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CORDEL NO TEATRO

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O RICO GANANCIOSO E O POBRE ABESTALHADO, CORDEL DE ARIEVALDO VIANNA, É ADAPTADO PARA O TEATRO

O cordel “O rico ganancioso e o pobre abestalhado”, de Arievaldo Vianna, foi adaptado pela Murion Cia de Teatro - Padre Paraiso/MG e vem sendo apresentado com sucesso em festivais realizados em Minas Gerais.

SINOPSE:
No sertão, os desígnios de Deus: o homem
ganha o seu pão com o suor do seu rosto.
Dois compadres, um rico e outro pobre, vivem os arranjos
de uma existência assentada na desigualdade social. Seria
essa desigualdade uma determinação divina? Seria possível
o poder dos céus mudar os arranjos terrenos? O rico
ganancioso e o pobre abestalhado é uma história onde o mágico e
a tradição, de mãos dadas, oferecem ao público a força da reflexão.

Duração: 40 min
Classificação: Livre
Ficha técnica:Direção – Armando Ribeiro | Cenografia – Coletivo | Figurino – Coletivo | Maquiagem – Coletivo | Trilha Sonora – Coletivo | Elenco – Cleonice Pereira Dias, Gabriela Ferreira de Lima, Júlio Antônio Ramalho Alves, Leticia Kelly Ribeiro Miranda, Michele Vitória Veiga de Araújo, Izadora Stuhr dos Santos Lopes, Izabela Stuhr dos Santos Lopes, Guilherme Stuhr dos Santos Lopes.

PARA SABER MAIS:



FOLHETO FOI PREMIADO PELO MINC

O RICO GANANCIOSO E O POBRE ABESTALHADO, folheto de 16 páginas baseado num conto popular brasileiro é o nosso trabalho premiado no Edital Patativa do Assaré do PRÊMIO MAIS CULTURA 2010. A edição já se encontra na gráfica e irá circular em breve. De acordo com o projeto apresentado no concurso, parte da tiragem de 3 mil exemplares será destinada ao MINC e haverá também uma parcela para bibliotecas públicas do Estado do Ceará. O restante será comercializado. Eis alguns trechos do folheto:

O RICO GANANCIOSO E O POBRE ABESTALHADO
Autor: Arievaldo Viana

Quando o homem foi expulso,
Cheio de mágoa e desgosto,
Dos jardins do Paraíso,
Deus lhe disse, do seu posto:
- Hás de ganhar o teu pão
Com o suor do teu rosto!

Ficou o homem vagando
Na Terra, Vale de Dores,
Mas logo seus descendentes
Revelaram seus pendores,
Pois surgiram os dominados
E os cruéis dominadores.

O mundo está repleto
De ganância e de cobiça
O rico, quanto mais tem,
Mais o desejo o atiça;
E na contra-mão padece
Quem é pobre ou tem preguiça.

Quem nasce pra não ter nada
A sorte é uma graúna,
Não pode alcançar os louros
Que repousam na tribuna,
Mas há aqueles a quem
Deus promete e dá fortuna.

Nos sertões de Pernambuco
Há muito tempo passado
Viveu um rico sovina
Muito ardiloso e malvado,
Compadre de um camponês
Simplório e abestalhado.

Então o compadre pobre
Tinha preguiça por cem,
Era pai duma ninhada
Miúda igual a xerém
E às custas do seu suor
Nunca ganhou um vintém.

No fundo de uma tipóia
Passava o dia roncando,
Se a mulher reclamasse
Ele saía zombando;
Enchia a cara de cana
Voltava se pabulando.

Estórias mirabolantes
O preguiçoso contava
Se alguém de bom coração
Na conversa acreditava
Ele pedia uma esmola
E assim a vida levava...


(...)

CINQUENTENÁRIO

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Caricatura: Jô Oliveira

Em 2007, quando eu completei 40 anos de idade, o amigo e parceiro Rouxinol do Rinaré enviou-me um CORDEL felicitando-me pelo aniversário, no qual se encontram dados da minha biografia e citações à minha obra. Preferi guardar esse trunfo para o meu cinquentenário, que julgo ser uma data mais marcante. Eis que agora publico, pela primeira vez, o texto escrito pelo Amigo Antônio Carlos da Silva - o popular ROUXINOL DO RINARÉ, texto esse que pretendo publicar também em folheto. A ilustração é do grande Jô Oliveira e servirá como selo comemorativo desta efeméride. De quebra, pretendo lançar, ainda este ano, os livros "O besouro" (contos) e "O Livro das Crônicas - II Volume de Memórias".


Poeta Rouxinol do Rinaré


UMA HOMENAGEM AO POETA
ARIEVALDO VIANA

ROUXINOL DO RINARÉ


Ó musa da poesia
Dá-me inspiração completa,
Um versejar bem fluente
Com rima bela e seleta
Pra, nessa nova abordagem,
Prestar uma homenagem
De poeta pra poeta.

Foi a convite da IMEPH,
Na pessoa do editor
Flávio Martins Albuquerque,
Que eu pude então me dispor
Pra narrar neste cordel
A vida dum menestrel
Cordelista de valor.

Flávio editor e amigo
Ao olhar o calendário
Comprovou que em setembro
Ari faz aniversário
Pensou: — Na sua linguagem
Vou “bolar” uma homenagem,
Porque se faz necessário.

Acertou então comigo
(Pois a musa nos irmana)
Me dizendo: —Rouxinol,
Faça um cordel bem bacana
Com inspiração e destreza
Pra fazer uma surpresa
A Arievaldo Viana!

Aceitei a incumbência
Porque tenho acompanhado
O trabalho desse vate,
Cordelista consagrado,
Reconheço seu valor
Já sou admirador
Desse poeta inspirado.

Falar de Arievaldo
É falar de um companheiro
Na arte cordeliana
Um poeta verdadeiro
De raiz e tradição,
Conceito e inspiração
No Nordeste brasileiro.

Nasceu no meu Ceará,
Lá em Quixeramobim.
Foi na Fazenda Ouro Preto
Em sessenta sete, enfim,
Setembro, dia dezoito,
(Nasceu “malino” e afoito)
Seu registro diz assim.

Na cartilha de ABC
Teve a primeira lição
Com a sua avó Alzira,
Tendo a predestinação
De poeta menestrel
Complementou com o Cordel
A primeira educação.

Cresceu com ele o talento
Da sua alma de artista
Pois faz um pouco de tudo:
Escreve e é desenhista
Com técnica e inspiração
Já tem vasta produção
Como um grande cordelista.

Com base na experiência
Da infância, no sertão,
De seu lúdico aprendizado
Tem repassado a lição:
Arte-educador fiel
Criou o “Acorda Cordel”
Projeto pra Educação.

Nosso cordel auxilia
O letramento, na escola,
E o “Acorda Cordel”,
Nesse caso é show de bola!
Pra estimular a leitura
E armazenar mais cultura
Nos “arquivos” da cachola!

Arievaldo também
Por mérito da poesia
Está na ABLC
Uma egrégia academia
Pois em 2.000 foi eleito.
Por seu talento e conceito
Aos imortais se associa.

Quarenta (algarismo místico)
É o número da cadeira
Que Arievaldo ocupa
Na Academia altaneira
E em memória ou abono*
Dessa cadeira é patrono
João Melchíades Ferreira.

Com Pedro Paulo Paulino,
Outro poeta exemplar,
A caixa “Cancão de Fogo”
Ari conseguiu lançar
No fim dos anos noventa.
Nossa cultura fomenta,
Pois começa a publicar.

O cordel, por essa época,
Andava meio abatido
Com Arievaldo e Klévisson
Ganhou um novo sentido.
Produzindo e publicando,
O folheto foi chegando
Ao seu lugar merecido.




E resgatando o romance
Arievaldo é autor
De “O castigo da inveja
Ou o filho do pescador”,
“O crime das três maçãs”
Que agrada a todos os fãs
Dos dramas trágicos de amor.

É dele “O príncipe Natan
E o cavalo mandingueiro”,
“Encontro com a consciência”,
Um enredo verdadeiro
Que enfoca a fatalidade,
Ressalta a honestidade
Mesmo envolvendo dinheiro!

Já adaptou Cervantes
Pra nossa literatura
Narrando “A força do sangue”,
Que é uma novela pura.
Como saga nordestina
Compôs “Jerônimo e Paulina
Ou O prêmio da bravura”.

Nos “Martírios de uma mãe
Ou as dores de Marina”
Ari mostra os sofrimentos
De uma mãe nordestina
Em sua trilha de dores
Colhendo espinhos e flores
Pelos reveses da sina!

Conta a história de “Luiz
Gonzaga, o Rei do Baião”,
Fez “Um pagode no inferno
Ou a nova loura do cão”.
São engraçados, de fato,
“O batizado do gato”,
“A raposa e o cancão”.




Ari fez com verve crítica
E poética galhofeira:
“Atrás do pobre anda um bicho”,
“Vacina contra a besteira”
Nesse aponta a “podridão”
Que traz a televisão
À família brasileira.

No “Encontro de FHC
Com Pedro Álvares Cabral”
Ironiza a trajetória
Desse país tropical
Que desde a sua invasão
Sofre com a corrupção
Da política sem moral.

Em “Os novos mamadores
Da negra dum peito só”
Outra vez contra os políticos
Desce o chicote, sem dó.
“Zé Ganância e João Preguiça”
Nesse faz crítica à cobiça
E ao preguiçoso bocó.

Escritor, ágil, versátil
(Sempre apronta “traquinice”),
Fugindo ao lugar-comum,
Porque detesta a mesmice,
Fez ensaio, escreveu causos,
Conquistou fama e aplausos
Com “O Baú da Gaiatice”.

Seus parceiros cordelistas
Minha pena agora cita:
Com Rinaré escreveu
Uma trama que suscita
Riso, sarcasmo, a contento,
Tratando do “Casamento
Do Morcego com a Catita”.

Compôs com Jota Batista
Gracejos, sem embaraço,
Com a história “O homem
Que lutou com um cabaço”,
As “Proezas de um babão”
E outros que não fiz menção
Pelo limite do espaço.

Com o irmão Klévisson Viana
Muito já tem publicado:
“O divórcio da Cachorra”
(Em Zé Pacheco inspirado),
“Martírios de um alemão”,
“O rapaz que virou barrão
Ou o porco endiabrado”.

Com Pedro Paulo Paulino
Até pra ciência apela
Como na glosa atual,
Falando de mulher bela,
No folheto bem rimado
“Se o clone for aprovado
Vou mandar fazer o dela”.

Os seus romances circulam
Por este Brasil inteiro
Com os selos da “Queima-bucha”,
“Tupynanquim” e “Luzeiro”.
Ari já é consagrado
Por vezes já foi citado
Na imprensa do estrangeiro.

Pela Editora Imeph
Revelou novo perfil
Lançando dois livros novos,
Com enredo claro e sutil,
Em cordel, bem trabalhados,
E belamente ilustrados
Para o leitor juvenil.

Um dos livros tem por título
“O pavão misterioso”
Recriação do romance
Clássico e bastante famoso
Com ilustrações, de primeira,
Feitas por Jô Oliveira
Ilustrador primoroso!

Já o outro é um enredo
Tirado da tradição
Uma fábula interessante
“A Raposa e o Cancão”
Que Arlene Holanda ilustrou
E a EDUCAÇÃO adotou
Desde a primeira edição.

Enfim, desse grande vate,
O que posso dizer mais?
Entre mais de cem cordéis
Tem romances geniais!...
É cordelista perito
Que já tem seu nome escrito
No livro dos imortais!!!

FIM



Comemorando o São João, com Ricardo Elesbão e Rouxinol do Rinaré

50 ANOS DA PARTIDA DE ADERALDO

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ILUSTRAÇÃO: JÔ OLIVEIRA

Hoje, 29 de julho, completam 50 anos do desaparecimento daquele que é considerado um dos mais importantes poetas populares nordestinos, Aderaldo Ferreira de Araújo - o famoso Cego Aderaldo. Citado pelos cantadores com um dos pilares da trindade mítica do Nordeste, aparece nesse mote de sete sílabas:

“SÃO TRÊS VULTOS QUE SEMPRE ADMIREI
PADIM CIÇO, ADERALDO E LAMPIÃO”


Há cinquenta anos falecia o Cego Aderaldo, o mais lírico violeiro e cantador do Brasil

Texto de J. Lindemberg de Aquino

Cem anos já são passados do nascimento do mais famoso dos poetas cantadores e violeiros do Nordeste (o centenário do Cego aconteceu em 1978 – este artigo é de 1977), o Cego Aderaldo. Cearense do Crato, teve por berço o cenário emoldurado de verdes e azuis da Serra do Araripe o cascatear de fontes e regatos cristalinos e a terra histórica, de mártires e de heróis.

Poeta e repentista, o verso saia-lhe natural, rude, rústico e espontâneo, seja a entoar louvores ou a ferrotear os adversários dos incansáveis desafios sertanejos, seja em epigramas vorazes contra os que lhe testavam a argúcia e a inteligência, seja na exaltação das belezas da terra, dos sentimentos diversos ou nos repentes gozados, humorísticos, galhofeiros e ferinos que faziam a delícia dos auditórios.

Na poesia de Aderaldo cintilam faiscações primorosas de uma inteligência inconfundível. Tinham os seus versos configurações geniais, mostrando a lucidez de um espírito observador e analítico, como esses:

O filho do alfaiate — seu brinquedo é com retalho,
O filho do jogador gosta muito é do baralho,
E o filho do preguiçoso só dorme bem no borralho,
O filho do homem praiano, seu vício é comer areia,
O filho da costureira sua roupa é muito feia,
Porque é feita de taco
Que sobrou da roupa alheia
O filho do carteiro — brinca com caixão e saca,
O filho do feiticeiro só fala em urucubaca,
O filho do vaqueiro junta ossinhos, chama vaca…
O filho do ferreiro, seu brinquedo é uma safra,
O filho do pescador aprende a fazer tarrafa,
E o filho do cachaceiro nasce lambendo garrafa…

Falando sobre a terra natal de Aderaldo, o grande Jáder de Carvalho diz:

“Cego Aderaldo… de onde era filho? Ele mesmo, nas suas memórias aponta o Crato como o chão onde a parteira lhe apanhou o corpinho nutrido. Mas a terra mesmo da gente não é aquela onde nasce o corpo: é aquela onde nasce a alma. E a alma do cantador famoso veio à luz em Quixadá. Foi na cidade das pedras na cidade do chão duro e salgado, que veio ao mundo a alma do mais agressivo o mais lírico violeiro e cantador do Brasil.

