitou o ritmo contagiante da canção e encaixou esses versos na pegajosa melodia:

PRA NINAR O ELEITOR

Magalhães Neto a tua vez chegou agora
Tu podes crer que vais ganhar esta eleição
Tem muito nêgo só de ôi na Prefeitura
E se esquecendo dos anseios do povão.

Vem depressa que eu já tô contando as horas
Vem, vem, vem cuidar do eleitor...
Vem, vem, VEM ARMAR A TUA REDE
NA PREFEITURA TEM UM PAR DE ARMADOR.

Ora, todos na cidade tinham o Magá na conta de preguiçoso, ou pelo menos de acomodado e perceberam logo que a letra do Jota era uma vingança velada pelos muitos “chêchos” recebidos nas campanhas anteriores.

(...)

Essa crônica será publicada integralmente no livro NO TEMPO DA LAMPARINA, Volume II de Memórias, de Arievaldo Viana, que será lançando em 2018. AGUARDEM!

O VELHO RIBA

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Ribamar Lopes observa o xilogravador Stênio Diniz
talhando uma matriz



Ribamar Lopes

O DIA EM QUE CONHECI 
RIBAMAR LOPES
A vida tem me ensinado que nada acontece por acaso. A partir de 1998 eu passei a ver a Literatura de Cordel com seriedade, porque antes me considerava apenas um leitor e poeta diletante. Fazia por brincadeira, sem a preocupação de publicar e não obedecia qualquer critério comercial com relação à escolha dos temas. Somente quando resolvi enfeixar parte da minha produção no meu livro de estreia, “O Baú da Gaiatice”, é que constatei que 90% do que havia produzido até ali era tão pessoal, tão restrito ao meu círculo de amizades, que o leitor comum ficaria a ver navios, sem entender patavina. É que antes de deixar Canindé para batalhar pela vida em Fortaleza, os temas de nossos cordéis surgiam nas rodas boêmias ou no balcão da velha Casa Marreiro. Fazíamos uma pequena tiragem na “xerox” e nos dávamos por satisfeitos.
Tanto que ao chegar numa agência de propaganda, onde trabalhavam pessoas da capital e também do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, eu era considerado um bicho do mato, um legítimo matuto, coisa que a princípio me causava algum constrangimento, mas depois, refletindo bem, tornou-se motivo de orgulho. Aqui, acolá, diziam, em tom de gozação:
— Esse bicho saiu do sertão, mas o sertão não saiu dele.
Geralmente, tais comentários eram feitos quando eu aparecia na agência com um folheto de cordel ou com LP’s de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, em plena era do CD e outras mídias digitais!
À medida que eu colecionava folhetos, ia escrevendo meus textos e procurando temas mais abrangentes, que fossem compreensíveis a qualquer tipo de público. A sátira política era um de meus temas favoritos, mas também comecei a me enveredar pelo romance de 16, 24 e até 32 páginas, exercitando a minha poética de forma consciente. Fiz várias pelejas imaginárias, sozinho ou ao lado de parceiros, para testar outras modalidades, como o martelo, o beira-mar, o cantador de vocês, o oitavão rebatido e outros gêneros da cantoria.
Quando me preparava para lançar a “Coleção Cancão de Fogo”, uma caixa com dez folhetos, meus e de Pedro Paulo Paulino, passei na gráfica Simões, que ficava na rua Agapito dos Santos (Centro de Fortaleza), e peguei alguns exemplares dos quatro primeiros títulos que acabavam de ser impressos. Minutos depois passei numa banca de revistas da Praça do Liceu e deparei com um senhor grisalho, de estatura mediana, magro, usando uns óculos grossos e arredondados. A figura me pareceu familiar, embora nunca o tivesse visto pessoalmente. Procurei nos escaninhos da mente e acabei deduzindo que havia visto a sua foto no jornal, em matéria assinada pelo jornalista Eliézer Rodrigues, divulgando o lançamento de seu livro “Cordel, Mito e Utopia”. Era o poeta e pesquisador Ribamar Lopes, organizador da melhor antologia de Literatura de Cordel de que se tem notícia no Brasil, aquela lançada pelo Banco do Nordeste.
Hesitei alguns minutos antes de me apresentar, mas, percebendo que ele já se despedia do Bandeira, dono da banca de revistas, adiantei-me e fiz a pergunta que já estava engatilhada:
— O senhor é o escritor Ribamar Lopes?
— Em carne e osso, disse ele.
— Muito prazer. Tenho ouvido falar de suas pesquisas sobre Literatura de Cordel. No momento estou empenhado na publicação de uma caixa de folhetos.
— Uma caixa de folhetos?!
— Sim, respondi. Como eu e meu parceiro já dispomos de vários títulos, resolvemos lançá-los numa coleção, como aquela de Patativa do Assaré, organizada pelo professor Gilmar de Carvalho, que foi lançada pela SECULT-CE.
Ribamar me olhou meio desconfiado, como que duvidando do meu talento, e rebateu:
— Muito bem. Mas, vocês já têm bagagem para isso? Já publicaram alguma coisa?
— Acabo de receber da gráfica alguns exemplares dos quatro primeiros...
— Deixa eu ver. Se prestar eu digo. Se não prestar... Posso ver?
Meti a mão lá na “aduana”, como diz o Kid Morangueira, e saquei os seguintes títulos: Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, Encontro de FHC com Pedro Álvares Cabral, Peleja de Franciné Calixto com Pedro Tatu eDebate de Zé Limeira com os profetas do fim do mundo. Os dois últimos em parceria com Pedro Paulo, que, salvo engano, também estava presente a esse encontro, ocorrido em julho ou agosto de 1999.
Ribamar esboçou um sorriso maroto, ajustou os óculos na ponta do nariz e abriu o primeiro folheto, lendo-o em voz alta:

Eu admiro o cangaço,
Apesar da violência
Dos engenhos o bagaço
Porque a minha vivência
Tem sido nesse sertão
Pesquisando Lampião
Padim Ciço e Conselheiro,
Cultura que não se esmaga
E ouvindo Luiz Gonzaga
Nosso maior sanfoneiro.

