Escritores(as) cearenses recomendam obras com lançamento marcado para 2020
Por Diego Barbosa | Verso DN
Entre os livros, constam narrativas políticas, de realismo fantástico, com foco em mulheres e no formato de cordel
Marco Severo, Vanessa Passos, Julie Oliveira e Arievaldo Viana listam pluralidade de títulos
Mais um ano se avizinha e, com ele, múltiplas oportunidades de imersão na literatura. De maneira a fomentar outros mergulhos em 2020, os escritores Marco Severo, Vanessa Passos, Julie Oliveira e Arievaldo Viana recomendam, a convite do Verso, obras que ainda serão lançadas, abarcando títulos que contemplam desde narrativas envolvendo mulheres até realismo fantástico e cordel.
Trata-se de uma forma de estar sintonizado aos novos olhares sobre o setor alimentados em 2019. Numa breve síntese, o ano que se encerra representou dedicação ao ramo, especialmente considerando o contexto cearense, a partir da realização da XIII Bienal Internacional do Livro do Estado.
Repleto de encontros e presenças marcantes, o evento abraçou novas perspectivas de consumo e abordagens literárias a partir de um panorama mais encorpado de ideias e autores(as), com especial destaque para narrativas feitas por negros(as), pessoas da periferia, indígenas, e outros.
Por aqui, a frequência de lançamento de obras também se avolumou, bem como o alcance da atuação das bibliotecas comunitárias. Além disso, projetos como o Chá de Afetos, capitaneado pela Aliás Editora, puderam fomentar reuniões regadas a bastante união, nas quais histórias emergiram como motor para diálogos e bem-vindas trocas.
Por outro lado, a situação amargou para empreendimentos feito a Livraria Lamarca - um dos recantos mais interessantes e de maior resistência do cenário literário de Fortaleza - e as escolas de arte do Estado continuaram a tratar a área de forma bastante aquém do esperado, dificultando que novos e antigos autores(as) pudessem se lançar no mercado.
ABRANGÊNCIA
Num nível macro, as ações do Governo Federal foram pautadas pelo descaso - vide, por exemplo, a extinção do Ministério da Cultura - e pela censura (ainda é fresca na memória o recolhimento de livros com temática LGBTQI+ na Bienal do Rio), fazendo com que as perspectivas para o setor sejam totalmente desanimadoras.
Mas ainda há o que se comemorar. Mesmo num país com baixos índices de leitura, a estimativa de brasileiros que consomem livros passou de 50% para 56%, conforme a última edição da pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil", de 2016. Um novo levantamento deve ser feito no próximo ano, oportunidade para analisarmos avanços e deficiências.
Sendo assim, as listas de obras que você verá a seguir representam passos concretos em direção a uma mudança de panorama. Boas leituras!
Marco Severo (Foto: Isanelle Nascimento)
Romance novo de Valter Hugo Mãe (Porto Editora)
Um dos livros que mais aguardo para 2020 é o já anunciado novo romance de Valter Hugo Mãe, que deve sair em janeiro em Portugal e durante o ano aqui no Brasil. Embora o título ainda não tenha sido revelado, o autor já divulgou que este livro se passará no Brasil e terá como fundo temático os nossos índios. Sendo o autor que é, é de se esperar que Valter Hugo Mãe traga ao leitor mais uma obra atemporal e arrebatadora.
“Oração para desaparecer”, de Socorro Acioli (Companhia das Letras)
Socorro Acioli publicará em 2020 seu segundo romance voltado para o público adulto, o que por si só já é motivo de celebração. Ela abraçou o realismo mágico na literatura brasileira em pleno século XXI, fazendo com que o leitor possa experimentar uma nuance literária que foi tão especial para os escritos latino-americanos entre os anos 60 e 80, revitalizada através da narrativa encantatória que Socorro tem. Seguramente é um dos livros para se prestar atenção em 2020.
“Meninos & outros demônios”, de Pedro Salgueiro (Editora Moinhos)
Pedro Salgueiro é um dos nomes mais importantes da literatura feita no Ceará e o seu livro de contos que acaba de ser lançado (e que terá evento de lançamento em 2020) é uma pequena joia a ser lida e apreciada. Este livro perpassa não apenas os caminhos da infância e do que significa crescer no interior, mas os caminhos dos adultos que nos tornamos, dialogando com aquilo que fomos e o que nos tornamos, o que só a boa literatura é capaz de fazer.
Vanessa Passos
Marco Severo está entre os destaques da literatura cearense com publicação em editora independente. Com muita maestria, passeia entre as narrativas curtas, conto e crônica. É contundente, denso e merece ser lido, tanto o novo livro, quanto os publicados anteriormente.