A alma da gente, ó meu leitor — continua Jáder de Carvalho – não brota logo com o corpo, entre as dores do parto: brota na hora em que o menino principia a entender, a sentir o mundo, o céu, o canto dos pássaros, o mugido de uma vaca o relincho de um cavalo, o aboio de um vaqueiro — em qualquer dessas coisas pode estar a raiz da alma. Como pode estar também, no gemido de uma viola, num apito de fábrica, no silvo de um navio no dobrar de um sino, no barulho do mar.

A alma de Aderaldo nasceu — e disso tenho certeza, sob o sol de fogo de Quixadá, ao pé de uma mãe viúva, que, de tão pobre, teve de empregar a dois vinténs por dia o órfãozinho de cinco anos…”



Eduardo Campos, ao analisar o Cego Aderaldo afirma:

“Não se repetia, aí estava a grande vantagem sobre os outros.

Não era cantador das palavras difíceis, dos que se acodem nos dicionários ou nos livros sagrados. Os seus grandes livros de sabedoria estavam na natureza, no estranho mas belo mundo que ele, a rigor, aprendeu a ver através dos outros”.

O Aderaldo sempre cantou sua cegueira em diferentes ocasiões.

Eis algo a esse respeito, de sua autoria:

Correu de mim a fortuna a luz dos olhos perdi;
Céus, estrelas, terra e mar
Fugiram, jamais os vi,
Flores jardins, campos e prados de vê-los jamais esqueci.
Deus quer que eu viva sem lua. Sem ver do mundo a beleza.
E permitiu que eu perdesse da vida a maior riqueza,
Já não tenha a quem recorra, nem a própria natureza!

Ou esse outro verso, final do seu soneto, dedicado à sua mãezinha, composto em Maceió em 12 de maio de 1949, Dia das Mães.

Este Dia das Mães, como outros dias,
Santos e puros cheios de afeição,
Abriga o bem de todas as Marias
Cantando rimas para um coração…
Mas minha mãe partiu…
Meus dezoito anos
Trouxeram-me a cegueira, foi-se a alma
Desde então eu a vejo entre meus planos
Mas somente com os olhos de minha alma!…

Grande poeta e cantador Aderaldo viveu mais de 70 anos a percorrer os sertões, em desafios e violas, a entoar versos e a recitar poemas imortais.

Aderaldo no Céu é o título de trabalho de Pantaleão Damasceno, jornalista cearense em homenagem ao poeta após a morte. Nele Damasceno afirma:

“Cego Aderaldo, por uma dessas coincidências da vida, nasceu no dia de São João e morreu no dia consagrado a São Pedro. Tratando-se do mês das tradicionais comemorações juninas, tudo indica que o saudoso violeiro, vai encontrar o Céu em festa e de portas abertas, podendo o Santo Chaveiro, eufórico, repetir as mesmas palavras que proferiu à chegada de Irene à porta do paraíso segundo o poeta Manuel Bandeira:

— Entre, Aderaldo, você não precisa pedir licença.

E o velho cego, agora leve como uma pluma, e agora enxergando tudo, observa com surpresa, aqui e ali, as belezas infinitas do firmamento. E numa espécie de desabafo, manda-nos dizer, em mensagem de fé e esperança, que ‘os mortos vivem não os choreis’”.

Depoimento de outro escritor, Otacílio Colares:

“O Cego Aderaldo era, a nosso ver, o último remanescente daquela grei imensa que nos deu valores como Inácio da Catingueira, Francisco Romano, Dantas Quezado e a negra Chica Barroso. Forte como um carvalho, franco e simples como um eterno menino grande, passou ele a existência a transmitir alegria, em versos que lhe saíam da alma como o arrojo dos rios em cheia, e soube morrer tranquilo e sereno como um justo, compenetrado de haver realizado a sua destinação, na terra que ele tanto amou e decantou. Tipo acabado de trovador da velha cepa, com a sua morte, podemos estar certos, encerrou-se um ciclo dos grandes cantadores aqueles que tinham como característica primordial a singeleza no viver e no interpretar a sua arte”.

Extraordinário rapsodo dos sertões, Aderaldo eternizou-se pelo muito que produziu, e que está, infelizmente disperso em livros, jornais e revistas. Em 1962, foi lançado um livro com seus versos, com comentários de Raquel de Queiroz e Paulo Sarasate. Mas esse livro hoje raro, não contém um milésimo de sua fertilíssima produção poética, derramada em mais de 60 anos pelo Brasil inteiro. Sua vida cantou a dor, de ver a pobreza rondando-lhe a infância desventurada, o pai, surdo e paralítico, a mãe pobre e desassistida e a cegueira chegar-lhe aos 18 anos de idade. Mas a tudo resistiu, valendo-se da voz, inspiração, inteligência e lucidez, para com a viola, exaltar o sertão e construir o seu mundo.

Humorista fez da ironia a suprema virtude nos versos, e sentia-se que, com tato e olfato aguçado via melhor do que os que tem olhos. Ao ser apresentado à noiva de um cidadão, sentindo-a robusta e forte; versou:

Doutor, esta sua noiva
É uma linda cachopa,
a gente olhando seus seios
Assim por cima da roupa,
é ver dois cocos na praia
Dentro dum saco de estopa.


Se eu me casasse doutor
Minha mulher era feia,
Casar com mulher bonita
toma a freguesia alheia
Cego com mulher bonita
É plantar feijão de meia…



Trovador inesquecível dos sertões, Aderaldo Ferreira de Araújo, era este o seu nome, nasceu em Crato a 24 de junho de 1878 e faleceu em Fortaleza, praticamente indigente*, a 29 de junho de 1967, sendo filho do casal Joaquim Rufino de Araújo, alfaiate, e Maria Olimpia de Araújo. A sua rua de nascimento foi a antiga Pedra Lavrada, das mais antigas do Crato, que tem o Riacho Granjeiro às costas e é hoje chamada Pedro II. Encantou os auditórios mais seletos de todo o  Brasil e percorreu todos os sertões, vilas, sítios e fazendas, cantando, encantando com sua verve, seu humor e sua imensa produção poética. O que produziu garantiu-lhe a imortalidade e dele disse, em versos, na sua despedida, Ladislau Vieira:

Já não vibra a viola do
Nordeste nas praças e nas casas das fazendas
e que nas lojas redobrava as vendas
tangida pelas mãos do antigo mestre.
A araponga de cantar silvestre
Na sua voz de metal pelas contendas tornou-se muda,
De mudez agreste
Na sua voz de metal pelas contendas.
Não mais se animam velho e criaturas
Nas noites de sermões enluaradas
Nos fogos de São João pelas calçadas…
Pois finou-se o Aderaldo, ao fim das danças
Ninguém jamais na terra o encontrará
e a “Parca a paca cara pagará…

Aquino, J. Lindemberg de. “Cego Aderaldo, o mais lírico violeiro e cantador do Brasil”. Jornal do Commercio. Recife, 25 de junho de 1977

Fonte: http://www.jangadabrasil.org/revista/2011/10/27/cego-aderaldo-o-mais-lirico-violeiro-e-cantador-do-brasil/


* A respeito dessa afirmativa, de que o cego teria morrido como indigente, vejamos o que diz o mestre Alberto Porfírio em seu livro ‘Poetas populares e cantadores do Ceará’:

“Em Fortaleza, quando adoeceu para morrer, foi colocado no apartamento Eduardo Salgado da Santa Casa de Misericórdia, quarto 6, onde, por conta do industrial Fernando Pinto, foi assistido pelos médicos especialistas Dr. Farah Otoch e Dr. Eudásio Barroso, muito ao contrário do que se fala por aí, dizendo que o velho poeta fora internado e morrera como indigente.”

REFLEXÕES FILOSÓFICAS

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Nesse período que antecede o meu cinquentário tenho refletido muito sobre a vida e a razão de nossa existência nesse planeta. Qual a missão que nos foi confiada. Como tornar essa tarefa mais suportável e prazerosa? Então lembrei-me de um poema que fiz há algum tempo, cujo título é:

O QUE ESPERO DO MUNDO
E O QUE DESEJO DA VIDA


Do mundo eu só quero a vida:
Da abelha eu só quero o mel
Da poesia o CORDEL
Da rede quero a dormida
(Com minha esposa querida
Eu quero sexo também!)
De mil eu só quero cem
Do milho eu quero a pamonha
Do homem quero a vergonha
Cada qual dá o que tem.


Da Ciência a descoberta
Que nos traga algum progresso
Pois ninguém quer retrocesso
Nem morrer de boca aberta
Por isso é que vivo alerta
De todos quero a verdade
Dos pais eu quero a bondade
Cada qual dá o que tem
Difícil é querer também
Do político, honestidade.


Eu quero a música do disco
De um cantor que me agrada
Do FUNK eu não quero nada
Valei-me, meu São Francisco
Não quero correr o risco!
Do mar eu quero o segredo
Do romance o seu enredo
Da mulher, sinceridade
Eu quero PAZ na cidade
Pois vivo sempre com medo.


Do dia eu quero a aurora
Da noite quero o sossego
Do trabalho eu quero emprego
(Que ninguém me mande embora)
Jesus e Nossa Senhora
Protegendo a minha lida
Não quero coisa perdida
Nada que não me pertença
Nem que valente me vença
Quero DEUS na minha VIDA.


Eu não quero as ilusões
De uma vida passageira
E nem dar crença a besteira
No torpe mar dos senões
Eu não desejo os porões
Da terrível ditadura
Dos filhos quero a doçura
E dos parentes, respeito
A vida assim desse jeito
Honra qualquer criatura.


Do Santo espero o milagre
Do sábio a filosofia
Do trovador, cantoria,
Ou algo que o consagre
Do açude, não quero bagre
Quero da escola o estudo
Da garrafa, o conteúdo
Se a bebida for boa
Do cantador quero a loa
Mas de DEUS eu quero TUDO!



Arievaldo Viana

ZÉ LINS EM CORDEL

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LITERATURA E RESISTÊNCIA
Poeta de cordel diz que as oligarquias são 'o grande câncer' do país



Com 30 títulos publicados e 100 mil exemplares vendidos, escritor paraibano lança clássico "Menino de Engenho" em versos de cordel, e defende expressão cultural como frente de luta pela libertação

por Helder Lima, da RBA

Poeta Janduhi Dantas, foto: Divulgação


São Paulo – Obra clássica da literatura brasileira, o romance Menino de Engenho, de José Lins do Rego (1901-1957), foi recriado em versos de cordel e publicado em edição produzida com recursos próprios pelo escritor paraibano Janduhi Dantas, um dos principais nomes da literatura cordelista hoje no Nordeste. “Passei mais de um ano no texto. Havia momentos de felicidade, em que o texto fluía e agradava, dava prazer, até mesmo emocionava. Mas tinha em que dava trabalho achar as palavras para as quais houvesse rima e métrica. Dava trabalho, dava dor de cabeça. Tinha que ter paciência”, afirma Janduhi.

O escritor, professor e pesquisador da cultura brasileira tem no currículo duas edições paradidáticas publicadas pela Editora Vozes: As figuras de linguagem na linguagem do Cordel e Lições de Gramática em Versos de Cordel. Ambas mostram a versatilidade da linguagem do cordel para discorrer sobre os mais diversos temas e assuntos, e são também emblemáticas da valorização que essa expressão cultural pode alcançar em obras de interesse a um grande universo de leitores.

Com cerca de 30 histórias publicadas e 100 mil exemplares vendidos, Janduhi, que vive em Juazeirinho, no Seridó paraibano, a 190 quilômetros de João Pessoa, tem a maior parte de seus títulos encontrada no comércio turístico da capital do estado e de outras cidades nordestinas que se identificam com a literatura de cordel.

Seu título A mulher que vendeu o marido por R$ 1,99, como ele próprio diz “um de meus dois trabalhos mais conhecidos”, alcançou a tiragem de 20 mil exemplares e foi referência em um artigo do jornalista Xico Sá em janeiro de 2012: “Na sua crônica de costumes sobre o avanço das mulheres, o poeta conta como uma destemida fêmea resolveu se livrar do seu ébrio e desagradável companheiro, no ano de 2010. A heroína, que no cordel é comparada a Leila Diniz, levou a infeliz criatura à feira e o vendeu a uma velha senhora.”

Como escritor consciente de que não é possível ficar à margem da política, Janduhi vê na persistência da dualidade entre Casa-Grande e Senzala na cultura um dos principais problemas que seguram os avanços em direção a uma sociedade inclusiva. “Penso que sim, que a dicotomia Casa-Grande e Senzala persiste. Penso que o grande câncer do país são as oligarquias. Penso que não conseguimos superá-las, vencê-las ainda. Penso que com oligarquia não dá para ser feliz! As oligarquias são a Casa-Grande do país”, afirma nesta entrevista à Revista do Brasil.

“Particularmente, me motivam as palavras do teatrólogo Plínio Marcos, que dizia que ‘um povo que não ama e preserva suas formas de expressão mais autênticas jamais será um povo livre’. Então estou preocupado com a identidade cultural de meu povo”, afirma ainda Janduhi, que agora trabalha na adaptação de um clássico do cinema para o cordel, mas ainda guarda o projeto em segredo.

Por que a escolha de Menino de Engenho para recriação na literatura de cordel? O fato de José Lins do Rego ser paraibano pesou em sua escolha? Ou foram os 60 anos da morte do escritor?