No município de Exu
Divisa com o Ceará,
Nos Sertões do Pajeú,
Do Juazeiro pra lá
Nasceu este nordestino,
Artista desde menino,
Orgulho do meu sertão
Dia treze de dezembro
De doze, ainda me lembro,
Nasceu o REI DO BAIÃO.

O mestre arregalou os olhos, abriu-se num sorriso largo e sincero e perguntou:
— É tudo em dez pés?
— Não, respondemos. Tem folhetos em sextilha, setilha, e também pelejas com outras modalidades da cantoria.
Ribamar leu mais algumas estrofes de outro folheto e acenou com o polegar para cima, como faziam os romanos no Coliseu, quando queriam salvar a vida de um gladiador. Entabulamos um papo animado e ele percebeu, de imediato, que não éramos neófitos nem penetras naquela seara. Então, fez-nos um convite:
— Meninos, eu tenho o que fazer em casa. Moro nesse prédio, quase defronte à banca de revistas. Querem me fazer uma visita?
— Agora?
— Sim, por que não?
Seguimos o Ribamar, e a partir daquele instante estávamos crismados como poetas populares, sagrados cavaleiros das rimas por uma das maiores autoridades no assunto. Quando adentramos no apartamento em que ele morava, não nos surpreendemos com a quantidade de livros nas estantes que havia na sala, no corredor, no seu gabinete de trabalho e outros cômodos da casa. O que nos deixou basbaques, boquiabertos, foi a coleção de folhetos de cordel, composta de quase seis mil títulos, organizada em dois armários de ferro com amplos gavetões, cuidadosamente organizados por assunto, autores, editores etc. Coisa metódica, de um pesquisador sério e organizado.
E que alegria reencontrar folhetos que havíamos lido na infância e que haviam se extraviado, levados por empréstimo, destruídos pela ação do tempo ou perdidos em faxinas e mudanças.
Quis pedir alguns emprestados, mas achei que estaria abusando da confiança do novo amigo e deixei para uma visita futura, que aconteceu logo na semana seguinte. Ribamar, um pouco desconfiado, pegou alguns títulos que tinha em duplicata e me emprestou, dizendo que forneceria outro lote, assim que eu devolvesse o primeiro. Foi assim que pude reler todos os clássicos que havia lido na infância e travar contato com outros títulos igualmente preciosos, como a obra dos poetas Delarme Monteiro e Manoel Camilo dos Santos, que eu mal conhecia. De Delarme só havia lido, até então, “O sino da Torre Negra” e de Camilo apenas o clássico “Viagem a São Saruê”, que aparece um duas ou três antologias. Em setembro daquele mesmo ano, no dia do meu aniversário, o Velho Riba me presenteou com um exemplar da terceira edição da Antologia do BNB, obra espetacular, onde os folhetos aparecem de forma fac-similar, algo que lhe custou muito trabalho, pois na época não se conhecia o scanner e outras ferramentas de tratamento de imagem.
Para encurtar a conversa, além de amigo dileto, Ribamar tornou-se, a partir dali, revisor de minhas obras e, mais das vezes, contribuiu com sugestões maravilhosas. Caso dos livros “São Francisco de Canindé na Literatura de Cordel” e “Acorda Cordel na Sala de Aula”, para os quais escreveu o prefácio, fez a revisão e ainda sugeriu a inclusão de alguns assuntos.
Foi uma perda muito sentida, a sua partida inesperada em janeiro de 2006. Na véspera tivemos um encontro no Fabiano da Panelada, ali na Praça do Liceu, e o Riba, jovialmente, recordou muitos episódios da sua infância em Pedreiras-MA e de sua juventude, na capital São Luís. Poeta de esmerado talento, contista imaginoso e ensaísta consagrado, Ribamar nos deixou um legado literário que, infelizmente, vai sendo aos poucos esquecido, nesse país de desmemoriados. Dentre as amizades que cultivou, os que sempre o relembram em conversas, além de mim, figuram o escritor Raymundo Neto, que o homenageou numa crônica belíssima e o poeta Rouxinol do Rinaré, que adaptou alguns de seus contos para o Cordel.


Artigos de Ribamar Lopes publicados no jornal O POVO

José Ribamar Lopes nasceu no dia 8 de novembro de 1932 em Pedreiras (Maranhão) e faleceu em Fortaleza (Ceará) aos 24 de janeiro de 2006.
Contista, poeta e ensaísta, nas últimas décadas vinha desenvolvendo grande atividade como pesquisador e incentivador da Literatura de Cordel. Deixou publicado os seguintes livros: "Literatura de Cordel (Antologia)", "Quinze Casos Contados" (Contos); "Viola da Saudade" (Poesia) e "Sete Temas de Cordel" (Ensaio), além do inédito "O Dragão da Literatura de Cordel", cujos originais foram confiados à Tupynanquim Editora.