“Eu mesma, Também Eu Danço”, de Hannah Arendt (tradução de Daniel Arelli) (Relicário)
As reflexões de Hannah Arendt acerca da condição humana e da banalidade do mal trouxeram grandes contribuições para o pensamento moderno, tanto No âmbito social, quanto político. Aguardo com grande expectativa a publicação do livro Eu mesma, Também Eu Danço, de natureza literária, com os seus 71 poemas.
“Todas as Cartas – Clarice Lispector” (Rocco)
Sempre fui fã de Clarice Lispector, coleciono sua obra inteira. Ter acesso a um livro com a compilação de todas as suas cartas será um privilégio para os pesquisadores da obra e para todos aqueles que, assim como eu, também apreciam sua literatura. É uma oportunidade de se debruçar com mais afinco nas inter-relações de Clarice, nos temas e questões de sua importância.
Julie Oliveira (Foto: Patrick Lima)
Antes do famoso “Morte e Vida Severina” que figurou exaustivamente nos livros didáticos de minha época escolar, eu já havia sido fisgada pela “Pedra do Sono” e seu surrealismo, seu pulsar onírico. Ler a obra completa de João Cabral de Melo Neto é reconectar-se com nossas raízes sem limitar-nos o olhar, é entregar-se as possibilidades antitéticas da vida.
“Antologia Contos Inspirados em Orixás do Candomblé”, de Conceição Evaristo, Marcelino Freire, Fabiana Cozza, entre outros (organização: Marcelo Moutinho) (Editora Malê)
Em 2019 me tornei uma obcecada por antologias, talvez pelo fato de finalmente ter compreendido com profundidade a importância e a força da coletividade literária. Na Bienal do Ceará fui arrebatada pela presença física de Conceição Evaristo, e desde então, tudo que já havia lido dela e sobre ela saltaram do meu peito, como um pássaro a voar. Penso que, esta antologia é certamente uma dessas obras que nos suscita o olhar, não apenas pelo conhecimento valioso, mas pelo lugar de destaque, pela honraria a que são dignos os povos africanos.
“Livro sobre Feminismo e Literatura”, de Juliana de Albuquerque (Editora Âyiné)
Em minha determinação de ler mais mulheres, deparei-me com a jovem e genial Juliana de Albuquerque, que dentre outras coisas é colunista do jornal Folha de S. Paulo e doutoranda na University College Cork, na Irlanda. Desde então, além das leituras de suas colunas, estou atenta e interessadíssima em tudo que ela tem escrito, especialmente por sua escrita precisa que disseca temas que muito me interessam, estabelecendo links entre feminismo e filosofia, por exemplo. Suas reflexões sobre a atuação da mulher contemporânea, bem como, seu vasto olhar sob as contribuições de mulheres históricas, tornam os textos de Juliana sem dúvidas, leitura indispensável a todas as mulheres pesquisadoras e escritoras.
Arievaldo Viana
“Infância/ Ganhando meu pão/Minhas Universidades”, de Maksim Górki (tradução de Rubens Figueiredo (Companhia das Letras)
A Cosac Naify, que encerrou suas atividades editoriais em dezembro de 2015, depois de 20 anos no mercado editorial brasileiro, passou parte de seu catálogo para a Companhia das Letras, mas somente agora, em 2020, algumas dessas obras retornarão ao mercado. É o caso da trilogia de memórias do escritor russo Maksim Górki, que virou raridade no Mercado Livre e Estante Virtual, chegando a custar mais de R$ 800,00! Com a reedição da Companhia das Letras, certamente a teremos com preço mais acessível.
“Era uma vez… em cordel”, de Arievaldo Viana (Editora Globo)
Com um jeito genuinamente brasileiro de apresentar grandes contos e fábulas infantis, a coleção "Era uma vez... em cordel", da Editora Globo, ganha um novo título em 2020, que será o quarto da série. Bebendo na fonte dos Irmãos Grimm, associei-me mais uma vez ao ilustrador Jô Oliveira e pegamos um conto pouco divulgado, porém de grande poder narrativo: A Serpente Branca.
Os títulos anteriores são “A peleja de Chapeuzinho Vermelho com o Lobo Mau”, “O coelho e o jabuti” e “João Bocó e o Ganso de Ouro”, este último selecionado pelo MEC através do PNLD.
Biografia Euclides da Cunha, de Luís Cláudio Villafañe G. Santos (Todavia)
O escritor Euclides da Cunha, autor de “Os Sertões”, ganhará uma nova biografia em 2020. O diplomata Luís Cláudio Villafañe G. Santos, autor de um livro sobre a vida do barão do Rio Branco, pela Companhia das Letras, fechou um contrato com a Todavia para uma biografia do escritor. Segundo o autor, as novidades virão do arquivo do Ministério das Relações Exteriores. Em seu livro, Santos aborda a relação de Euclides com o Itamaraty e com o Barão, além de revisar a documentação já conhecida.