Não necessariamente foi isso. Foi mais pelo grande carinho que tenho pelo livro. E sei que muita gente também tem esse carinho. Foi um dos primeiros livros que li, adolescente; lembro-me da emoção que me deu a sua leitura. Ainda hoje é para mim um livro emocionante. Foi a minha descoberta de Zé Lins. Depois dele, fui ler Doidinho, Banguê, o lindíssimo Pureza, até chegar a (que não tenho como ler sem não chorar!) Fogo Morto, que está entre os 10 mais importantes romances da literatura brasileira. Coincidência talvez tenha sido a de estar a obra de Zé Lins tão influenciada pela poesia popular de sua terra. Ele certa vez disse que Os doze pares de França, obra basilar para a Literatura de Cordel, foi o primeiro livro que leu, aos 10 anos. E em outra ocasião disse que “quando imagino os meus romances, tomo sempre como roteiro e modo de orientação o dizer as coisas como elas me surgem na memória, com o jeito e as maneiras simples dos cegos poetas”. Eu tinha feito a adaptação de um conto de Leon Tolstoy para o cordel há pouco tempo, e um dia deparei com o Menino de Engenho na estante e foi aí que veio a ideia da transcrição.

Menino de Engenho foi o primeiro livro publicado por José Lins do Rego, em 1932. Curiosamente, o romance foi publicado com os próprios recursos do autor, que depois teve uma carreira promissora como escritor. E agora, 85 anos depois, você publica a versão em cordel, também com os próprios recursos, em versão de autor. Essa coincidência significa que alguma coisa não muda neste país?

Na verdade, por um bom tempo, há uns cinco anos, este cordel esteve para ser publicado pela Editora da Universidade Estadual da Paraíba (EDUEPB). Mas era muito grande o número de livros a serem publicados por aquela editora na época, e o cordel acabou não saindo por lá. Com toda dificuldade enfrentada, como escassez de verba para tocar os trabalhos, a direção da EDUEPB já há um bom tempo vem fazendo um trabalho muito bonito, publicando não só professores da universidade, como também escritores diversos da Paraíba, por meio do selo Latus. Tenho publicado por ela adaptação de um conto de Tolstoi, adaptação de Psicose, de Hitchcock, e um cordel que aborda a Revolta de Princesa, estopim da Revolução de 30 em João Pessoa. A editora é, inclusive, ganhadora já de alguns prêmios Jabuti. De qualquer modo, optei pela edição independe do cordel, esperando ver a repercussão do lançamento, para depois ver a possibilidade de nova edição por alguma editora. Por sorte, os autores de cordel conseguem ser mais autônomos (também politicamente), até mesmo pelo custo baixo da edição de um cordel. O baixo custo da impressão de um cordel facilita a sua venda.

Qual foi o principal desafio para transpor Menino de Engenho para o cordel? Quanto tempo você trabalhou nesse projeto?

O que fiz, na verdade, foi tentar dizer em versos o que Zé Lins diz em prosa. Como o texto original é escrito em primeira pessoa, não achei que seria fácil passá-lo para o cordel em terceira pessoa, por exemplo. Achei que isso poderia descaracterizar por demais o original. E assim fui, página por página, sintetizando em versos o que lia, sem perder de vista a necessidade de dar coerência ao texto. Outro dia na TV vi um documentário em que o diretor do clássico Doze homens e uma sentença dizia algo como “a gente se emociona com o que faz antes de emocionar o nosso público”. Me lembrei do processo da escrita do cordel. Passei mais de um ano no texto. Havia momentos de felicidade, em que o texto fluía e agradava, dava prazer, até mesmo emocionava. Mas também havia hora em que dava trabalho achar as palavras para as quais houvesse rima e métrica. Dava trabalho, dava dor de cabeça. Tinha que ter paciência.

Onde já foi lançado Menino de Engenho em versos de cordel? Como faz o leitor de qualquer lugar do país que quiser adquirir um exemplar?

O cordel está sendo lançado em algumas cidades da Paraíba. O primeiro lançamento foi em João Pessoa, no Espaço Cultural José Lins do Rego, onde recebi importante apoio do pessoal que administra o Museu Zé Lins que, além de me convidar para fazer o lançamento lá, dentro das comemorações da “Semana José Lins do Rego”, me fez chegar até uma das filhas do escritor. Na conversa (para mim, uma emoção falar com uma filha de Zé Lins!) que tive com essa filha dele, a dona Cristina, fui informado que os direitos autorais das obras do pai dela pertencem à Editora Record. Posteriormente, tive dessa editora a autorização para publicar o cordel. Tudo isso porque a obra original não está em domínio público. O “cordelivro”, como alguns chamam o cordel no formato de um livro, também foi lançado em Pilar, terra de Zé Lins, e Teixeira. Ainda será lançado em Patos, minha cidade natal, e Sousa, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB). E estamos vendo um lançamento para Natal ainda este ano. As pessoas que queiram adquirir o livro podem fazê-lo pelo meu email: durica5164@gmail.com. Antes que esqueça: há no Youtube pequeno vídeo em que divulgo o cordel: Menino de Engenho em cordel.


VER POSTAGEM COMPLETA AQUI:

http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/130/poeta-de-cordel-diz-que-as-oligarquias-sao-o-grande-cancer-do-pais

TOLERÂNCIA MIL

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Com a aproximação do meu cinquentenário de nascimento e 35 anos de carreira como poeta cordelista e ilustrador, resolvi retirar da gaveta alguns folhetos inéditos, dentre os quais "O sonho de Carlos Magno (32 páginas), "A Sina do Enforcado" (32 páginas) e "Kalunga, O homem mais tolerante do mundo", folheto de apenas 08 páginas, que sairão em breve pela Editora Queima-Bucha, de Mossoró-RN. Outros lançamentos estão previstos pela Editora Imeph. Três folhetos são lançados também pela Cordelaria Flor da Serra, do poeta Paiva Neves. São eles: "O Antigo Testamento, segundo Zé Limeira", "Artimanhas de João Grilo" e "Carmélia e Sebastião", romance escrito em parceria com o poeta Evaristo Geraldo. Também estão no prelo os livros "O Besouro" (Contos) e "O Livro das Crônicas - Volume II de Memórias".

É ainda nossa intenção inaugurar duas CORDELTECAS, cujo acervo pretendo doar. Uma homenageando minha avó Alzira de Sousa Lima, em Madalena-CE ou Quixeramobim-CE; e uma outra em Canindé-CE homenageando o meu primeiro parceiro na Literatura de Cordel, o saudoso poeta José Maria Gonzaga Vieira, o popular Gonzaga de Canindé, falecido este ano. No dia 20 de setembro, Gonzaga completaria 71 anos de idade. A implantação das CORDELTECAS depende de entendimentos com autoridades desses municípios que ficarão responsáveis pela guarda do acervo.

Selo comemorativo - presente do amigo Jô Oliveira



A seguir, alguns trechos de KALUNGA:


KALUNGA, O homem mais tolerante do mundo

Autor: Arievaldo Vianna



Kalunga foi um cristão
Que já nasceu educado...
Ter paciência de Jó
É seu maior predicado
Nem parece aquele outro
Que dizem ser tão zangado.

Ele não xinga os vizinhos
Todo domingo comunga
Se ouve pergunta besta
Paciente não resmunga
Se alguém pisa o seu calo
Ele não grita nem funga!

No tempo que era menino
Escanchado num jumento
Na cangalha do animal
Machucou seu instrumento
Mas saiu resignado
A procura de ungüento.

Kalunga nunca brigou
Com os filhos do vizinho
Na escola era um aluno
Famoso por seu alinho
E tratava os seus colegas
Com respeito e com carinho.

Se uma pergunta tola
Alguém faz, por imprudência
E persiste perguntando
Com a maior insistência
O Kalunga explica tudo
Com perfeita paciência.

O Kalunga nunca soube
O que é ignorância
Não maltrata o semelhante
E só age em consonância
Com as leis do bem viver
É um mestre da tolerância.


Certa feita, pelas ruas,
Ele levava na mão
Um copo de mel contendo
Duas bandas de limão
Perguntaram pra que era
Diz ele: - Para o pulmão.

Nada de espremer na vista
Nem se mostrar revoltado
Kalunga deu a receita
Ao curioso abusado...
Saíram os dois satisfeitos
Cada qual para o seu lado.

No trânsito, um motoqueiro
Sem luva e sem capacete
Arranca o retrovisor
Do seu veículo, um Kadete,
E ainda desceu brigando
Na mão trazendo um porrete.

Mas logo baixou a arma
E ficou mais moderado
Vendo tanta mansidão
Do seu Kalunga, coitado,
Que lhe abraçou sorrindo
Dizendo: - Estás perdoado!

Esse Kalunga é tão fino
Nada do mundo o emperra
Seu peito só tem bondade
E toda beleza encerra
Deu aulas de etiqueta
Aos príncipes da Inglaterra.

Se anda com esposa
Pelas ruas, passeando,
E encontra algum gaiato
Sua amada paquerando
Kalunga faz que não vê

Sai contente, assobiando.

(...)

II FEIRA DO CORDEL BRASILEIRO

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II FEIRA DO CORDEL CORDEL BRASILEIRO
De 17 a 20 de agosto, na CAIXA CULTURAL Fortaleza

Homenageados:


Ilustração: JÔ OLIVEIRA

Cego Aderaldo – 50 anos de morte
Aderaldo Ferreira de Araújo
(* 24 de junho de 1878 + 29 de junho de 1967)

No dia 29 de julho de 2017, completaram-se 50 anos do desaparecimento daquele que é considerado um dos mais importantes poetas populares nordestinos, Aderaldo Ferreira de Araújo - o famoso Cego Aderaldo. Nascido no Crato, veio morar muito jovem na cidade de Quixadá, depois de ficar órfão de pai, empregando-se na estrada de ferro. Cegou aos 18 anos. Trabalhava abastecendo uma caldeira, quando tomou um copo de água fria e os olhos estalaram imediatamente, fazendo com que perdesse a visão pelo resto da vida. Comprou então seu primeiro instrumento e descobriu que sabia fazer versos. Achava humilhante ter que pedir esmolas por isso exerceu diversas profissões: além de cantador foi comerciante e exibia filmes, num cinematógrafo que lhe fora presenteado por Ademar de Barros, ex-governador de São Paulo.



Gonçalo Ferreira – 80 anos

Cearense da cidade de Ipu, o poeta, contista e ensaísta Gonçalo Ferreira da Silva nasceu no dia 20 de dezembro de 1937. Aos quatorze anos, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde, em 1963, publicou, pela Editora da Revista Rural Fluminense, o primeiro livro: Um resto de razão, coletânea de contos regionais do Nordeste. Em 1978 iniciou a sua produção de literatura de cordel, quando, ao realizar estudos sobre cultura popular, na Fundação Casa de Rui Barbosa, conheceu o pesquisador Sebastião Nunes Batista e, em companhia dele, passou a freqüentar a Feira de São Cristóvão. Muito exigente com a forma, tem estrofes primorosas em seus mais de 200 trabalhos já publicados. Também escreveu livros em prosa, um deles uma biografia romanceada do cangaceiro Lampião.
É fundador e atual presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel – ABLC, situada no bairro de Santa Tereza.


Caricatura de Válber Benevides


Arievaldo Vianna– 50 anos
Arievaldo Vianna Lima – 18 de setembro de 1967

Nascido aos 18 de setembro de 1967, na fazenda Ouro Preto, Sertão Central do Ceará, o escritor Arievaldo Vianna foi criado à luz de lamparina, em contato permanente com as cacimbas dos saberes do povo Nordestino. Foi alfabetizado em meados da década de 1970, graças ao valioso auxílio da Literatura de Cordel.
Estreou na imprensa em 1982 no Jornal de Canindé e logo em seguida passou a publicar os seus trabalhos no Caderno de Domingo do jornal O POVO, de Fortaleza. A partir da década de 1980 vem publicando diversos folhetos, alguns em parceria com Gonzaga Vieira, Klévisson Vianna, Manoel Monteiro, Marco Haurélio, Evaristo Geraldo, Rouxinol do Rinaré, Pedro Paulo Paulino, Jota Batista e Sílvio Roberto Santos. De lá para cá são dezenas de livros, de temática diversa, e mais de 120 folhetos de cordel já publicados. É também xilogravador, chargista e ilustrador. Participou, ao lado de Dominguinhos, Assis Ângelo e Sinval Sá, de um documentário da TV Câmara de Brasília, sobre o Centenário de Luiz Gonzaga.
É criador do projeto Acorda Cordel na Sala de Aula, que utiliza a poesia popular como ferramenta paradidática. Tem percorrido o Brasil realizando palestras, oficinas e recitais para estudantes, educadores e amantes da poesia popular nordestina. Foi eleito em 2000 para a cadeira de número 40 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, cujo patrono é o poeta João Melchíades Ferreira (1869 – 1933). Conquistou o premio Domingos Olimpio de Literatura, promovido pela Prefeitura de Sobral-CE, com uma adaptação do romance Luzia Homem para o cordel. Foi redator e consultor de uma série de programas sobre Literatura de Cordel exibida pela TV ESCOLA (Programa Salto para o futuro). Tem vários livros adotados em programas governamentais, como o PNBE, do Ministério da Educação.


Bule-Bule e Klévisson Viana, organizador da II FEIRA DO CORDEL BRASILEIRO


Mestre Bule-Bule – 70 anos
Antônio Ribeiro da Conceição, 22 de outubro de 1947

Um dos mestres da cultura popular nordestina mais renomados do Brasil. Antônio Ribeiro da Conceição, nome artístico Bule-Bule, nascido em 22 de outubro de 1947, na Cidade de Antônio Cardoso no Estado da Bahia, vem de uma região onde as influências culturais do sertão e do recôncavo baiano se misturam e contribuíram decisivamente para o arcabouço artístico deste grande poeta. Esta figura emblemática da cultura popular, também é um excelente cordelista, com mais de 100 títulos publicados, um exímio sambador e tiraneiro, e um forrozeiro de grande valor, tendo todas estas virtudes comprovadas em seus oito discos e dois DVDs gravados em mais de 45 anos de carreira.
Ao longo da sua trajetória Bule-Bule fez shows e concedeu palestras nos quatro cantos deste Brasil e do mundo. Já dividiu o palco com figuras renomadas como Gilberto Gil, Beth Carvalho, Gabriel o Pensador e Tom Zé, ou em apresentações nos Estados Unidos, na Alemanha, na Espanha e em Portugal. Em 2008 Bule Bule foi condecorado com a maior premiação brasileira para a Cultura, a Ordem do Mérito Cultural, do Ministério da Cultura.