Arievaldo Vianna

(Crônica integrante do livro 
NO TEMPO DA LAMPARINA)


ROMANCEIRO DO GADO

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O Romance de Carmelita
Uma introdução ao Romanceiro nordestino

             As pesquisas em torno da cultura popular no Brasil visaram muito mais identificar variantes de temas universalizados pelo interesse moral, do que recolher manifestações próprias e interpreta-las no contexto cultural das raças combinadas. O sergipano Silvio Romero, sem prejuízo da recolha que fez de textos europeus, quis marcar a sua obra com as contribuições locais, de indígenas, negros, colonos brancos e mestiços, chegando a discutir teorias com Teófilo Braga para defender suas posições radicais.
            No seu livro de Cantos Populares do Brasil, Silvio Romero divulga versões de poemas nordestinos, curtos como as quadras, comuns como as sextilhas, cantados, recolhidos da memória do povo, alguns deles reescritos, como O Boi Espácio e o Rabicho da Geralda, que José de Alencar divulgou no jornal carioca O Globo, em 1874, sob o título geral de Nosso Cancioneiro. A posição radicalizada do escritor sergipano responde, na lonjura do tempo, pela sobrevivência de uma literatura mestiça, usual nas camadas populares, notadamente no Nordeste brasileiro, mas pouco acolhida nos manuais literários.
            O Romanceiro tradicional, e dentro dele o romanceiro fronteiriço, opondo cristãos e mouros como personagens invariantes, tem uma nacionalidade no contexto de histórias e culturas identificadas numa determinada civilização do mundo. As motivações, mais que temáticas, servem para afirmar valores com os quais algumas sociedades estabeleceram seus domínios e territórios. Os romances foram até onde a civilização levou, fosse entre lutas e conquistas no mundo velho, fosse nas entradas inaugurais do Novo Mundo, aí embalados pelas ondas do mar desconhecido, quando os missionários cantavam para tornar a viagem menos cansativa. Os romances, como disse Frei Tomás de la Torre, no seu relato sobre o cruzamento do oceano Atlântico, em 1844, foram conotados com os seus propósitos religiosos e, em conseqüência, morais.
Os romances produziram, no Brasil e na América espanhola, ampla coleta e ensejou estudos críticos de elevado nível, comparável com os estudos de Menendez Pidal, e de outros exegetas de tais estórias cantadas. No Brasil moderno, o nome de Bráulio do Nascimento tem corrido como o principal mestre do trabalho interpretativo e tipológico, que ambienta o romance nas terras brasileiras, estabelecendo os pontos de contato, ideológicos e estéticos, necessários à identificação da poesia tradicional.
            O Romance de Carmelita, comum entre os vaqueiros nordestinos, é uma espécie de matriz, da qual descendem diversos outros romances, cantados com a mesma melodia, e com a mesma medida dos versos e estrofes. As trocas, que podem ser vistas como adaptações, asseguram semelhança ao modo de compor e de cantar, singular no universo popular, devendo sugerir uma nova conceituação que mostre filiação formal aos tipos de romances portugueses e espanhóis, alguns deles transformados pelos mestiços brasileiros, como queria o próprio Silvio Romero, ao classificar e publicar sua Antologia.
            A tradição de romances de vaqueiros e dos aboios conserva a melodia única e a temática que abarca personagens permanentes, em tudo equivalentes aos personagens do romance tradicional. O Rei /O Fazendeiro; O Cavalheiro/O Vaqueiro; O Reinado/Os Campos dos Gados, personagens e cenários. A ação transcorre no ambiente típico das vaquejadas, como torneios corriqueiros, lado lúdico dos criatórios que foram, no Nordeste, durante muito tempo, base da economia nordestina.

Folheto de Lucas Evangelista, com a personagem Carmelita

                             
O Romance de Carmelita

1          Chegando o mês de novembro,
            Dando as primeiras chuvadas,
            Reúne-se a vaqueirama,
            Em frente a casa caiada,
            Pra ver se nos campos vastos,
            A rama já tá molhada.
          

2          O vaqueiro da fazenda,
            É quem se monta primeiro,
            Em seu cavalo castanho,
            Bonito e muito ligeiro,
            E vai pros campos pensando,
            Na filha do fazendeiro.


3          Corre dentro da catinga
            Rolando em cima da sela,
            Se desviando de espinho,
            Unha de gato e favela,
            Abóia em verso falando
            Na beleza da donzela.
          

4          E dedica o seu aboio
            A Vaca mansa e bonita,
            Tendo lugar no chocalho,
            Um lindo laço de fita,
            Seu nome é Rosa do Prado,
            Um mimo de Carmelita.
  

5          Peço desculpa aos vaqueiros,
            Em frente a casa caiada,
            Um cabra de voz bonita
            Sai cantando uma toada,
            Que a filha do fazendeiro,
            Fica logo apaixonada.


6          Carmelita quando vê
            O seu amor verdadeiro,
            Todo vestido de couro,
            Começa no desespero,
            Mamãe deixa eu ir embora
            Na garupa do vaqueiro.


7          O vaqueiro adoecendo,
            Coloca os couros na cama,
            Pelo campo o gado urra,
            Como quem por ele chama,
            Na porteira do curral
            Berra toda a bezerrama.
            

8          Diz ele quando eu morrer
            Coloquem no meu caixão,
            Meu uniforme de couro,
            Perneira, chapéu, gibão,
            Pra eu brincar com São Pedro,
            Nas festas de apartação.


9          Não esqueçam de botar,
            As esporas e o chapéu,
            O retrato do cavalo
            Que eu sempre chamei Xexéu,
            Pra eu brincar com São Pedro
            Nas vaquejadas do céu.