Zé Maria de Fortaleza– 60 anos de viola
José Maria do Nascimento, 7 de agosto de 1945

Zé Maria de Fortaleza é o nome artístico de José Maria do Nascimento, nascido em Aracoiaba-CE, em 7 de agosto de 1945. É cantador, repentista, músico, ator e cordelista. Membro da Academia Brasileira da Literatura de Cordel (ABLC), cadeira nº 24, que tem como patrono o poeta Francisco Sales Areda. Vice-presidente da Academia Brasileira de Cordel (ABC), filiado à Ordem dos Músicos do Brasil, à União dos Compositores Cearenses (UCC), à Associação dos Cantadores do Nordeste (ACN), à Sociedade dos Amigos da Arte (SOAMA), e vice-presidente da Associação de Escritores Trovadores e Folheteiros do Estado do Ceará (AESTROFE). Cursou Teoria Musical no Conservatório de Música Alberto Nepomuceno; recebeu certificado dos cursos Influência afro na cultura brasileira e História da música popular brasileira.


Vem há muitos anos ministrando cursos, palestras e oficinas sobre a literatura de cordel, em vários estados brasileiros. Tem dezenas de cordéis publicados e 3 livros: Gramática em cordel (Editora IMEPH), A lenda do vaga-lume (Escala Educacional – SP), Fragmentos da literatura popular cearense, em parceria com Dr. Antônio Ferreira. Zé Maria tem ainda 10 CDs gravados e 3 DVDs. Apresenta semanalmente o programa Canta Brasil, na Rádio Cidade-AM, 860, em Fortaleza-CE.

SERTÃO DESMANTELADO

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QUASE TRÊS DÉCADAS PASSADAS
SEM LUIZ E ALGODÃO

“Bate a enxada no chão
Limpa o pé de algodão
Pois pra vencer a batalha
Precisa ser forte, robusto
E nascer no sertão...”
(Algodão – Luiz Gonzaga | Zédantas)

Luiz Gonzaga do Nascimento, o Gonzagão, foi o primeiro compositor nordestino a fazer sucesso no eixo Rio-São Paulo com os ritmos da nossa Região. O Rei do Baião morreu há 28 anos, no dia 2/8/1989, aos 76 anos. O músico, que se dizia não apenas o inventor do baião, mas também do forró, das marchinhas juninas e "de tudo que se chama arrasta-pé", foi descoberto no final dos anos 1930 no programa de Ari Barroso. Ao fazer parceria com o cearense Humberto Teixeira, a partir de 1946, Luiz Gonzaga começou a emplacar uma série de sucessos imortais, dentre os quais destacam-se Baião, Asa Branca, Assum Preto, Estrada do Canindé, Mangaratiba, dentre outros. A “trindade” do baião completou-se com o médico pernambucano José de Sousa Dantas, o inesquecível Zédantas, criador de A volta da asa branca, Paulo Afonso, Sabiá e Algodão, uma das mais belas canções sobre o sertanejo nordestino.
Hoje vamos relembrar os 28 anos da partida de Gonzagão com essa crônica que escrevi na noite de ontem, falando sobre o OURO BRANCO, praticamente extinto em nossa região.
Afetado pela praga do “bicudo”, na década de 1980, o algodão, que constituía a maior riqueza de nossa agricultura foi aos poucos desaparecendo. Como sertanejo, nascido e criado nos cafundós do Ceará, acostumado a ver minha família no cultivo e manejo dessa lavoura, é impossível não se comover diante de um pé carregado de plumas branquinhas, sob o azul marinho de um céu de “verão”. Passemos à crônica:





FLOCOS DE ALGODÃO DOCE


João Miguel subiu na cisterna, posou para foto, estirou o dedinho e perguntou:
- Pai, que planta bonita é aquela?
- É algodão, meu filho. Ouro branco que fazia o nosso povo feliz...
- Algodão doce?
- Não... Algodão de fibra, para fazer roupas, meias..
- Ah, sim. É o algodão do Luiz Gonzaga?!
(O menino gosta do Gonzagão, pois estou sempre escutando suas canções. E Algodão é uma das minhas preferidas).
Durante esse fim de semana, vimos diversos pés de algodão, mocó e verdão, carregados de plumas branquinhas nas margens da BR 020 e também da estreita rodovia que liga Macaóca a Itatira.
Por conta disso, eu quis lembrar dos meus tempos de menino, quando passava férias escolares no Ouro Preto e ganhava uns trocados apanhando algodão nas capoeiras de meu avô. Às vezes vovô Mané Lima me dava uma "cata" para apanhar de meia e isso me rendia um bom numerário.
A falta de um bornal, peguei um balde de plástico, desses de 20 litros, e resolvi apanhar o algodão. Um formigueiro assanhado quase me devora os pés, mas eu não esmoreci. Apanhei uns três quilos ou mais, na intenção de aproveitar os caroços para uma planta futura. A pluma serve perfeitamente para fazer uns pavios de lamparina. O comentário pode parecer obsoleto e descabido, mas na minha recente estadia no sertão, tivemos um apagão de mais de duas horas e foi justamente um velho candeeiro que nos garantiu a luz até o retorno da energia elétrica.


Estava eu entretido nessa faina, quando dois "sertanejos" passaram numa moto e eu me fiz de desentendido. Olhei para os cabras e perguntei:
- Vocês sabem me dizer que planta é essa?
Um deles, de brinco na orelha, boné atolado na cabeça e camiseta do Aviões do Forró coçou a cabeça e disse...
- É... Eu acho que isso aí é COTTON.
- Cotton?
- É cotton, que antigamente a galera chamava de algodão, tá ligado?
- Ah, está bem. E por que vocês não apanham esse algodão?
Os caras se entreolharam, aceleraram a moto e saíram sorrindo.
Pensei com meus botões...

- Acho que não apanham o COTTON com medo que caiam as HANDS.


(De O LIVRO DAS CRÔNICAS - Arievaldo Vianna)




II FEIRA DO CORDEL

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NA CAIXA CULTURAL DE FORTALEZA


CAIXA CULTURAL FORTALEZA RECEBE A SEGUNDA EDIÇÃO DA FEIRA DO CORDEL BRASILEIRO

Com curadoria do cordelista e editor Klévisson Viana, evento reúne os principais expoentes da literatura popular em versão tipicamente nordestina


Foto: Leonardo Costa


A CAIXA Cultural Fortaleza apresenta, de 17 a 20 de agosto de 2017, a IIFeira do Cordel Brasileiro, que tem o objetivo de incentivar e promover a literatura popular e as manifestações artísticas tipicamente nordestinas. Com aproximadamente 30 expositores, o evento também pretende fomentar o encontro do público geral com os artistas, como forma de conhecer melhor a expressiva produção do melhor do cordel, da cantoria e da xilogravura nacional.



Com entrada gratuita, a Feira do Cordel Brasileiro reúne vários dos principais nomes da literatura de cordel no País, além de emboladores, cantadores de viola e da música regional. Entre as atrações estão os músicos-cordelistas Jorge Mello, parceiro de Belchior em aproximadamente 40 canções; o cordelista, repentista e sambador Mestre Bule-Bule; o Mestre Valdeck de Garanhuns, bonequeiro, cordelista, repentista e xilogravador;a médica, cantora e cordelista Paola Torres; os grupos Tempo de Brincar; o jovem Rafael Brito e a Rabecaria; dos forrós Kutuca a Burra e Cacimba de Aluá. O evento conta ainda com show de repente pela dupla Geraldo Amâncio e Guilherme Nobre, além de muitas declamações pelos cordelistas Chico Pedrosa, Antônio Francisco, Klévisson Viana, Evaristo Geraldo, Lucarocas, Paulo de Tarso, Raul Poeta, Paiva Neves, Arievaldo Vianna e Tiago Monteiro.
A Feira vai promover palestras, lançamentos literários, a exibição do documentário “Cego Aderaldo – o Cantador  e o Mito”, de Rosemberg Cariry, como também a exposição e venda de folhetos de cordel, livro, camisetas e CDs. A curadoria é do cordelista e editor Klévisson Viana, vencedor do Prêmio Jabuti de Literatura (2015) com o livro "O Guarani em cordel" (Ed. Amarylis, baseado na obra de José de Alencar).
Além disso, os interessados poderão participar de oficinas de xilogravura e de cordel. As inscrições estarão abertas de 07 a 16 de agosto de 2017, por meio dos emails encenaproducoes@gmail.com e aestrofe@gmail.com ou pelo telefone. (85) 3023-3064. Cada oficina terá limite de 20 vagas.
Nessa edição, os homenageados serão o repentista Cego Aderaldo (50 anos de morte), os cordelistas Gonçalo Ferreira (80 anos), Arievaldo Vianna (50 anos), o Mestre Bule-Bule (70 anos), Zé Maria de Fortaleza (60 anos de viola) e o cordelista e xilogravador Mestre José Costa Leite (90 anos de vida e 72 anos de arte).




Manifestação literária

O Ceará se perpetua como o maior polo produtor de Literatura de Cordel desde os longínquos tempos da Tipografia São Francisco, em Juazeiro do Norte, posteriormente rebatizada de Lira Nordestina. A partir da década de 1990, essa produção se acentuou na capital do Estado, sobretudo após o surgimento de associações de poetas, trovadores e folheteiros, tais como o Centro Cultural dos Cordelistas do Nordeste (CECORDEL), a Associação de Escritores, Trovadores e Folheteiros do Estado do Ceará (AESTROFE), entre outras, além da consolidada casa editorial Tupynanquim Editora e da Cordelaria Flor da Serra.

Apesar do linguajar simples e informal, a literatura de cordel é, hoje, revista como importante manifestação literária, pois é compreendida como uma das nossas primeiras manifestações poéticas em língua portuguesa, tendo sua origem na produção oral trovadoresca. Neste sentido, a literatura de cordel vem sendo cada vez mais aceita e estudada pelas academias e já possui uma Academia Brasileira de Cordel, fundada em 07 de setembro de 1988 com sede no Rio de Janeiro.

A IIFeira do Cordel Brasileiroé uma iniciativa é da AESTROFE (Associação de Escritores, Trovadores e Folheteiros do Estado do Ceará) com patrocínio da CAIXA Econômica Federal e Governo Federal com o apoio cultural da Tupynanquim Editora, Cariri Filmes, Editora Imeph, Programa A Hora do Rei do Baião e Premius Editora.

Sobre os homenageados


CEGO ADERALDO (Aderaldo Ferreira de Araújo) – 50 anos de morte (24 de junho de 1878 + 29 de junho de 1967)
No dia 29 de julho de 2017, completaram-se 50 anos do desaparecimento daquele que é considerado um dos mais importantes poetas populares nordestinos, Aderaldo Ferreira de Araújo - o famoso Cego Aderaldo. Nascido no Crato (CE), ele veio morar muito jovem na cidade de Quixadá (CE), depois de ficar órfão de pai, empregando-se na estrada de ferro. Cegou aos 18 anos. Trabalhava abastecendo uma caldeira quando tomou um copo de água fria e os olhos estalaram imediatamente, fazendo com que perdesse a visão pelo resto da vida. Comprou então o seu primeiro instrumento e descobriu que sabia fazer versos. Achava humilhante ter que pedir esmolas por isso exerceu diversas profissões: além de cantador foi comerciante e exibia filmes num cinematógrafo lhe presenteado por Ademar de Barros, ex-governador de São Paulo.



GONÇALO FERREIRA– 80 anos
Cearense da cidade de Ipu, o poeta, contista e ensaísta Gonçalo Ferreira da Silva nasceu no dia 20 de dezembro de 1937. Aos 14 anos transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde, em 1963, publicou pela Editora da Revista Rural Fluminense o primeiro livro: “Um resto de razão”, coletânea de contos regionais do Nordeste. Em 1978 iniciou sua produção de literatura em cordel, quando, ao realizar estudos sobre cultura popular na Fundação Casa de Rui Barbosa, conheceu o pesquisador Sebastião Nunes Batista e em companhia dele passou a frequentar a Feira de São Cristóvão. Muito exigente com a forma, tem estrofes primorosas em seus mais de 200 trabalhos já publicados. Também escreveu livros em prosa, como uma biografia romanceada do cangaceiro Lampião. É fundador e atual presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel – ABLC, situada no bairro de Santa Tereza (RJ).



ARIEVALDO VIANNA(Arievaldo Vianna Lima)50 anos
Nascido aos 18 de setembro de 1967 na fazenda Ouro Preto (Sertão Central do Ceará), o escritor Arievaldo Vianna foi criado à luz de lamparina, em contato permanente com as cacimbas dos saberes do povo nordestino. Foi alfabetizado em meados de 1970, graças ao valioso auxílio da Literatura de Cordel. Estreou na imprensa em 1982 no Jornal de Canindé e, logo em seguida, passou a publicar seus trabalhos no Caderno de Domingo do jornal O POVO, de Fortaleza. A partir dos anos 1980 vem publicando diversos folhetos, alguns em parceria com Gonzaga Vieira, Klévisson Viana, Pedro Paulo Paulino, Jota Batista e Sílvio Roberto Santos, entre as dezenas de livros com temática diversa e mais de 120 folhetos de cordel já publicados. É também xilogravador, chargista e ilustrador. Participou, ao lado de Dominguinhos, Assis Ângelo e Sinval Sá, de documentário da TV Câmara de Brasília sobre o Centenário de Luiz Gonzaga.



MESTRE BULE-BULE(Antônio Ribeiro da Conceição) –70 anos
Um dos mestres da cultura popular nordestina mais renomados do Brasil, Antônio Ribeiro da Conceição, cujo nome artístico é Bule-Bule, nasceu em 22 de outubro de 1947 na cidade de Antônio Cardoso (BA), uma região onde as influências culturais do sertão e do recôncavo baiano se misturam e contribuíram decisivamente para o arcabouço artístico deste grande poeta. Figura emblemática da cultura popular, também é um excelente cordelista com mais de 100 títulos publicados; um exímio sambador e tiraneiro, além de forrozeiro de grande valor, tendo todas estas virtudes comprovadas nos oito discos e dois DVDs gravados em mais de 45 anos de carreira. Já dividiu o palco com renomadas figuras como Gilberto Gil, Beth Carvalho, Gabriel o Pensador e Tom Zé, em apresentações nos Estados Unidos, na Alemanha, Espanha e em Portugal. Em 2008, Bule Bule foi condecorado com a maior premiação brasileira para a Cultura, a Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura, e em 2017 foi um dos homenageados da XII Bienal Internacional do Livro do Ceará.



ZÉ MARIA DE FORTALEZA (José Maria do Nascimento) – 60 anos de viola
 Zé Maria de Fortaleza é o nome artístico de José Maria do Nascimento, nascido em Aracoiaba (CE) em 07 de agosto de 1945. É cantador, repentista, músico, ator e cordelista. Membro da Academia Brasileira da Literatura de Cordel (ABLC), cadeira nº 24, que tem como patrono o poeta Francisco Sales Areda. Vice-presidente da Academia Brasileira de Cordel (ABC), filiado à Ordem dos Músicos do Brasil, à União dos Compositores Cearenses (UCC), à Associação dos Cantadores do Nordeste (ACN), à Sociedade dos Amigos da Arte (SOAMA) e vice-presidente da Associação de Escritores Trovadores e Folheteiros do Estado do Ceará (AESTROFE). Também cursou Teoria Musical no Conservatório de Música Alberto Nepomuceno e foi certificado nos cursos “Influência afro na cultura brasileira” e “História da música popular brasileira”.

Foto: Jaqueline Silva (Portal Pernambuco)


JOSÉ COSTA LEITE– 90 anos

José Costa Leite nasceu em 27 de julho de 1927, em Sapé (Paraíba). Diz que nunca frequentou a escola tradicional, tendo aprendido a ler soletrando folhetos de cordel. Em 1938 muda-se com a família para Pernambuco, fixando residência em Condado, cidade aonde mora até hoje. Em 1947 começa a vender folhetos nas feiras do interior e, em 1949, publica os seus primeiros títulos: Eduardo e Alzira e Discussão de José Costa com Manuel Vicente. Verseja sobre praticamente todos os temas do cordel, escrevendo clássicos como A carta misteriosa do Padre Cícero Romão Batista, O dicionário do amor e Os dez mandamentos, o Pai Nosso e o Credo dos cachaceiros.
Suas xilogravuras ilustram inúmeros folhetos – tanto os seus, como os de outros poetas – e ganharam status de obra de arte a partir dos anos 1960, quando passaram a ser publicadas em álbuns e expostas em museus, no Brasil e no exterior. Em 2005, José Costa Leite foi o convidado especial de uma exposição realizada no Musée du Dessin et de l’Estampe Originale de Gravelines (França), aonde também fez ateliês de xilogravura.
Fonte: www.casaderuibarbosa.gov.br/cordel



Programação da II Feira do Cordel Brasileiro

17 de agosto (Quinta-feira)
Teatro
14h – Abertura Oficial da II Feira do Cordel Brasileiro – Recital dos Mestres
14h40min – “Bagunça dos Brinquedos” – Apresentação teatral com texto adaptado do cordel de Mariane Bigio e participação especial das crianças da cidade de Pio IX/PI

Palco Cego Aderaldo
15h – Forró de raiz: Cecília do Acordeom (Redenção/CE)
15h30min – Rafael Brito e a Rabecaria (Fortaleza/CE)
16h – Raul Poeta (Juazeiro do Norte/CE)
16h30min – Olegário Alfredo e Ricardo Evangelista (Belo Horizonte/MG)
17h – Tempo de Brincar (Sorocaba/SP)
18h – Geraldo Amâncio e Guilherme Nobre (Fortaleza/CE)
19h – Mestre Valdeck de Garanhuns (Guararema/SP)

18 de agosto (Sexta-feira)
Teatro
14h – Palestra “Receitando Cordel”
Palestrantes: Paola Torres (Fortaleza/CE), Sávio Pinheiro (Várzea Alegre/CE) e Breno de Holanda (Fortaleza/CE)
         Mediador: Assis Almeida (Fortaleza/CE)

Sala de Ensaio
14h – Oficina de Xilogravura - Facilitador: Sergio Magalhães (Itapajé/CE) – para o público a partir de 14 anos
14h – Oficina de Xilogravura - Facilitador: João Pedro do Juazeiro (Fortaleza/CE) - para o público a partir de 14 anos

Palco Cego Aderaldo
16h – Recital: Evaristo Geraldo da Silva (Alto Santo/CE), Lucarocas (Fortaleza/CE) e Arievaldo Viana (Caucaia/CE)
16h40 – Lançamentos da Cordelaria Flor da Serra com os poetas Arievaldo Vianna, Evaristo Geraldo da Silva, Auri Lopes, Marco Haurélio, Paiva Neves e Orlando Paiva.
17h – Declamação: Dideus Sales (Aracati/CE)
17h30min – Embolada: Marreco e convidado (Fortaleza/CE)
18h15min –“A grande peleja de Benedito com Guilherme Nobre” Mestre Valdeck de Garanhuns (Guararema/SP)
19h15min – Mestre Chico Pedrosa (Olinda/PE)

19 de agosto (Sábado)
Teatro
14h – Palestra “A Literatura de Cordel no panorama brasileiro”
Palestrantes: Jorge Melo (São Paulo/SP), Marco Haurélio (São Paulo/SP), Oswald Barroso (Fortaleza/CE)
Mediação: Eduardo Macedo (Fortaleza/CE)

Sala de Ensaio:
14h – Oficina de Cordel - Facilitador: Rouxinol do Rinaré (Fortaleza/CE) - para o público a partir de 12 anos

Palco Cego Aderaldo:
15h – Recital: Antônio Francisco (Mossoró/RN)
16h – Tempo de Brincar (Sorocaba/SP)
17h – Declamação – Tiago Monteiro (Pocinhos/PB)
17h30min – Francine Maria (Ibiapina/CE)
18h – Show: Canto Cordel - Tião Simpatia (Fortaleza/CE)
18h50min – Eugênio Leandro (Limoeiro do Norte/CE)
19h10min – Mestre Bule-Bule (Camaçari/BA)

20 de agosto (Domingo)
Teatro
14h – Palestra “Cego Aderaldo, o trovador do Nordeste”
Exibição do Filme Cego Aderaldo – o Cantador  e o Mito – Classificação: Livre
Palestrantes: Rosemberg Cariry (Fortaleza/CE), João Eudes Costa (Quixadá/CE) e Arievaldo Viana (Caucaia/CE)
           Mediação: Poeta Orlando Queiroz (Quixadá/CE)

Palco Cego Aderaldo
16h – Chico Pedrosa (Olinda-PE) e Antônio Francisco (Mossoró/RN)
16h30min – Forró pé-de-serra: Kutuka a Burra (Fortaleza/CE)
17h – Canções de Viola: Antônio Jocélio (Fortaleza/CE)
17h30min – Marco Lucena (RJ) e Cacimba de Aluá (Fortaleza/CE)
18h30min – Show de Encerramento: Mestre Bule-Bule (Camaçari/BA)

EXPOSITORES:
1.    ABLC (Rio de Janeiro/RJ)
2.    AESTROFE (Fortaleza/CE)
3.    Arievaldo Viana (Caucaia/CE)
4.    CECORDEL (Fortaleza/CE)
5.    Chico Pedrosa (Olinda/PE)
6.    Cordelaria Flor da Serra (Fortaleza/CE)
7.    Edições Patabego (Tauá/CE)
8.    Editora Coqueiro (Olinda/PE)
9.    Eduardo Macedo (Fortaleza/CE)
10.  Evaristo Geraldo da Silva (Alto Santo/CE)
11.  Francisco Melchiades (Fortaleza/CE)
12.  Francorli (Juazeiro do Norte/CE)
13.  Geraldo Amâncio (Fortaleza/CE)
14.  Guilherme Nobre (Fortaleza/CE)
15.  João Pedro do Juazeiro (Fortaleza/CE)
16.  José Lourenço (Juazeiro do Norte/CE)
17.  Jotabê (Fortaleza/CE) 
18.  Lucarocas (Fortaleza/CE)
19.  Nonato Araújo (Fortaleza/CE)
20.  Olegário Alfredo (Belo Horizonte/MG)
21.  Regina Drozina (Guararema/SP)
22.  Ricardo Evangelista (Belo Horizonte/MG)
23.  Rouxinol do Rinaré (Fortaleza/CE)
24.  Valdeck de Garanhuns (Guararema/SP)
25.  Valentina Monteiro (Campina Grande/PB)
26.  Tupynanquim Editora (Fortaleza/CE)

Serviço:
II FEIRA DO CORDEL BRASILEIRO
Local: CAIXA Cultural Fortaleza
Endereço: Av. Pessoa Anta, 287, Praia de Iracema

Data: De 17 a 20 de agosto de 2017
Horários: Quinta a sábado: 14 às 20h | Domingo: 14 às 19h
Classificação indicativa: Livre

GRATUITO

Atendimento à imprensa:
Helena Félix – (085) 99993-4920 / pontualcomunicacao@gmail.com e
Kiko Bloc-Boris – 
(085) 98892-1195 / kikobb@gmail.com

Assessoria de Imprensa da CAIXA Cultural Fortaleza (CE):
Bebel Medal – (85) 99934-0866
bebelmedal@gmail.com
www.caixa.gov.br/imprensa | @imprensaCAIXA



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COMEÇA HOJE...

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Ilustração: Lincoln (DN)

A festa do cordel

Expoentes da literatura popular participam de feira na Caixa Cultural Fortaleza, com programação gratuita que vai de hoje a domingo (20)

por Roberta Souza - Repórter

A literatura de cordel e outras manifestações artísticas tipicamente nordestinas ganham, a partir de hoje (17), quatro dias para intensa expressão na Caixa Cultural Fortaleza. O cenário contempla logo mais, a partir das 14h, a II Feira do Cordel Brasileiro, com uma programação de shows, oficinas, palestras, lançamentos literários, exibição de documentário, além de exposição e venda de folhetos e outros artigos que dão conta dessa linguagem.

Entre as atrações convidadas estão os músicos-cordelistas Jorge Mello, parceiro musical de Belchior; o cordelista, repentista e sambador Mestre Bule-Bule; o Mestre Valdeck de Garanhuns, bonequeiro, cordelista, repentista e xilogravador; a médica, cantora e cordelista Paola Torres; os grupos Tempo de Brincar; o jovem Rafael Brito e a Rabecaria; dos forrós Kutuca a Burra e Cacimba de Aluá.

O show de repente pela dupla Geraldo Amâncio e Guilherme Nobre, além de muitas declamações pelos cordelistas Chico Pedrosa, Antônio Francisco, Evaristo Geraldo, Lucarocas, Paulo de Tarso, Raul Poeta, Arievaldo Vianna e Tiago Monteiro são outros destaques da programação, cuja curadoria foi realizada por Klévisson Viana. Também curador na Praça do Cordel presente na Bienal do Livro do Ceará, ele reconhece a importância desta para a realização da feira.

"Foi o 'know-how' ao longo de uma década trabalhando com a Bienal que nos deu condições de realizar a Feira do Cordel, inicialmente pensada pequena, mas que já começou grande", observa Klévisson. A primeira edição na Caixa Cultural aconteceu em abril passado, mas antes tinha sido organizada uma também no Dragão do Mar. A contagem de edições pela organização, no entanto, começa a levar em consideração o evento de 2016, e pretende-se dar continuidade pelos próximos anos. "A parceria tem dado super certo", salienta o curador da Feira.

Realizada a partir de uma iniciativa da Associação de Escritores, Trovadores e Folheteiros do Estado do Ceará (Aestrofe), com patrocínio da Caixa Econômica Federal e Governo Federal, e apoio cultural da Tupynanquim Editora, Cariri Filmes, Editora Imeph, Programa A Hora do Rei do Baião e Premius Editora, a Feira do Cordel é também uma ação de resistência em tempos de crise. "Seria impossível fazer esse evento somente com dinheiro. Contamos com know-how, amizades e credibilidade para ela acontecer, mas o orçamento deveria ser três vezes maior do que os 120 mil que usamos", explica Klévisson Viana.

Homenageados


Bule-Bule (BA) e Cego Aderaldo (CE)

Como de costume, alguns nomes serão homenageados pela Feira. Nessa edição, os escolhidos foram o repentista Cego Aderaldo (50 anos de morte), os cordelistas Gonçalo Ferreira (80 anos), Arievaldo Vianna (50 anos), o Mestre Bule-Bule (70 anos), Zé Maria de Fortaleza (60 anos de viola) e o cordelista e xilogravador Mestre José Costa Leite (90 anos de vida e 72 anos de arte).

Da Bahia, o Mestre Bule-Bule demonstra satisfação em vir pela segunda vez ao Ceará este ano, afinal ele também estava na programação da Bienal. A homenagem, um diferencial, foi recebida com entusiasmo e humildade. "É uma satisfação ser de um lugar tão distante - da Bahia ao Ceará são várias divisões de estado, núcleos de grandes poetas e cantadores e escritores - , e meu nome ser bem visto no meio de tantos valores de nobreza poética que tem aí. É uma honra, não tenho palavras no meu fraco vocabulário para descrever tamanha vantagem. Só agradecer a Deus, aos homens e mulheres de boas vontade que me deixam na frente de determinada função", valoriza o mestre.

LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO CADERNO 3 DO DIÁRIO DO NORDESTE

Link: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/a-festa-do-cordel-1.1805485

FEIRA DO CORDEL HOMENAGEIA CEGO ADERALDO

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Hoje, domingo, dia 20 de agosto, a II Feira do Cordel Brasileiro presta homenagem ao famoso CEGO ADERALDO (Aderaldo Ferreira de Araújo), relembrando os 50 anos de sua morte. A partir de 14 horas, no teatro da Caixa Cultural (Avenida Pessoa Anta) será realizada a Palestra “Cego Aderaldo, o trovador do Nordeste” com o cineasta Rosemberg Cariry e os escritores João Eudes Costa e Arievaldo Vianna. O mediador será o poeta Orlando Queiróz. Logo em seguida, haverá exibição do Filme Cego Aderaldo – o Cantador  e o Mito, de Rosemberg Cariri.