10        Diz ele quando eu morrer,
            Não quero choro nem nada,
             Quero meu chapéu de couro
            E uma camisa encarnada,
            Com umas letras bem bonitas:
            Foi o Rei da Vaquejada.


11        Termino me despedindo
            Das terras, dos tabuleiros,
            Dos grotões e das chapadas,
            De todos os bons vaqueiros,
            Dos currais e das famílias
            De todos os fazendeiros.

FONTE: http://www.infonet.com.br/noticias/cidade/ler.asp?id=97400

ROMANCE DE LUCAS EVANGELISTA resgata a personagem CARMELITA:


LINK:https://issuu.com/acervocordeis/docs/a_vida_de_um_vaqueiro_valente


NORDESTE CABOCLO

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Há quatro anos estive no programa Nordeste Caboclo, do poeta Carneiro Portela e relembrei esse poema de Zé Praxédi, o Poeta Vaqueiro, que ele costumava declamar no final do programa, desde os tempos do CEARÁ CABOLCO, na TVC. O amigo Édson Crisóstomo, de Canindé, me enviou o texto completo do poema:

DOTÔ, INTÉ OUTRO DIA
(Zé Praxédi, o Poeta Vaqueiro)

Seu doto inté asturdia
basta mecê precisar
um criado às suas ordens
na Serra do Jatobá...

Pros almoço tem galinha
tem quaiada pro jantar
água cheirosa de tanque
pra vosmecê se banhar.

Leite quente ao pé da vaca
quando o dia amanhecer
café torrado no caco
de quando invez pra você.

Aguardente potiguar
caso goste de beber
capim mimoso verdinho
pra seu cavalo comer.

Pra vosmecê merendá
mel de abelha com farinha
tem da fonte milagrosa
água fria na quartinha.

Pra vosmecê se deitar
uma rede bem arvinha...
Mas,leve tombém sua muié
pruquê lá só tem a minha!


08 de janeiro

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ANIVERSÁRIO DE NASCIMENTO 
DE MESTRE AZULÃO


Xilogravura de ERIVALDO


Mestre Azulão visitando a minha residência.

Se alguém falar no poeta José João dos Santos, cordelista e editor, alguns, certamente, o confundirão com João José da Silva, criador da Luzeiro do Norte, uma das principais editoras de cordel nas décadas de 1950-60. Porém se acrescentar, logo após o nome de batismo, o apelido que o celebrizou, aí não restará mais dúvidas. José João dos Santos é ninguém menos que o Mestre Azulão,paraibano da cidade de Sapé, onde nasceu aos 8 de janeiro de 1932, filho de João Joaquim dos Santos e de Severina Ana dos Santos.
Figura notável no universo do cordel, Azulão migrou muito jovem para o Rio de Janeiro, onde fez dupla com outros cantadores de fama, dentre os quais o famoso Palmeirinha. Ambos foram projetados através do quadro Onde está o poeta?, num programa de rádio apresentado pelo famoso Almirante.
Para a campanha de defesa do folclore brasileiro, Azulão gravou o disco Literatura de cordel, em 1975, onde interpreta de forma brilhante o poema ‘O marco brasileiro’, de Leandro Gomes de Barros, inserindo uma belíssima introdução ao som da viola, que seria reaproveitada posteriormente por Lenine, na gravação de ‘O Marco Marciano’, composição sua e de Bráulio Tavares, inclusa no CD ‘O dia em que faremos contato’ (BMG).
Lembro-me de havê-lo conhecido pessoalmente em dezembro de 2000, por ocasião de minha posse na ABLC – Academia Brasileira de Literatura de Cordel, em sessão realizada na Federação das Academias de Letras da América Latina, no Rio de Janeiro. Bem antes disse eu já havia travado contato com a sua obra e tinha alguns de seus folhetos na minha coleção particular, dentre os quais ‘Peleja de Mestre Azulão com Zé Limeira’, exemplar que pertenceu ao saudoso Jocelyn Brasil, um dos heróis da campanha “O petróleo é nosso”, ocorrida ainda na Era Vargas.
Em outubro de 2012, o jovem diretor Fernando Assunção realizou uma série de documentários em vídeo com os acadêmicos da ABLC. Fui um dos entrevistados e, no dia seguinte, a convite de Chico Salles e do próprio Fernando, fui assistir à entrevista de Mestre Azulão na Barraca da Chiquita, na Feira de São Cristóvão. Em dado momento da entrevista, perguntei se Mestre Azulão havia conhecido o poeta Rafael de Carvalho, famoso ator paraibano, que utilizava a poesia popular como um de seus instrumentos de trabalho.


Gravando o cordel O BATIZADO DO GATO

Azulão começou relembrando o famoso Comício da Central do Brasil, ou Comício das Reformas, (realizado no dia 13 de março de 1964, na cidade do Rio de Janeiro, na Praça da República, situada em frente à estação da Central do Brasil). Segundo o poeta, uma multidão incalculável ali se reuniu, sob a proteção de tropas do I Exército, unidades da Marinha e Polícia, para ouvir a palavra do Presidente da República, João Goulart, e do governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola. As bandeiras vermelhas que pediam a legalização do Partido Comunista Brasileiro e as faixas que exigiam a reforma agrária foram vistas pela televisão, causando arrepios nos meios conservadores.
O desfecho desse episódio, todos já conhecem, o comício histórico da Central do Brasil desencadeou o golpe militar e instauração da ditadura que perdurou por duas longas décadas. Pois bem, naquela época Azulão já havia travado amizade com Rafael de Carvalho e, a pedido deste, escreveu um folheto sobre o Comício da Central, em linguagem progressista e simpática à causa comunista. Foram impressos 10 mil exemplares, segundo relatou Azulão, e as vendas iam de vento em popa, quando o Golpe Militar foi deflagrado. Os militantes mais ativos começaram a ser perseguidos e um certo dia, eis que o poeta Rafael de Carvalho aparece em sua casa, em Engenheiro Pedreira-Japeri, na Baixada Fluminense, pedindo abrigo por alguns dias, pois estava na mira da repressão. Azulão abrigou o amigo, porém com muito receio, e certa noite, levantou-se de madrugada e fez um buraco no quintal, onde enterrou um pacote contendo todo restante da tiragem do referido folheto. Segundo ele, só foi desenterrar o pacote muitos anos depois da restauração da democracia, e não encontrou mais nada que se aproveitasse, apenas uma massa disforme destruída pela ação do tempo.


No palco da Praça do Cordel, Bienal do Livro do Ceará


GLOSADOR E GOZADOR

Mestre Azulão foi uma das grandes atrações do I Festival Internacional de Trovadores e Repentistas, promovido por Rosemberg Cariri nas cidades de Quixadá e Quixeramobim, no período de 29 de outubro a 2 de novembro de 2004. Esse evento teve a participação de muitos poetas, xilogravadores e também compositores do porte de Elomar, Xangai, Ednardo e Renato Teixeira, dentre outros. Um repórter de uma emissora local, ao deparar com aquele velhote baixinho, de chapéu e óculos fundo-de-garrafa, o interpelou para uma entrevista, pensando tratar-se de Patativa do Assaré, à época já falecido. Azulão, um gozador de marca, deixou a coisa fluir e só esclareceu a verdade nos momentos finais da entrevista, deixando o pobre radialista meio apalermado. É nisso que dá, fazer entrevistas sem se inteirar previamente a respeito do entrevistado.


Zé Maria, Azulão, Arievaldo e Geraldo Amâncio

Depois dessa aventura em Quixadá, Azulão tornou-se “figurinha carimbada” na Bienal do Livro do Ceará, sempre convidado como atração da “Praça do Cordel”, espaço coordenado pelo artista multimídia Klévisson Viana. Além de resgatar as antigas toadas do cordel, na reprodução de clássicos como ‘A chegada de Lampião no Inferno’ e ‘Romance do Pavão Misterioso’, cuja toada aprendera com o próprio José Camelo de Melo, Azulão também declamava trabalhos de sua autoria e fazia versos de improviso, de acordo com os temas fornecidos pela plateia. Numa de suas passagens por Fortaleza, levamos o poeta até o estúdio Pro-áudio, do amigo Marcílio Mendonça, onde ele gravou diversas faixas, inclusive uma participação especial no CD do projeto Acorda Cordel, o poema ‘O batizado do gato’, de minha autoria.
Até mesmo quando interrogado a respeito da sua terra natal, Azulão não deixava de lado a sua verve humorística e relembrava um episódio que lhe contavam na infância, de uma vaca que teria comido um papagaio num ano de seca crucial:

Na terra de Azulão
Não chove no mês de maio
O povo de lá só vive
De fazer cesto e balaio
É a terra aonde a vaca
Engoliu um papagaio.

Na sua opinião, a vaca confundira o verde papagaio com uma moita de capim. Na última vez que o entrevistei, durante a Bienal Internacional do Livro do Ceará de 2014, recolhi, dentre outras, essas duas estrofes, a primeira criticando o fanatismo religioso de algumas pessoas e a outra uma sátira à descida da Missão Apolo 11 na lua:

Tem muita gente fanática
Por jogo e religião
Ídolo de televisão
E todo tipo de prática...
Feitiçaria asiática
Presta adoração a bruxa;
Lambe os pés, batina, e puxa,
Saco do Papa de Roma
E, se lhe der, ainda toma,
UM CHÁ DE XIXI DA XUXA!

Foi na viagem primeira
Da Missão Apolo Onze
Uma plaqueta de bronze
Um mastro e uma bandeira
Eles viram uma clareira
Lá na lua prateada
Depois da nave pousada
Foram saber o que era
Só acharam na cratera

Prego, martelo e mais nada!

(...)


Com Mestre Azulão e Bule-Bule, no antigo Centro de Convenções do Ceará


 ATENÇÃO! Este ensaio será publicado integralmente no livro "NO TEMPO DA LAMPARINA", de Arievaldo Vianna, que será lançado em breve. AGUARDEM!

Cultura Popular:

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Rosemberg Cariry lança livro sobre Cego Aderaldo

O cineasta e pesquisador da cultura popular Rosemberg Cariry lançou no último dia 22 de dezembro o livro "Cego Aderaldo - o homem, o poeta e o mito", às 18h, dentro da programação do Pequeno Encontro de Violeiros e Repentistas do Sertão Central, na Casa de Saberes Cego Aderaldo, em Quixadá (CE). A obra sucede a realização do documentário "Cego Aderaldo - o cantador e o mito" (2012), que será exibido antes, às 16h, no mesmo evento. Após a exibição, o cineasta participou de um bate-papo com o público.
O livro de Rosemberg contempla 10 anos de pesquisa sobre vida e obra do poeta e cantador cearense Cego Aderaldo (1878-1967), nascido no Crato. Editada pela Casa de Saberes Cego Aderaldo e Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE), a publicação (Interarte) traz 87 recortes ou "sequências de vida" de Aderaldo, divididas em três atos ao longo de pesadas 780 páginas.
Além do lançamento em Quixadá, Rosemberg Cariry também vai lançar o livro na Escola de Saberes de Barbalha (CE), no próximo dia 28.