ADERALDO FERREIRA DE ARAÚJO - (Crato - 24 de junho de 1878 + Fortaleza  - 29 de junho de 1967)
No dia 29 de julho de 2017, completaram-se 50 anos do desaparecimento daquele que é considerado um dos mais importantes poetas populares nordestinos, Aderaldo Ferreira de Araújo - o famoso Cego Aderaldo. Nascido no Crato (CE), ele veio morar muito jovem na cidade de Quixadá (CE), depois de ficar órfão de pai, empregando-se na estrada de ferro. Cegou aos 18 anos. Trabalhava abastecendo uma caldeira quando tomou um copo de água fria e os olhos estalaram imediatamente, fazendo com que perdesse a visão pelo resto da vida. Comprou então o seu primeiro instrumento e descobriu que sabia fazer versos. Achava humilhante ter que pedir esmolas por isso exerceu diversas profissões: além de cantador foi comerciante e exibia filmes num cinematógrafo lhe presenteado por Ademar de Barros, ex-governador de São Paulo.

20 de agosto (Domingo)
Teatro
14h – Palestra “Cego Aderaldo, o trovador do Nordeste”
Exibição do Filme Cego Aderaldo – o Cantador  e o Mito – Classificação: Livre
Palestrantes: Rosemberg Cariry (Fortaleza/CE), João Eudes Costa (Quixadá/CE) e Arievaldo Viana (Caucaia/CE)
           Mediação: Poeta Orlando Queiroz (Quixadá/CE)

Arievaldo Vianna

João Eudes Costa

Orlando Queiróz



AINDA A PROGRAMAÇÃO... 

Palco Cego Aderaldo
16h – Chico Pedrosa (Olinda-PE) e Antônio Francisco (Mossoró/RN)
16h30min – Forró pé-de-serra: Kutuka a Burra (Fortaleza/CE)
17h – Canções de Viola: Antônio Jocélio (Fortaleza/CE)
17h30min – Marcus Lucenna (RN) e Cacimba de Aluá (Fortaleza/CE)
18h30min – Show de Encerramento: Mestre Bule-Bule (Camaçari/BA)



EXPOSITORES:
1.    ABLC (Rio de Janeiro/RJ)
2.    AESTROFE (Fortaleza/CE)
3.    Arievaldo Vianna (Sertão Central-CE)
4.    CECORDEL (Fortaleza/CE)
5.    Chico Pedrosa (Olinda/PE)
6.    Cordelaria Flor da Serra (Fortaleza/CE)
7.    Edições Patabego (Tauá/CE)
8.    Editora Coqueiro (Olinda/PE)
9.    Eduardo Macedo (Fortaleza/CE)
10.  Evaristo Geraldo da Silva (Alto Santo/CE)
11.  Francisco Melchiades (Fortaleza/CE)
12.  Francorli (Juazeiro do Norte/CE)
13.  Geraldo Amâncio (Fortaleza/CE)
14.  Guilherme Nobre (Fortaleza/CE)
15.  João Pedro do Juazeiro (Fortaleza/CE)
16.  José Lourenço (Juazeiro do Norte/CE)
17.  Jotabê (Fortaleza/CE)
18.  Lucarocas (Fortaleza/CE)
19.  Nonato Araújo (Fortaleza/CE)
20.  Olegário Alfredo (Belo Horizonte/MG)
21.  Regina Drozina (Guararema/SP)
22.  Ricardo Evangelista (Belo Horizonte/MG)
23.  Rouxinol do Rinaré (Fortaleza/CE)
24.  Valdeck de Garanhuns (Guararema/SP)
25.  Valentina Monteiro (Campina Grande/PB)
26.  Tupynanquim Editora (Fortaleza/CE)

Serviço:
II FEIRA DO CORDEL BRASILEIRO
Local: CAIXA Cultural Fortaleza
Endereço: Av. Pessoa Anta, 287, Praia de Iracema
Data: De 17 a 20 de agosto de 2017
Horários: Quinta a sábado: 14 às 20h | Domingo: 14 às 19h
Classificação indicativa: Livre
GRATUITO

Atendimento à imprensa:
Helena Félix – (085) 99993-4920 / pontualcomunicacao@gmail.com e
Kiko Bloc-Boris – (085) 98892-1195 / kikobb@gmail.com

Assessoria de Imprensa da CAIXA Cultural Fortaleza (CE):
Bebel Medal – (85) 99934-0866
bebelmedal@gmail.com
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II FEIRA DO CORDEL

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MOMENTOS MARCANTES DA II FEIRA DO CORDEL BRASILEIRO - CAIXA CULTURAL

 Palestra sobre o CEGO ADERALDO


Homenageados da II Feira do Cordel Brasileiro


Palestra sobre o Cego Aderaldo



Show de Jorge Mello




Marcus Lucenna, Jorge Mello e Chico Salles


Com Raymundo Neto, Chico Salles e Jorge Mello

 João Miguel e Juliana vendendo cordel

Com meus pais Evaldo Lima e Hathanne Vianna. Também na foto:
Klévisson Vianna, Maria Clara e Paula Torres.





COXA & SOBRECOXA

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"Transformam o país inteiro num puteiro,
pois assim se ganha mais dinheiro..."
(O tempo não para - Cazuza)

PREGAÇÕES DE FREI 
MANÉ MAGO NO DESERTO


Frei Mané Mago de Jurema e seus discípulos peregrinavam pelo Sertão Central da Galiléia, rumo à terra dos Monólitos, onde deveriam esperar a chegada do Cavaleiro da Esperança. Sua marcha foi interceptada bruscamente por meia dúzia de Coxinhas e Fariseus, todos com aspecto alucinado e espumando de ódio, parecendo estarem possuídos por espíritos malignos.
Um dos Fariseus, que parecia liderar o minguado grupo de gatos pingados, tremendo visivelmente os dedos e a boca, adiantou-se da comitiva e bradou:
— Sabeis que não temos ladrão de estimação e que desejamos ver todos os gatunos na cadeia! Com os poderes do Sinédrio Curitibano, haveremos de ver o vosso chefe apodrecer detrás das grades! Afinal de contas, a culpa é do PT! Desde que a serpente tentou a nossa Mãe Eva no Jardim do Éden, desde quando o Criador resolveu mandar o Dilúvio, desde quando a humanidade ergueu a Torre de Babel, a culpa é desse maldito partido. Não duvido que tenham sido responsáveis pela extinção dos dinossauros!
Mestre Mané Mago retrucou, simplesmente:
— Que tendes vós conosco? Que vos importa o que fazemos ou deixamos de fazer? Vós que enfiastes as panelas no rabo, por que não botam a viola no saco?
— No rabo? Disse um deles pálido de raiva...
Frei Mané Mago, lembrando-se do Padre João, de “O Auto da Compadecida”, sorriu e lhes disse:
— Desculpe, eu deveria ter dito "na CAUDA". Deve-se respeito aos enfermos, mesmo que sejam da mais baixa qualidade.

* * *

Os Fariseus ficaram a ponto de explodir e começaram a dirigir toda sorte de imprecações contra Frei Mané Mago e seus discípulos. Querendo pôr termo à infrutífera querela, o Mestre os repreendeu brandamente:
— Acalmai-vos, meus irmãos. Jamais ouvi algum de vós clamar pela prisão dos golpistas, dos vendilhões da pátria, sobretudo do Cheira-Pó das Gerais ou de seu amigo dono do Helifanta.
— Helifanta?  Que diabos é Helifanta? – Perguntou um dos Coxinhas, ao que o mestre explicou prontamente:
— Então não sabíeis que está proibido chamar o tal helicóptero da “esparrela” pelo nome daquele outro refrigerante. Doravante o chamaremos de Helifanta, Helipepsi, Helipóptero e o que mais nos vier à cabeça.
Os paneleiros se entreolharam confusos. Alguns já demonstravam claros sinais de arrependimento, mas por pudor, não tinham coragem de assumir. Apenas um deles disse timidamente:
— Saiba que já mandamos o GOLPISTA para a China...
 Outros, por serem totalmente néscios, teimavam ainda com redobrado furor. Aos que se arrependeram, o Mestre aconselhou nesses termos:
— Diz a lenda que o PANELEIRO que passar SETE DIAS calado, sem estrebuchar nas redes sociais, sem ofender o seu próximo e sem repetir o discurso vazio que há muito perdeu a validade, será perdoado por todas as cagadas que praticou.

* * *

Ora, bem sabia o Mestre que um Paneleiro é incapaz de passar SETE MINUTOS em silêncio, quanto mais SETE DIAS. Ao terminar sua prédica, Frei Mané Mago retomou o seu caminho, seguido por seus discípulos, enquanto os Coxinhas tentavam arrebanhar outros gatos pingados para sua diminuta caravana.
Ao se afastarem do local daquele encontro indesejável, um discípulo de Frei Mané Mago adiantou-se e perguntou:
— Mestre, eles estão cegos? Estão surdos? Estão loucos? Não percebem a desgraça que trouxeram sobre o nosso país.
O mestre suspirou e respondeu desolado:
— Em verdade, em verdade vos digo: os COXINHAS estão amando isso aí. A raiva deles era ver pobre andando de avião, empregada doméstica falando em “meus direitos”, filho de preto na universidade... Ver pobre doente, sofrendo numa fila de hospital, leva qualquer paneleiro a um orgasmo múltiplo. Ver pobre sendo enxotado, maltratado e perseguido é um bálsamo, um colírio para os olhos de um Coxinha Fascista.
— Será possível? Disse Frei Candonga. O Mestre prosseguiu:
— Lascado mesmo é o COXINHA POBRE, que não se reconhece como tal. Aquele que foi manipulado pela mídia e iludido pelo pato amarelo. Que continua teimando, que ainda estrebucha porque não caiu a ficha...  Aquele miserável que foi uma vez à Flórida, outra ao Paraguai e já pensa que é rico. Usa roupa importada (de procedência duvidosa), anda de Hi-Lux (que comprou fiado) e mora de aluguel, na base do VIVA O LUXO e MORRA O BUCHO!
Frei Cancão de Fogo não se conteve e o VERBO se fez látego:
— Esse merece pagar dobrado. Mas o COXA verdadeiro, aliás aquele SOBRECOXA que tem pedigreee bala na agulha, que possui dinheiro mal adquirido num banco da Suíça, esse gosta mesmo é de ver o país do jeito que está... Trabalhador com direitos aviltados, subtraídos e solapados. Aumento do preconceito contra negros, nordestinos, homossexuais e outras minorias. Esse Fariseu não vai mais às ruas, não reclama de nada, fechou-se em copas. Colhe os frutos de sua plantação: Abandono dos programas sociais, venda das estatais. Enfim, os Três Poderes nadando na podridão enquanto ele nada em rios de dinheiro.
Frei Mané Mago, ombros caídos, vista perdida na imensidão do horizonte, concluiu deste modo:
— Os papangus que vistes ainda há pouco, é um substrato dessa raça que se julga superior. Meros idiotas que almejam adentrar nesse panteão de mentiras. Pobres diabos iludidos pelo canto da Sereia do Capitalismo. Em verdade, em verdade vos digo. É mais fácil uma baleia adaptar-se às areias do Saara que um desses pobres paneleiros arrepender-se. Acho até mais viável o Satanás ter piedade e compaixão pela humanidade, que um desses admitir que está errado.


Extraído dos manuscritos de Frei Cancão de Fogo do Amor Divino

O BAÚ NA IMPRENSA

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LANÇAMENTO DO LIVRO "O BAÚ DA GAIATICE"

Há 18 anos (maio de 1999) fizemos o lançamento do livro O BAÚ DA GAIATICE no Pirata Bar da Praia de Iracema, com show do humorista Hiran Delmar e presença maciça dos amigos. O livro já está na terceira edição, totalizando uma tiragem de 5 mil exemplares.


Matéria de capa no tablóide HOJE, que circulava em Fortaleza.

CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR

O BAU DA GAITICE
3ª Edição / Editora Assaré
Crônicas e poesia popular
220 páginas

PEDIDOS: acordacordel@hotmail.com

Pregações de Frei Mané Mago

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FREI MANÉ MAGO E A ‘SANTA’ INQUISIÇÃO DE CURITIBA

Charge de Gervásio (gentilmente cedida pelo autor)

(ONDE COMPARA PALOCCI A GALILEU E PAPILLON)

“Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para que não as pisem com os pés e, voltando-se, vos dilacerem.” (Mt 7. 6)

Frei Mané Mago meditava sob um pé de jucá, do qual pretendia extrair madeira para um cajado (pau de dar em doido), quando viu aproximar-se um alvoroçado Fariseu, completamente doutrinado pela mídia. O néscio chegou proclamando em altos brados o conteúdo da delação de Antônio Palocci. O velho asceta baixou o capuz de seu hábito e permaneceu ensimesmado, sem dar atenção à predica profana do dito fariseu, mas este, não se contendo, puxou-lhe pela manga de suas vestes e repetiu novamente a ladainha que lhe fora ensinada por William Bonner.
Frei Mané Mago, que não esperava tamanha ousadia, não pôde se conter e o rebateu deste modo:
— Oh, miserável COXINHA, quem vos consentiu tamanha ousadia? Tu que és feito de massa de manobra e recheado de carne de pato amarelo, não tendes respeito pelo próximo?
E dando às costas ao importuno, começou a instruir os seus discípulos desse modo:
— Quem tiver ouvidos que ouça. E quem possuir conta no facebook, e souber de minha prédica através das redes sociais, leia estas palavras até o fim e tire as suas próprias conclusões... Se algum de vós já lestes “O Grande Inquisidor”, texto do imortal Fiódor Dostoievski, deve saber perfeitamente que tipo de gente infesta o Sinédrio de Curitiba. Lembrai-vos do que dizia Frei Zé Ramalho da Paraíba “Em seus papiros, Papillon já me dizia, que nas torturas toda carne se trai”. Existe tortura mais cruel que a tortura psicológica?
Ora, meus amigos, se até o sábio Galilei Galileu curvou-se perante o "Santo Ofício', humilhou-se perante à "Santa Inquisição" para se livrar da fogueira, o que dizer do ex-ministro Antônio Palocci perante o Sinédrio de Curitiba?
Imaginem o seu estado emocional, preso, confinado, humilhado, aviltado, pressionado e tentado pela promessa de ser premiado com a redução da pena e ainda ganhar, de lambugem uma caixa de BATOM GAROTO. Diariamente ele ouvia o mantra - ENTREGUE O LULA, COMPRE BATOM, COMPRE BATOM, COMPRE BATOM... DELATE O LULA, QUE SERÁ BOM, QUE SERÁ BOM, QUE SERÁ BOM. É preciso que o cara tenha sangue no olho. É preciso que tenha a fibra dos SETE IRMÃOS MACABEUS de que nos fala o ANTIGO TESTAMENTO para aguentar tanta pressão sem ceder.