Diretor de filmes como "Corisco & Dadá" (1996), "Patativa do Assaré - Ave ou poesia" (2007) e, mais recentemente, "Pobres Diabos" (lançado em 2013 no circuito nacional de festivais e somente este ano nas salas comerciais do País), Cariry explica, em entrevista por e-mail, que a publicação terá, apesar da dimensão robusta (quase 800 páginas e mil fotos de época), distribuição gratuita para instituições culturais, escolas e universidades.
"Essa é uma edição popular. Mas uma pequena quantia de livros será separada para a venda a pesquisadores, como forma de permitir o acesso nacional à obra, que interessa a muitos estudiosos", situa.
O cineasta destaca que, pelo interesse em torno do livro, ainda antes do lançamento, já está sendo pensada uma segunda edição, "a cores e com capa dura", detalha.
Rosemberg Cariry recapitula que a ideia de levantar a publicação surgiu bem antes do lançamento do documentário. Ele conta que há 21 anos, na França, ouvia um disco ("Folk Songs", 1981) do trio Egberto Gismoni, Jean Garbarek e Charles Haden, incluindo a faixa "Cego Aderaldo".
"Já havia também a homenagem feita pelo Baden Powell, Nara Leão e Cirino, entre outros. Então eu me perguntei: por que o Ceará resolveu esquecer esse grande artista? A partir daí dediquei-me às pesquisas e a juntar documentos e depoimentos para realizar o filme. Estou contente", revela.
Com o lançamento de "Cego Aderaldo - o homem, o poeta e o mito", Rosemberg Cariry se diz com a "missão cumprida" e enfatiza que o Ceará volta a valorizar um artista popular de "extraordinária grandeza. Mais do que uma pessoa histórica revelada em sua biografia, temos também a importante dimensão do mito", observa.

Percurso
Indagado se o plano era lançar o livro em paralelo ao documentário, há cinco anos, Rosemberg confirma que havia, sim, essa expectativa. Mas o plano original não vingou e o filme já traz uma reputação consolidada.

"Foi lançado em vários festivais (a exemplo do Cine Ceará em 2012), (e ainda) terá exibição nacional, através da TV Brasil, no próximo ano", adianta o diretor.
Nas resenhas do próprio filme, os textos dão conta do trabalho do cineasta em contornar fontes "imprecisas" (algumas histórias só tinham registro pela oralidade das fontes) para levantar a pesquisa minuciosa sobre a trajetória do Cego Aderaldo.
Sobre essa checagem, ele explica que "havia a própria memória do Cego Aderaldo, organizada e publicada pelo escritor Eduardo Campos. Também muitos acervos jornalísticos, além de artigos e ensaios com referências que vão de Leonardo Mota a Rachel de Queiroz, de Rogaciano Leite a Câmara Cascudo, de Zélito Magalhães a Cláudio Portela, de Geraldo Amâncio a Oswald Barroso, cada um contribuindo ao seu modo", especifica.
Ele complementa que "também a oralidade foi de grande importância, sobretudo as indicações e memórias de dona Nair de Oliveira Brito (viúva de Mário Aderaldo) e do historiador João Eudes Cavalcante Costa, entre tantos outros. Talvez por isso três páginas do livro são apenas de agradecimentos às minhas fontes", destaca o cineasta.


Futuro
Rosemberg Cariry reconhece que, embora tenha entregue uma obra de longo fôlego a respeito de Cego Aderaldo, a riqueza do mito e a intrigante biografia do homem (ele adquiriu deficiência visual no curso da vida, mas não se entregou às limitações do bloqueio) ainda pedem novos olhares de pesquisadores e de interessados em geral pela cultura popular.
"O Cego Aderaldo não é apenas um fenômeno da força, do heroísmo e da cultura da gente cearense, ele é também um lugar para se pensar esse País imenso, contraditório e desigual. Através dele é possível pensar e vislumbrar o Brasil profundo, ao mesmo tempo original e herdeiro universal de culturas e povos", reflete Cariry.



Fonte: Diário do Nordeste

CORDEL E LEITURA

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PALESTRA "A LITERATURA DE CORDEL COMO FERRAMENTA DE INCENTIVO À LEITURA, com Arievaldo Vianna, na JORNADA PEDAGÓGICA do município de Madalena-CE.
Dia 17 de janeiro de 2018, no auditório da Secretaria de Obras do Município, a partir de 9h00.
BREVEMENTE será implantada em Madalena a Biblioteca de Cordel Alzira de Sousa Lima, com acervo de 800 folhetos e diversos livros sobre o assunto. Aguardem!

Realização: Secretaria de Educação, Cultura e Desporto de Madalena.

Apoio: AESTROFE

DESPEDIDA

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ENCANTOU-SE O POETA LOURO BRANCO
O MAIOR HUMORISTA DA CANTORIA


Acabam de informar, pelas redes sociais, o falecimento do grande poeta LOURO BRANCO, repentista genial e cancioneiro dos mais inspirados.
Francisco Maia de Queiroz, o popular Louro Branco, Poeta, repentista e compositor, nasceu dia 02 de Setembro de 1943, na Vila Feiticeiro no município de Jaguaribe - CE. Foi pescador, agricultor e vendedor ambulante. Começou a cantar aos 12 anos de idade.
Cantou em vinte estados do Brasil, com todos os maiores cantadores do Nordeste, participou em mais de 400 festivais, tem ao todo mais de 700 composições. Esteve também em Portugal, fazendo dupla com o poeta cearense Geraldo Amâncio, um de seus maiores admiradores.
Louro Branco publicou dois livros: A Natureza Falando, e Da Casca Até o Miolo.
Casado com Maria Gomes de Souza Queiroz, o casal teve uma prole de seis filhos.

HUMORISTA NATO. O poeta Paulo de Tarso, admirador da cantoria e fã de Louro Branco costuma memorizar e declamar estrofes engraçadas do poeta. Segundo ele, Louro Branco disse essa estrofe numa cantoria, quando Valdir Teles o criticou por ter mudado de religião:

Valdir vive criticando
Porque agora eu sou crente
E tá dizendo às mulheres
Que eu fiquei impotente...
Quem diabo disse a Valdir
Que Bíblia capava gente?

VEJAM A SEGUIR, mensagem do poeta GERALDO AMÂNCIO, um de seus parceiros mais freqüentes, publicada hoje no facebook:

“A CANTORIA ESTÁ DE LUTO

Há poucos minutos recebi a triste notícia do falecimento do repentista Louro Branco. Com ele a cantoria perde a graça, o humor, o raciocínio a jato e a inteligência maior do improviso.
Louro Branco incontestavelmente foi o maior repentista dos últimos anos. Aliás ele era o único grande repentista vivo.
Nos últimos cinquenta anos não surgiu nenhum grande repentista. Temos grandes cantadores, porém a safra de grandes repentistas se extingue com a morte de Louro Branco.
Foi sempre muito injustiçado nos julgamentos dos festivais de improviso. Eu acompanhei e testemunhei essas injustiças.
De forma que participei de um grande festival fazendo dupla com ele, no marco zero em Recife e tiramos primeiro lugar, ganhando dos famosos medalhões da viola. Quando deram o resultado eu chorei de emoção, não por mim mas, por ele, que dificilmente era colocado no lugar que merecia.
Quando o cineasta Rosemberg Cariri foi fazer o filme sobre o cego Aderaldo, me convidou para fazer o papel principal e eu pedi que ele convidasse o poeta Louro Brando e botasse em meu lugar. Ele perguntou por que e eu disse que Louro Branco era extraordinário e não tinha o espaço merecido,  e à mim Deus já me Deu muitas graças. Tomo o próprio Rosemberg por testemunha. Se eu não falar isso ninguém fala.

LOURO PELAS RIMAS CERTAS
IRÁ ENCONTRAR COM ZELO
UM CÉU DE PORTAS ABERTAS
E CRISTO PRA RECEBÊ-LO."

Abaixo um poema de LOURO BRANCO que era o predileto do meu saudoso amigo Ribamar Lopes:


O CASAMENTO DOS VELHOS

Tem certas coisas no mundo
Que eu morro e num acredito
Mas essa eu conto de certo
Dum casamento bonito
De um viúvo e uma viúva
Bodoquinha Papaúva
E Tributino Sibito              

O véio de oitenta ano
Virado num estopô
A véia setenta e nove
Maluca por um amor
Os dois atrás de esquentar
Começaram a namorar
Porque um doido ajeitou

Um dia o véio comprou
Um corpete pra bodoquinha
Quando a véia foi vestir
Nem deu certo, coitadinha
De raiva quase se lasca
Que o corpete tinha as casca
Mas os miolo num tinha

No dia três de abril
Vêi o tocador Zé Bento
Mataram trinta preá
Selaram oitenta jumento
Tributino e Bodoquinha
Sairam de manhazinha
Pra cuidar do casamento

O veião saiu vexado
Foi se arranchar na cidade
Mandaram chamar depressa
Naquela oportunidade
O veião chegou de choto
Inda deu catorze arroto
Que quase embebeda o padre

O padre ai perguntô:
Seu Tributino, o que pensa,
Quer receber Bodoquinha
Sua esposa, pela crença?
O veião dixe: eu aceito
Tô tão vexado dum jeito
Chega tô sem paciência

E preguntô a Bodoquinha:
Se aceitar esclareça
A véia lhe arrespondeu
Dando um jeitim na cabeça
Aceito de coração
Tô cum tanta precisão
Tô doida que já anoiteça

Casaram, foram pra casa
Comeram de fazer medo
Conversaram duas horas
Uns assuntos duns segredo
E Bodoquinha dixe: agora,
Meu pessoá, vão embora
Que eu quero drumi mais cedo

O véi vestiu um pijama
Ficou vê uma raposa
A véia de camisola
Dixe: óia aqui sua esposa
Cuma é, vai ou num vai?
O veião dixe: ai, ai, ai
Já tá me dando umas coisa

A véia dixe me arroche
Cuma se novo nóis fosse
O véio dixe: ê minha véia
Acabou-se o que era doce
A véia dixe: é assim?
Então se vai dar certim
Que aqui também apagou-se

Inda tomaram uns remédio
Mas num deu jeito ao enguiço
De noite a véia dizia:
Mas meu véi, que diabo é isso?
Vamo vendê essa cama
Nóis sempre demo na lama
Ninguém precisa mais disso

A véia dixe: isso é triste
Mas esse assunto eu esbarro
Eu já bati o motor
Meu véi estrompou o carro
Ê, meu veião Tributino
Nóis dois só tem um menino
Se a gente fizer de barro.