* * *


Galileu frente ao tribunal da inquisição romana, pintura de Cristiano Banti

E, pondo-se de pé, sacudiu o pó da manga de seu hábito, onde o fariseu o havia tocado. Então, elevando o tom de voz, concluiu a sua prédica dessa maneira:
— COXAS & MORTADELAS, antes de fazerem os vossos julgamentos, se ponham no lugar do PALOCCI, assim como os Macabeus estiveram sugigados diante do Rei Antíoco. Melhor dizendo, ponham-se no lugar de Barrabás perante o Sinédrio de Jerusalém. Para se salvar, Barrabás sabia perfeitamente que alguém teria que PAGAR O PATO em seu lugar.
Frei Cancão de Fogo do Amor Divino, que havia registrado seu discurso num pergaminho estampado na tela de um tablet,perguntou ao mestre se poderia postá-lo na internet.
O mestre assentiu, porém preveniu os seus discípulos assim dizendo:
— Vigiai, irmãos. Se algum COXA amigo, que você ainda não baniu do seu círculo de amizades nas redes sociais por motivo de consideração, postar uma asneira qualquer e cairdes em tentação, ou seja, se cometerdes a estultícia de rebater, sabei desde já que uma matilha de COXAS e SOBRECOXAS cairá ferozmente sobre ti, uivando e ganindo como uma horda de lobos esfaimados, dispostos a estraçalhar-vos e comer o teu fígado. Portanto, caríssimos, orai e vigiai, pois não sabeis o dia e nem a hora que um COXA poderá vos atacar.  Frei Xexéu de Bananeira, um inspirado repentista que acompanhava atentamente as pregações de Frei Mané Mago, percebeu que já era quase meia-noite e para não ser molestado pelos Fariseus compôs esse martelo agalopado:

— Se um COXINHA por acaso me insultar
E contar ter por certo uma medalha
Não encara o meu cavalo de batalha
O seu estro não pode prosperar
A espada do meu verso há de brilhar
Tudo aquilo que a impede eu esfacelo
Canto o brilho, canto o bravo e canto o belo
Sou poeta sem jamais sair da linha
Porém verso, tortuoso de COXINHA
Meia noite só respondo em MARTELO.


(Dos velhos manuscritos de Frei Cancão de Fogo do Amor Divino)

PREGAÇÕES DE MANÉ MAGO

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REFLEXÕES DE FREI MANÉ MAGO
SOBRE A “CURA GAY”

Palavras extraídas do breviário de 
Frei Cancão de Fogo do Amor Divino

“Somente quem desconhece a História se surpreende com as burrices da HUMANIDADE.”
Frei Mané Mago de Jurema

Para quem se descabela nas redes sociais contestando a famigerada “cura gay” eis algumas dicas de Frei Mané Mago de Jurema, recolhidas por seu fiel discípulo Frei Cancão de Fogo do Amor Divino. Para entender o assunto é preciso cortar o nó górdio da burrice com a mesma ousadia e petulância de Alexandre, o Grande, aquele de quem os detratores afirmavam ter sido uma grande bichona. Num inspirado sermão, disse Frei Mané:

Cura Gay foi a coisa mais imbecil que ouvi nos últimos dias, mas nada disso me surpreende sabendo das reais intenções de quem a promove e dos caroços que existem por baixo desse angu. Ora, como diz o verso daquela canção, "qualquer maneira de amar vale a pena". Mais importante é ser feliz.

Depois da teoria da terraplana, eis que vem à tona essa história de "cura gay". Percebe-se que, para se livrarem do achincalhamento público, os golpistas de plantão criam mil obstáculos, mil e uma armadilhas para os internautas incautos, capazes de acreditar no  Cão da Itaóca, no Bicho da Água Verde e no Monstro do Lago Ness. Esse é o nó górdio das redes sociais e quem não é tolo pode ver. A intenção é clara como um dia de sol: desviar o foco da luta mais urgente e necessária desses tempos sombrios.


Alexandre, o Grande e o nó górdio


Disse ainda, Frei Maguim:

— Para pegar o seu cavalinho de sela de madrugada, o sertanejo usava uma cuia de milho. O cavalo, suspeitando de uma longa e enfadonha viagem, da ausência prolongada, amoitava-se na capoeira. O dono não se dava por vencido. Mandava um menino de confiança, um cabrito desempenado, pegar o mandrião. O menino, sabedor das manhas do equino, balançava a cuia de milho, chamava o bicho pelo nome e... Por mais arisco que fosse, o cavalo vinha comer na palma da mão. Tendo milho a coisa funciona.
Sem milho, Incitatus, o cavalo de Calígula, não teria aceitado jamais o cargo de Senador de Roma. Infelizmente, nos dias de hoje, a coisa continua do mesmo jeito!


Calígula e seu cavalo Incitatus

O cabra velho Temeroso usa do mesmo artifício com deputados e senadores, como se o povo brasileiro fosse um LOTE DE BESTAS. Pega o cavalo na hora que bem entende, usando espigas de milho superlativas e seus meninos de mandado. São malas e malas de milhões! Enquanto isso, o lote de bestas continua pastando nas redes sociais, preocupados com a "polêmica do dia"...

Por mais justo que seja o seu protesto, por mais nobre que seja a sua causa, não perca o foco. Não se deixe embaraçar pelos nós górdios dos golpistas, tampouco pelas cuias de milho do cabra velho.

Bem dizia a minha finada avó: — Quem tem besta, não compra cavalo. Se para bons entendedores meias palavras bastam, acho que Frei Mané Mago falou mais do que devia. O importante é não perder o FOCO, não desencontrar o fio da meada. Nesse momento, mais que tudo, a palavra certa é FORA TEMER! FORA GOLPISTAS! Palavra da perdição.

FIM DO MUNDO VEM AÍ

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Gravuras do mexicano José Guadalupe Posada

"CURA GAY" e "TERRA PLANA":
ISSO É MESMO O FIM DO MUNDO!

 Para quem acredita em “Cura Gay”, “Teoria da TERRAPLANA”, “Perna Cabeluda” e na honestidade dos inquisidores de Curitiba tudo é possível! A palhaçada da vez é uma teoria conspiratória que afirma que o mundo acabará amanhã (23 de setembro de 2017), espatifado por um planeta chamado NIBIRU. Não duvido da existência de tal planeta porque o mesmo  já era assunto dos astrônomos da velha Mesopotâmia uns 6 mil anos antes de Cristo. Como os habitantes da Mesopotâmia foram os inventores da CERVEJA, eu não duvido, jamais, da sabedoria desse povo.

Essa  história de FIM DO MUNDO é tão antiga quanto a própria história da humanidade. Em  1900 não se falava noutra coisa. Em 1999 também. É próprio do ser humano alimentar temores, receios e fascínio pelo desconhecido. O dilúvio bíblico, por exemplo, é descrito por quase todas as civilizações. Pode mesmo ter havido um tsunami no Crescente Fértil que dizimou as civilizações então existentes. Os cientistas (que são criaturas entendidas) não duvidam disso.

Leandro Gomes de Barros, o primeiro sem segundo da Literatura de Cordel, riu a bandeiras despregadas quando lhe disseram que o Cometa de Halley iria exterminar a vida na terra em 1910. A sátira do velho poeta de Pombal continua atualíssima, pelo visto.

* * *


O Cometa de Halley, um dos corpos celestes mais famosos na história da astronomia, sempre visto com medo e desconfiança pelas pessoas simplórias do mundo inteiro, passou a ser mais temido a partir de 1881. Não era exatamente o medo de que ele viesse a se chocar com a Terra. O que aconteceu é que um astrônomo descobriu que a cauda de todos os cometas contém um gás letal chamado cianogênio. Essa onda de pânico, alimentada pela imprensa sensacionalista da época, aumentou ainda mais depois que descobriram que o Halley passaria pertinho da Terra em 1910 – o cometa passa a cada 76 anos e cruzou a órbita terrestre novamente em 1986.  Até jornais importantes, como o New York Times, lançaram teorias que toda a humanidade morreria envenenada pelo gás. Foi preciso que cientistas de bom senso analisassem a questão com mais clareza, a fim de acalmar as pessoas, garantindo que a cauda dos cometas, na verdade, é formada por vapor d’água e um pouquinho de hélio e amoníaco, e que nessas quantidades não fazem mal a ninguém. E, de fato, nenhuma tragédia aconteceu quando da passagem do famoso viajante espacial.

Como se vê, o pânico se instaurou em todo o planeta e foi alimentado pela imprensa sensacionalista. Não se tratava, portanto, de um ataque de histeria coletiva das populações do Nordeste, sempre vistas como atrasadas e supersticiosas. O poeta Leandro Gomes de Barros estava a par do assunto desde sempre. Ele viajava constantemente nos trens da Great Western, participava das rodas de conversas no Largo das Cinco Pontas e no Mercado São José, lia também os jornais, revistas e almanaques que circulavam no seu tempo. Em suma, viu nesse episódio um tema para uma deliciosa sátira, onde esbanja a sua finíssima ironia e sarcasmo:


Eu andava aos meus negócios,
Na cidade de Natal,
No hotel que hospedei-me
Apareceu um jornal,
Que dizia que no céu
Se divulgava um sinal.

O sinal era o cometa
Que devia aparecer,
Em Maio, no dia 18
Tudo havia de morrer,
Aí sentei-me no banco,
Principiei a gemer.

Gemi até ficar rouco
Fiquei logo descorado,
Depois o sangue subiu-me
Que fiquei quase encarnado,
Imaginando n’um livro
Que um freguês levou fiado.

Encontramos numa tese acadêmica da PUC/RJ, intitulada “O cometa do fim do mundo: Ciência e superstição na imprensa carioca de 1910”, de Maria Elisa Bezerra de Araujo, algumas considerações do astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão sobre a passagem do famoso cometa no início do Século XX. Na sua análise, as expectativas dos cientistas no início do século com relação à aparição do Halley era de que não houvesse mais reações de medo. Segundo o autor, depois que Edmund Halley, em 1695, descobriu que os cometas obedeciam a leis da física e estabeleceu o ciclo do cometa que leva seu nome, “acreditou-se que todo o temor em relação aos cometas deveria cessar numa civilização racional e tecnologicamente desenvolvida”. No entanto, prossegue Mourão, o que se constatou foi que por todo o mundo surgiam manifestações de pânico. O astrônomo afirma ainda que “a despeito de todo o avanço científico, o homem ainda mantém todo um universo de sentimentos e expectativas onde os cometas continuam a ser mais que astros catalogados astronomicamente, pressagiando desgraças ou renovando esperanças”.

Leandro não embarca nessa onda de histeria coletiva. Além de não levar a sério esse temor infundado, vale-se de sua irreverência e bom humor para criticar a usura dos ingleses e comerciantes, que se apressam em cobrar as dívidas dos seus fregueses antes do “fim do mundo”. É salvo, com toda família, graças a uma poderosa oração, recitada em prosa no final do poema, e o providencial auxílio de uma bendita panelada e um garrafão de sua bebida predileta, a famosa “aguardente Imaculada”, do engenho do Sr. Láu. Trata-se, evidentemente, de um dos melhores folhetos “jornalísticos” do mestre de Pombal-PB.

A esse respeito é importante observar o que escreveu o pesquisador cearense Francisco Cláudio Alves Marques em seu livro “Um pau com formigas ou o Mundo às avessas” (Edusp, 2014): “Geralmente, na literatura de cordel, as histórias em torno do tema da cachaça têm valor como comentário sobre a moralidade do álcool e os costumes da sociedade. Contudo, em Leandro Gomes de Barros, a bebida é concebida como um dos prazeres da vida e não como um vício; válvula de escape e pretexto para que se digam as verdades mais contundentes sobre o sistema e seus representantes”. O autor enxerga neste e noutros poemas de Leandro traços de uma “festa dionisíaca”.

(Arievaldo Vianna)



O COMETA
Leandro Gomes de Barros (escrito em 1910)



Caro leitor vou contar-lhe
O que foi que sucedeu-me,
O medo enorme que tive,
Que todo corpo tremeu-me,
Para falar a verdade
Digo que o medo venceu-me.

Eu andava aos meus negócios,
Na cidade de Natal,
No hotel que hospedei-me
Apareceu um jornal,
Que dizia que no céu
Se divulgava um sinal.

O sinal era o cometa
Que devia aparecer,
Em Maio, no dia 18
Tudo havia de morrer,
Aí sentei-me no banco,
Principiei a gemer.

Gemi até ficar rouco
Fiquei logo descorado,
Depois o sangue subiu-me
Que fiquei quase encarnado,
Imaginando n’um livro
Que um freguês levou fiado.

Disse ao dono do hotel:
Senhor eu estou resolvido,
Antes de 20 de Maio,
Nosso mundo é destruído,
Visto não durar um mês,
Não pago o que tenho comido.

A dona da casa disse-me:
O senhor está enganado,
Se eu for para o outro mundo,
O cobre vai embolsado,
Eu subo, porém em baixo
Não deixo nada fiado.

Me resolvi a pagar,
Foi danado esse processo,
Não paguei, tomaram à força,
O que é verdade, confesso,
Se havia de morrer de desgraça
Antes morrer de sucesso.

Tratei de tomar o trem
E seguir minha viagem
Disse: - Vai tudo morrer
Para que comprar passagem?
Inglês vai perder a vida,
Perca logo essa bobagem.

O condutor perguntou-me:
- Sua passagem, onde está?
Eu disse: - Na bilheteira,
Quando eu vim, deixei-a lá.
Não comprou? – perguntou ele,
Pois paga o excesso cá!