MENINOS, EU VI

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AINDA O LOURO BRANCO

Louro Brancose apresentou ao lado de Zé Viola no I Festival Nordestino da Viola, promovido por Geraldo Amâncio, no Teatro José de Alencar, em 1998. Eu estava nas torrinhas do teatro, com meu irmão Itamar e mais alguns amigos. O apresentador do festival era o compositor César Barreto. Desenvolvendo o mote “Do que a vida me põe para fazer / São as coisas que faço sem gostar”, sorteado pelo apresentador, o piauiense Zé Viola temperou a garganta e soltou o vozeirão numa estrofe inspirada:

Arrancar macaxeira em barro duro
Agradando um patrão que me humilha
Não poder afastar a minha filha
Dos românticos abraços do escuro
Suportar um marmanjo sem futuro
Agarrar uma irmã minha e beijar
Recordar de papai e não chorar,
Ir até a sua casa e não lhe ver...
DO QUE A VIDA ME PÕE PARA FAZER
SÃO AS COISAS QUE FAÇO SEM GOSTAR.

Choveram aplausos,  mas foi Louro Branco quem botou o teatro abaixo com esse gracejo:

Viver liso ou morar detrás da grade
Jantar leite de saco com biscoito
Trocar uma gatona de dezoito
Numa velha de oitenta e seis de idade
Botar grande negócio na cidade
E mandar um ladrão gerenciar
Perguntar se o motel é pra rezar
E se a farmácia tem tripa pra vender...
DO QUE A VIDA ME PÕE PARA FAZER
SÃO AS COISAS QUE EU FAÇO SEM GOSTAR.

O primeiro lugar ficou para a dupla Sebastião Dias e Oliveira de Panellas, que também estavam em noite inspiradíssima. Louro e Zé Viola ficaram em segundo, porém, na saída do teatro, muita gente dizia que Louro e seu parceiro é que mereciam, de fato, o primeiro lugar.




Vejamos, a seguir, matéria publicada hoje no PORTAL VERMELHO sobre o genial repentista cearense:

Poetas e admiradores lamentam morte do repentista Louro Branco

Rapidez de raciocínio, humor aguçado, inteligência, o maior de todos os repentistas. As opiniões sobre Francisco Maia de Queiroz são unânimes. Louro Branco, considerado uma das maiores expressões da cultura popular nordestina, faleceu na última quinta-feira (18), aos 74 anos, vítima de complicações cardíacas. Não faltaram elogios e exaltação ao conterrâneo, filho de Jaguaribe, que se notabilizou como cantador, poeta, repentista, artista popular e divulgador da cultura da região.

Louro Branco era considerado um dos maiores expoentes da cultura nordestina. Para Marcelo Nogueira, o Ceará e a cultura perderam um grande representante. “Louro Branco tinha inteligência, habilidade e agilidade com as palavras. Com linguagem rápida, respondia sempre com raciocínio sofisticado”, elogia. Já o cordelista Cabo Chico recorda de tê-lo visto em diversas apresentações, dentre elas num festival que organizou em Iguatu, cidade localizada na região Centro-Sul do estado, enquanto secretário de cultura do município. “Ele era um grande repentista, de incrível velocidade de raciocínio. Vi Louro Branco ser aplaudido de pé por colegas da viola e pelo povo que tanto o admirava”, ressalta.

O professor Joan Edesson, co-autor do livro Cordel Umbilical, destacou a unanimidade de Louro Branco. “Morreu o poeta, o último grande repentista do Brasil no sentido de ser unânime entre cantadores e apreciadores da viola. Rápido, representava o sentido exato do repente. Depois dele, não surgiu, nas últimas décadas, ninguém com seu talento e habilidade. Sua unanimidade estava também em sua simpatia. Era um sujeito amigo dos cantadores e dos amantes da cantoria”, reconhece.

Para o cordelista Arievaldo Viana, Louro Branco faz parte de uma geração de cantadores essencialmente repentista e improvisador. “Ele não escrevia e nem pensava muito antes de fazer. Sempre trabalhou com uma rapidez assombrosa”, destaca. O membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel recorda de tê-lo visto em diversos festivais e ser, por vezes, injustiçado. “Apesar de ter versos geniais, não tinha boa dicção. Mas quem o conhecia, era acostumado com sua fala. Vindo de ambiente rural, sem muito estudo, tinha excepcional cultura e inteligência luminosa”.

Arievaldo destaca ainda a parceria de Louro Branco com o também cearense e repentista Geraldo Amâncio. “Eles eram uma dupla perfeita. Geraldo fazia de tudo para que Louro se sobressaísse. No nosso jargão, servia de ‘escada’, dando o tema pronto para que ele fizesse seus gracejos”, enaltece.

Considerado um de seus maiores parceiros, Geraldo Amâncio destaca o que Louro representa para a cantoria. “É o maior repentista do mundo”. “Louro Branco foi um grande parceiro, um orgulho para nós cearenses que, ao lado de Patativa do Assaré, nosso maior poeta popular, e de Cego Aderaldo, o mais famoso deles, consolidou a cultura do Estado e da Região de forma brilhante. Com ele se foram a irreverência, o humor e a graça. Para ele não há substituto”, ratifica.

E, em versos, Geraldo Amâncio homenageia o amigo:

A viola calou-se, o som sumiu
Toda rima está vesga, o verso manco
Com a morte do grande Louro Branco
Que a convite de Deus ao céu subiu.
Se tem substituto, ninguém viu
No passado, nem tem atualmente.
Nós perdemos a última semente
Que o roçado do verso safrejou
A lagarta do tempo devorou
Os maiores artistas do repente.

Leia também, no PORTAL VERMELHO: http://www.vermelho.org.br/noticia/306676-1

A cantoria está de luto com a morte do repentista Louro Branco
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