Eu lhe disse: - Condutor,
O mundo vai se acabar,
Para que quer mais dinheiro,
É para lhe atrapalhar?
A mortalha não tem bolso,
Onde é que o pode levar?

Chego em casa muito triste,
Achei a mulher trombuda,
Perguntei: - Filha, o que tem?
Respondeu-me, carrancuda:
- Ora, a 18 de maio
O mundo velho se muda!

Perguntei: - Tem jantar pronto?
Venho com fome e cansado,
Desde ontem, respondeu-me,
Que o fogão está apagado,
Devido a esse cometa
Não querem vender fiado.

Eu estava tirando as botas
Quando chegou um caixeiro,
Esse vinha com a conta,
Que eu devia ao marinheiro,
Eu disse: - Vai morrer tudo,
Seu patrão quer mais dinheiro?

Fui falar um fiadinho,
Que eu estava de olho fundo,
O marinheiro me disse:
- Já por ali, vagabundo!
Eu disse: - Venda Seu Zé,
Que eu pago no outro mundo!

A 19 de maio,
Quando acabar-se o barulho,
Eu hei de ver vosmecê
Que o senhor vai no embrulho,
Só se esconder-se aqui
Debaixo de algum basculho.

Quero 10 quilos de carne,
Uma caixa de sabão,
Quatro cuias de farinha,
Doze litros de feijão,
Quero um barril de aguardente,
Açúcar, café e pão.

Manteiga, azeite e toucinho,
Bacalhau e bolachinhas,
Vinagre, cebola e alho,
Vinte latas de sardinhas,
Duas latas de azeitonas,
Umas dezoito tainhas.

O marinheiro me olhou,
E exclamou: - Oh! Desgraçado!
Então inda achas pouco
Os que já tens enganado,
Queres chegar no inferno,
Com isso mais no costado?

Eu disse: - Meu camarada,
Isso é questão de dinheiro,
Ganha quem for mais esperto,
Perde quem for mais ronceiro,
Aonde foram duzentos
Que tem que vá um milheiro?

Perguntei ao marinheiro:
— Não faz o fiado agora?
O marinheiro me disse:
— Vagabundo vá embora!
Eu lhe disse: — Pé de chubo,
Você morre e está na hora.

Voltei e disse à mulher:
— Minha velha, está danado.
O cometa vem aí,
De chapéu de sol armado,
Creio que no dia 18,
Lá vai o mundo equipado.

Deixe ir lá como quiser,
A cousa vai a capricho,
Comer, nem se trata nel,
Nossa roupa foi ao lixo,
Vamos ver se lá no céu
Tem onde matar-se o bicho.

Fui onde vendiam fato,
Comprei uma panelada,
Comprei mais um garrafão
De aguardente imaculada,
Disse a mulher: - Felizmente,
Já estou de mala arrumada.

A 17 de maio,
A fortaleza salvou,
Eu comendo a panelada
Que a velhinha cozinhou,
Quando um menino me disse:
- Papai, o bicho estourou!

Aí eu juntei os pratos,
Embolei todo o pirão,
Botei o caldo num pote,
Peguei-me com o garrafão,
Me ajoelhei, rezei logo,
O ato de contrição.

A mulher disse chorando:
- Meu Deus, fica a panelada.
Disse o menino: - Papai,
Onde está a imaculada?
Eu disse: - Filho sossega,
Aqui não me fica nada.

E me ajoelhando aí,
Tratei logo de rezar
O ato de confissão,
Senti um anjo chegar
Dizendo reze com fé
Ainda pode escapar.

Aí disse eu:

— Eu beberrão me confesso a pipa, a bem-aventurada imaculada de Serra Grande, ao bem-aventurado vinho de caju, a bem-aventurada genebra de Holanda, vinhos de frutas, apóstolos de deus Baccho, e a vós, oh caxixi que estais à direita de todas as bebidas na prateleira do marinheiro.
Amém.

Quando eu acabei de orar,
Olhei para amplidão,
Ouvia dançar mazurca,
Cantar, tocar violão,
Era um anjo que dizia:
- Bravos de tua oração!

Aí um anjo chegou,
Com uma túnica encarnada,
Disse: - Sou de Serra-Grande,
De uma fazenda falada,
Eu sou o que cerca o trono
Da gostosa imaculada.

Sr. Láu, o proprietário,
Do reino onde ela mora,
Me mandou agradecer-lhe,
A súplica que fez agora,
Aí apertou-me a mão
E lá foi o anjo embora.

Aí eu disse: Mulher,
Visto termos nos salvado,
Desmanchemos nossas trouxas,
Já estava tudo arrumado,
Toca comer e beber,
Foi um bacafu danado.

FIM

ATENÇÃO!

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(Preços atualizados – 2017)

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DIA DO NORDESTINO


"Sou o coração do folclore nordestino 
Eu sou Mateus e Bastião do Boi Bumbá 
Sou o boneco do Mestre Vitalino 
Dançando uma ciranda em Itamaracá..."


Leão do Norte - Lenine

"O sertanejo (nordestino) é, antes de tudo, um forte", já escrevia o fluminense Euclides da Cunha no seu clássico Os Sertões. Neste domingo (08/10) é comemorado o Dia do Nordestino, sinal de uma resposta positiva aos inúmeros preconceitos que essa população ainda sofre por parte de uma minoria supostamente elitizada, fascista e desinformada, sobretudo no Sudeste e no chamado Sul maravilha.

Ilustração: William Jeovah - PB


Basta um rápido olhar na contribuição que o Nordeste tem dado para o país no campo das artes, em especial na Literatura, para conhecermos o potencial dessa raça forte e guerreira da Nação Nordeste, berço de Jorge Amado, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, João do Vale, Marinês, Gordurinha, Evaldo Gouveia, Gilberto Gil, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Rachel de Queiróz, Coelho Neto, Humberto de Campos, Gonçalves Dias, José de Alencar, Câmara Cascudo, Leonardo Mota, Celso Furtado, Gilberto Freire, Ariano Suassuna, Joaquim Nabuco, Fagner, Patativa do Assaré, Leandro Gomes de Barros, Zé da Luz, Lucas Evangelista, Ivanildo Vila Nova, Geraldo Amâncio, Rosemberg Cariri, Cego Aderaldo, Chico Anysio, Cassiano, Xangai, Ednardo, Amelinha, Belchior, Zé Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Raul Seixas, só para citar uma pequena parcela dos nossos talentos. VIVA O NORDESTE, VIVA O POVO NORDESTINO!


FAMÍLIA SOUZA-VIANNA, no Brasil desde o descobrimento e no Ceará desde o Século XVIII. Somos todos MESTIÇOS - brancos, índios, negros e orientais - mouros e judeus, somos a amálgama de todas as raças. Não somos "quatrocentões" nem "arianos", nós habitamos o planeta desde que o mundo é mundo. SOMOS BRASILEIROS, acima de tudo. VIVA O POVO BRASILEIRO.

MINHA ESCOLA DA INFÂNCIA

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Nessa casinha funcionou a escola onde recebi as melhores lições desta vida.

Hoje, 12 de outubro, Dia da Criança, resolvi prestar uma homenagem às minhas professoras da infância, em especial à minha tia Heliodória, responsável pela minha educação entre os anos de 1975 e 1977. Dedico essa crônica a todos os meus companheiros de escola: Oswaldo, Marquinhos, Totonho, Walberto, Dário José, Evaldo, Ana Clara, Vânia, Isabel Cristina, Marly e Joana D'Arc Calixto (in memórian). Vejam se está no prumo:


Minha querida professora, Heliodória de Sousa Lima (Dodóia)


DECIFRANDO O BÊ-A-BÁ

(A ESCOLINHA DA ‘DODÓIA’)

Aprendi em casa as primeiras letras, motivado, principalmente, pelo desejo de ler ‘versos’ e ‘romances’, nomes pelos quais a minha avó conhecia os folhetos de Literatura de Cordel. Os meus prediletos eram Juvenal e o Dragão, Princesa da Pedra Fina, A vida de Cancão de Fogo e o seu testamento, A chegada de Lampião no Inferno e As proezas de João Grilo.Desde os cinco anos (ou antes disso), eu prestava muita atenção nas leituras que minha avó fazia em voz alta, para uma roda de ouvintes, à luz de um lampião a gás. De tanto pedir que ela repetisse tais leituras (quase sempre os mesmos títulos) ela resolveu que já era tempo de me alfabetizar.
Trouxeram uma Carta de ABC daquelas antigas, de Landelino Rocha, onde se aprende inicialmente o alfabeto maiúsculo, depois o minúsculo e, finalmente, começa-se a juntar as sílabas. Eu estava tão empenhado nisso que aprendi em pouco tempo. Minha avó tinha umas técnicas interessantes. Uma delas era pegar uma folha de papel em branco, fazer um pequeno orifício no centro, por onde se avistasse somente uma letra da cartilha, para que o menino a reconhecesse sem associá-la com as letras vizinhas. Mais tarde, quando eu já estudava com minha tia Heliodória, tinha dificuldade de decorar a sequência correta dos planetas do Sistema Solar, tendo por base a distância de cada um em relação ao Astro Rei. Ela me repassou uma fórmula infalível, que aprendera no colégio das freiras, em Canindé:
Meu filho, é muito simples. Decore esta frase: “Minha Velha Traga o Meu Jantar. Sopa, Uva, Noz e Pão. Minha = Mercúrio, Velha = Vênus, Traga = Terra, Meu = Marte, Jantar = Júpiter, Sopa = Saturno, Uva = Urano, Noz – Netuno e Pão = Plutão.


Vó Alzira

Hoje em dia os astrônomos acharam por bem retirar o pão do jantar, certamente para diminuir as calorias da refeição planetária. Ou, quem sabe, por contenção de despesas, já que se fala tanto em crise atualmente. Eu, de minha parte, não acho que uvas e nozes sejam um bom acompanhamento para um jantar a base de sopa. Prefiro o pão.
Vovó costurava e dava aulas ao mesmo tempo. Passava a lição e voltava para a sua máquina de costura. Quando não podia me acompanhar na tarefa, incumbia minha tia Augediva desse mister. Havia uma escola na casa velha da Morada Nova mas eu não frequentava, porque além de ser distante, diziam que por lá ainda persistia o velho castigo da palmatória e minha tia não queria me expor a esse vexame.

* * *

Pois bem. Depois que “desasnei” nessa escola caseira e bem informal, fui encaminhado à escola da Terezinha Terceiro de Araújo, uma moça contratada pela Prefeitura de Quixeramobim para manter uma escola chamada Ismael Pordeus, historiador nascido em nosso município que fez um ótimo livro comparativo da obra de Oliveira Paiva, Dona Guidinha do Poço, com um episódio real ocorrido no século XIX, o crime de Marica Lessa. A Escola Ismael Pordeus existia de fato, mas não de direito. Não tinha prédio próprio. A professora ensinava em sua própria casa, no turno da manhã, e a tarde ensinava outra turma na sala da casa do meu tio José Oswaldo que era bem ampla e espaçosa, iluminada por duas portas e três janelas. Tal iniciativa devia-se ao fato de que metade dos alunos eram filhos do meu tio e os demais sobrinhos ou filhos de amigos que moravam na vizinhança. Isso foi no correr do ano de 1974.
Em 1975 minha tia Heliodória, recém-chegada do Rio Grande do Norte, onde estivera internada em colégio de freiras, resolveu abrir uma escola para ensinar os sobrinhos. Primeiramente funcionava na sala da casa do meu avô, com poucos alunos. Depois passou para uma casinha de taipa que ainda hoje está de pé. Essa casinha servia de escola e moradia, pois ela era recém-casada e nascera-lhe a primeira filha, Clara Artures (que eu chamava de Tuinha), que por sinal é minha afilhada. Digo sem demagogia que foi a melhor escola que frequentei em toda a minha vida, de onde retirei o maior proveito, aliado ao fato de estar perto dos meus, cercado de carinho e atenção.
A professora tinha um jeito doce e maternal para com todos, sem distinção, e pleno domínio das matérias que estudávamos. Tanto que ela reunia na mesma classe alunos do segundo, terceiro e quarto ano letivo, distribuindo as tarefas de cada um, sem perder o fio da meada. Eu e o Marquinhos fomos os únicos que ganhamos apelidos da professora: Dodóia me chamava de borrego preto e o Marquinhos era o borrego melado. Em 1977, a Tuinha, que já aprendera a falar e era uma verdadeira pimenta, já aprendera os nossos apelidos. Também pastorava as pessoas que passavam na estrada para puxar conversa. Uma vez, flagrei o seguinte diálogo da Tuinha com Vanilda, uma moça que morava nos Três Irmãos:
— Ei, Vanilda! Vai pra onde?
— Oi Tuinha, vou ali na bodega...
— Vanilda, passe por aqui, venha tomar um cafezinho.
Ora vejam só, que criança hospitaleira. E olhem que essa pestinha devia ter, no máximo, uns dois anos quando aprontou essa.

Eis a turma que estudava na “Escolinha da Dodóia”, em 1976/77: Totonho, Oswaldo e Marquinhos (filhos do José Oswaldo); Dário José e Walberto (filhos do tio José Viana); Vânia, da tia Mily; Isabel Cristina, da Cleide Viana; Ana Clara e Evaldo (filhos do primo José Augusto Viana); Marly, do Raimundo Viana e Joana D’arc Calixto (Era filha do Antônio Calixto. Faleceu precocemente, vítima de um câncer letal). D'arc era um amor de pessoa, muito simpática, risonha, e tinha um sinalzinho no rosto. Ela, Ana Clara, Vânia e Marly eram todas pré-adolescentes. Deviam ter entre 12 e 15 anos na época. Eu só tinha 8 anos, era um inocente, mas bem que gostava da companhia das meninas. Quantas vezes não suspendi a minha tarefa para me enlevar com o sorriso da Joana D’arc? Os meninos do tio José Viana, Dário e Walberto já pensavam em namoro, eram mais velhos que eu. Na opinião geral, eu ainda fedia a mijo, embora não tivesse o hábito de mijar na rede. Não obstante, todos admiravam a minha inteligência e ótimo desempenho em quase todas as matérias, embora fosse o caçula da classe. Foi, sem sombra de dúvidas, o lugar onde estudei com mais prazer e dedicação em toda a minha vida.
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